Fernando Haddad, ministro da Fazenda, começou o ano segundo a coluna de José Casado, da Veja, disposto a discutir sua relação com uma parte da cúpula Partido dos Trabalhadores, representada por Gleisi Hoffmann, presidente do partido.
O ministro queixou-se em entrevista ao repórter Alvaro Gribel sobre um jogo partidário no qual os resultados considerados favoráveis na condução da economia são celebrados e atribuídos a Lula. A ele, o planejador, o negociador e o executor, sobram críticas — como a do “austericídio”, novidade no léxico político.
O embate Haddad x Gleisi vai muito além do que aparenta nas declarações públicas.
O ministro, por exemplo, acha que a cúpula do seu partido opera com a premissa de que “está tudo errado” na política econômica. A presidente do PT nega, e alega a preocupação se resume à “política fiscal contracionista”.
Eles não estão mentindo. O grupo petista no comando acredita, sim, que está “tudo errado” na economia. Julga perigoso o empenho de Haddad, ainda que formal, para alcançar um mínimo de equilíbrio nas contas públicas, porque o considera um flerte com a recessão. Como insinua a deputada Gleisi Hoffmann, parte da cúpula do PT suspeita que a política de Haddad seja “contracionista”.
Idiossincrasias à parte, ambos não têm alternativas.
Haddad joga o jogo de Lula, o verdadeiro ministro da Fazenda do governo Lula, que em três mandatos e 34 anos de campanhas presidenciais já viu quase tudo, inclusive governos aleijados pela inflação descontrolada por causa de déficits significativos nas contas públicas.
Gleisi Hoffmann comanda o partido de Lula, o mais organizado do país mas que, até agora, não conseguiu uma proposta de política econômica coerente e consistente, como alternativa à de Haddad-Lula. Na crítica pública, ela e os seus trabalham com uma dificuldade extra, inimaginável em outras organizações partidárias: o dogma petista da infalibilidade de Lula. Daí, sobra para Haddad.
Para esse grupo, é oportuno ter e manter Haddad no alvo. O partido começou a debater o “Day after” — na definição do ministro ao repórter Alvaro Gribel — de uma possível aposentadoria de Lula no ofício de candidato permanente do PT à presidência da República. Se isso, algum dia, vier realmente a acontecer.
Pensar sobre essa possibilidade, acha Haddad, “é um desafio”. Grande o suficiente para Gleisi Hoffmann, simplesmente, evitar discuti-lo em arenas públicas. Até porque, se Haddad conseguir demonstrar que seus críticos no PT estão errados sobre a política econômica, ele será um dos nomes inevitáveis na lista de possíveis sucessores de Lula.
Em 2018, Haddad foi candidato do PT à presidência no lugar de Lula, que estava preso. Lançado um mês antes da eleição, obteve um terço dos votos no primeiro turno. Quinze dias depois, na segunda rodada, recebeu 45% da votação.
Seu desempenho surpreendeu políticos experientes, como José Dirceu, antecessor de Gleisi Hoffmann na Casa Civil e na presidência do partido.
Dias atrás, numa reunião em que se discutia o futuro do PT, Dirceu lembrou do episódio. Estava preso em Curitiba e, no segundo turno, chegou a acreditar que Haddad poderia ganhar o páreo. Ambos perderam para Jair Bolsonaro, que na época catalisou o antipetismo.