Na semana em que o presidente Jair Bolsonaro foi acusado de usar suas viagens a Londres e a Nova York para fazer campanha, encontro de representantes diplomáticos no Brasil com candidatos ou com a cúpula das campanhas reforçaram o interesses de outros países na eleição brasileira. Num intervalo de dois dias, foram realizados ou agendados encontros com Valdemar Costa Neto, presidente do PL, sigla de Bolsonaro; Celso Amorim, ex-chanceler e principal conselheiro da campanha petista sobre política externa; e com o presidenciável do PDT, Ciro Gomes. Nesta quarta-feira, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteve em São Paulo com o encarregado de negócios da Embaixada dos Estados Unidos, Douglas Koneff, que reiterou a confiança sistema eleitoral brasileiro.
Em mais de uma ocasião o governo americano já havia defendido a confiabilidade da urna eletrônica, atacada reiteradamente sem qualquer fundamento por Bolsonaro. Os EUA costumam afirmar que a democracia brasileira é sólida.
Lula estava acompanhado do senador Jacques Wagner (PT-BA) e de Amorim, que hoje tem um encontro previsto com o mesmo grupo de embaixadores latino-americanos e caribenhos que esteve ontem com Valdemar Costa Neto. Se a reunião de Lula foi definida por um interlocutor como “normal, amistosa e sem questionamentos”, a do presidente do PL, contam fontes que estiveram presentes, foi marcada pela defesa da tese, feita pelo político, de que falta credibilidade às pesquisas de intenção de voto que mostram Bolsonaro atrás de Lula
Valdemar teria destacado aos diplomatas que o presidente é um “fenômeno político”, cuja popularidade nas ruas se contrasta com números divulgados pelos levantamentos dos institutos de pesquisa. Procurado, Valdemar não se manifestou.
Retomada de relações
Já na pauta de Celso Amorim está a necessidade de retomada de um processo de integração entre os países sem preconceitos ou restrições ideológicas. Lula tem defendido a volta de uma relação amistosa do Brasil com Venezuela, Cuba e Nicarágua.
Candidato a vice na chapa de Lula, Geraldo Alckmin (PSB) também se dedicou ontem à política externa. Em reunião no Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), no Rio, ele disse a representantes de empresas públicas e privadas, de instituições da sociedade civil, diplomatas e acadêmicos que, se eleito, Lula fará um “governo de diálogo”, dando prioridade à questão ambiental, à desburocratização, aos acordos internacionais, ao desenvolvimento da indústria nacional, ao fortalecimento do Brasil no Mercosul e aos investimentos na universalização da educação básica.
Ciro Gomes tem prevista para hoje uma reunião com embaixadores da União Europeia. As relações entre o atual governo brasileiro e os países do bloco, especialmente França, Alemanha e Noruega, esfriaram nos últimos quatro anos.
De acordo com um diplomata europeu ouvido pelo GLOBO, a expectativa é de que as eleições de outubro ocorram com tranquilidade, apesar da insistência do presidente em levantar dúvidas sobre o sistema eleitoral. Ele avalia que os acenos feitos pelo atual presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o ministro Alexandre de Moraes, que aceitou implementar propostas dos militares para dar mais transparência ao processo, esfriou os ânimos.
Em julho, Bolsonaro recebeu mais de 70 embaixadores no Palácio da Alvorada para fazer ataques às urnas eletrônicas e colocar em dúvida o processo eleitoral brasileiro. Em seu discurso, ele voltou a fazer acusações, sem apresentar provas, sobre a segurança e a confiabilidade do sistema e ainda criticou o TSE e o Supremo Tribunal Federal (STF).
Reação ao presidente
No mesmo dia, o então presidente do TSE, Edson Fachin, pediu um “basta à desinformação e ao populismo autoritário”. O presidente do Congresso, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e os demais candidatos à Presidência também condenaram as declarações de Bolsonaro.
Após a reunião no Alvorada, embaixadores que participaram do evento disseram, reservadamente, que o discurso do presidente não convenceu. Alguns diplomatas revelaram, nos bastidores, que encaminhariam aos governos de seus respectivos países que as acusações foram feitas sem provas e sem fundamento.