O embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, fez duras críticas na noite desta quarta (18) ao deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro, por causa de declarações sobre a pandemia do coronavírus, e exigiu que o parlamentar se desculpasse, de acordo com informações da Folha de São Paulo.
“As suas palavras são um insulto maléfico contra a China e o povo chinês. Tal atitude flagrante anti-China não condiz com o seu estatuto como deputado federal, nem a sua qualidade como uma figura pública especial”, escreveu ele.
O embaixador indicou como destinatário, além de Eduardo, os perfis do ministro de relações exteriores, Ernesto Araújo, do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, e o perfil institucional da própria Câmara.
Na manhã desta quinta (19), Yang postou em sua conta no Twitter que havia recebido um “telefonema de ameaça” sobre a sua segurança pessoal e que esta não era a primeira a vez. “Vamos ver o que vai acontecer hoje, bem preparados para tudo”, acrescentou.
O post, que não citava o nome de Eduardo nem fazia referências diretas a nenhum oficial, foi apagado logo em seguida.
No dia anterior, Eduardo comparou a pandemia do coronavírus ao acidente nuclear de Tchernóbil, na Ucrânia, em 1986. As autoridades, à época submetidas a Moscou, ocultaram a dimensão dos danos e adotaram medidas de emergência que custaram milhares de vidas.
Numa outra mensagem na quarta, Yang afirmou que “a parte chinesa repudia veementemente as suas palavras, e exige que as retire imediatamente e peça uma desculpa ao povo chinês. Vou protestar e manifestar a nossa indignação junto ao Itamaraty e [à Câmara dos Deputados e ao seu presidente, Rodrigo Maia, e ao ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo]”.
A conta oficial da embaixada chinesa reproduziu as mensagens e publicou uma outra, afirmando que o deputado, “ao voltar de Miami, contraiu, infelizmente, vírus mental, que está infectando a amizade entre os nossos povos”.
Numa terceira mensagem, o embaixador tocou no mesmo tema e afirmou que as palavras do deputado “vão ferir a relação amistosa” dos dois países.
A China é o maior parceiro comercial do Brasil. Em 2018, 26,7% das exportações brasileiras tiveram a China como destino —Pequim lidera o ranking dos países compradores dos produtos brasileiros, segundo o Ministério da Economia. Entre 2003 e 2019, Pequim investiu US$ 79 bilhões no Brasil.
No instagram, Eduardo publicou outra mensagem com críticas à China.
“Como o Partido Comunista chinês, que comanda a China, se valeu de um regime onde não há liberdade de imprensa ou expressão (ditadura) para impor ao mundo uma pandemia — de novo!”, escreveu ele.
Na terça (17), Eduardo retuitou uma série de mensagens de Rodrigo da Silva, fundador do site Spotnicks, que reunia uma lista de publicações para embasar o argumento de que Pequim seria responsável pela atual crise de saúde.
“A culpa pela pandemia de Coronavírus no mundo tem nome e sobrenome. É do Partido Comunista Chinês”, dizia o início da primeira mensagem.
Em um tuíte na madrugada desta quinta (19), o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, pediu desculpas.
“Em nome da Câmara dos Deputados, peço desculpas à China e ao embaixador Wanming Yang pelas palavras irrefletidas do Deputado Eduardo Bolsonaro”, escreveu, em uma rede social.
Ele acrescentou que “a atitude não condiz com a importância da parceria estratégica Brasil-China e com os ritos da diplomacia. Em nome de meus colegas, reitero os laços de fraternidade entre nossos dois países”, acrescentou.
A relação do atual governo com a China teve idas e vindas.
Durante sua campanha, Jair Bolsonaro afirmou que “a China não estava comprando no Brasil, mas comprando o Brasil”. O então candidato também visitou Taiwan, considerada uma província rebelde pelo regime chinês.
Os episódios provocaram mal-estar em Pequim, mas aos poucos as relações foram se normalizando depois que Bolsonaro tomou posse. Em maio de 2019, o vice-presidente Hamilton Mourão visitou a China e ajudou a acalmar as autoridades locais
O presidente brasileiro viajou ao país em outubro do ano passado. Na ocasião, ele e o dirigente chinês, Xi Jinping, assinaram 11 atos de cooperação em diferentes áreas como energia, educação, ciência e agronegócio —embora os termos tenham poucos resultados concretos.
A viagem, no entanto, foi um importante gesto para o governo chinês —Bolsonaro teceu elogios ao país, qualificando-o de capitalista.
Outro ponto de atrito entre Brasília e Pequim é o alinhamento do governo aos Estados Unidos de Donald Trump. Tanto o presidente quanto Eduardo já fizeram várias viagens ao país —Bolsonaro planejava indicar o deputado ao posto de embaixador brasileiro em Washington, mas acabou recuando.
Os EUA são o principal rival da China no cenário internacional. Os dois países travam uma guerra comercial desde 2018, quando simultaneamente impuseram tarifas de importação aos produtos do adversário.