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quarta-feira 8 de março de 2023 às 09:31h

Embarcadas em plataformas, as mulheres enfrentam barreiras no mar

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A geóloga Sylvia Anjos tinha apenas 21 anos quando derrubou barreiras e conseguiu ser a primeira mulher a embarcar em uma plataforma de petróleo no Brasil. A conquista veio em 1979, mostra reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, quando ela só 26 anos depois da criação da Petrobras e, ainda assim, com ressalvas, diz publicação. Sem permissão para dormir a bordo, ela ia e voltava todos os dias para dormir no hotel, à diferença dos colegas, que tinham quartos próprios no mar. “Mas eu consegui”, diz, orgulhosa.

O trabalho em navios ou plataformas fixas é difícil por si só, com escalas de 14 dias direto no mar e outros 21 em casa. Para além do isolamento e da saudade da família, as mulheres que se aventuram nesse universo enfrentaram problemas adicionais, que vão desde a falta de banheiros, roupas e calçados adequados até casos de assédio moral e sexual.

Embarcada com mais de 100 homens em uma plataforma, a técnica de segurança Jessica Louzada conta que chegou a dormir com uma chave de fenda embaixo do travesseiro após receber telefonemas perturbadores tarde da noite. “O homem falava: ‘Eu sei que você está sozinha’. Ao ouvir isso, você pensa: você já é minoria, já conhece a postura das lideranças. É muito mais fácil falar tira essa menina daqui, para não dar trabalho. Aí a gente se calava, né?”, conta, ao lembrar que, por não haver internet nas plataformas, a ligação só poderia ser interna.

Problema global

A Petrobras, de um efetivo de 6.480 pessoas nas plataformas, tem apenas 271 mulheres nas operações em mar. Nas outras empresas, o cenário não é tão diferente. A Organização Marítima Internacional (OIM) contabiliza que só 2% da força de trabalho marítima e portuária do planeta é feminina.

A presença de mais mulheres nas plataformas é fundamental para romper as barreiras, diz Bárbara Bezerra, criadora do grupo #pormaismulheresabordo. A ideia é postar fotos de mulheres quando estão embarcando, para incentivar outras presenças femininas.

Na Enauta, petroleira independente criada em 2019, Josiane Gagno, engenheira de Produção e Fiscal a bordo, não sente tantos problemas de misoginia como no passado, mas assim como as colegas da Petrobras acha que a infraestrutura das plataformas ainda não está pronta para receber mulheres.

“Foi o primeiro perrengue que eu passei. Fui ao banheiro da plataforma, e a porta não fechava, tive de ir correndo para o meu quarto. Realmente a gente ainda precisa um pouco de melhoria nesse ponto”, diz.

Para a diretora executiva do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), Fernanda Delgado, o caminho da mudança já é conhecido: campanhas de conscientização, canais de denúncia e protocolos de proteção às funcionárias. “Igualdade, equidade e inclusão não podem ser apenas um cartaz bonito na parede”, diz.

Petroleiras tentam reduzir distorções

Algumas iniciativas têm sido tomadas pelas petroleiras para tentar reduzir as dificuldades enfrentadas pelas mulheres embarcadas em plataformas. A Shell definiu há um ano que até 2030 o universo de contratados terá de ser metade de mulheres. Um ano depois, esse porcentual já chegou a 45%, mas com avanços em terra.

A empresa lançou a iniciativa “Amó”, palavra que significa diversidade em tupi-guarani, para transportar a participação feminina para as atividades offshore. Na petroleira Enauta, 40% dos profissionais são mulheres e participam do 1.º Programa de Mentoria de Profissionais Mulheres da Indústria de O&G, iniciativa do Comitê de Diversidade do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP) com a consultoria global Lee Hecht Harrison (LHH).

Já a Petrobras realizou em 2006 sua primeira pesquisa de gênero, que baliza ações adotadas ano a ano. A estatal ressalta que as novas plataformas têm banheiros femininos. Sobre vestimentas, diz que já oferece equipamento adequado. Sobre o assédio, além de canal de denúncia, realiza treinamentos e capacitações sobre diversidade, equidade e inclusão e sobre prevenção e combate ao assédio moral e sexual no trabalho. “Quando ocorrem denúncias, as apurações de assédio moral e sexual são realizadas por equipes experientes e qualificadas. Após concluídas, as apurações são encaminhadas ao Comitê de Integridade, independente e totalmente imparcial”, diz.

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