A embaixada americana em Havana, Cuba, retoma nesta quarta-feira (4) a emissão de vistos para cubanos que desejam se estabelecer nos Estados Unidos. A medida ocorre em um contexto de êxodo recorde do país, mas não significa uma “normalização” das relações entre os Estados Unidos e a ilha comunista.
“Os Estados Unidos estão trabalhando para garantir uma emigração segura, legal e ordenada dos cubanos, expandindo os serviços consulares em Havana e retomando os procedimentos de reunificação familiar”, informou a missão diplomática americana, em um comunicado na sexta-feira (30).
A embaixada havia anunciado, em março, a reabertura de seu consulado, fechado desde 2017 devido a supostos incidentes de saúde que afetaram os diplomatas. Depois, seguiram-se várias reuniões de alto nível sobre a questão migratória, primeiro em Washington e depois em Havana, com o objetivo de reativar os acordos migratórios entre os dois países, interrompidos durante o governo de Donald Trump (2017-2021).
Em maio, o consulado retomou de forma “limitada” a emissão de vistos para os cubanos com desejo de emigrar, e a embaixada anunciou o retorno total dos trâmites, exceto os vistos de turista, para janeiro de 2023.
“Tivemos avanços muito discretos no sentido de colocar a cooperação bilateral no caminho para a execução de acordos migratórios”, reconheceu o presidente cubano, Miguel Díaz-Canel, em meados de dezembro.
Desde 2017, os cubanos que desejam obter um visto para os Estados Unidos enfrentam vários obstáculos, com a obrigação de solicitar o documento, às suas próprias custas, em um terceiro país, geralmente a Guiana, na América do Sul.
“É um bom sinal que os governos dos dois países estejam conversando sobre como administrar os fluxos migratórios de forma ordenada e racional”, analisa à AFP Michael Shifter, da Universidade de Georgetown, em Washington. Porém, essas conversas “se limitaram a questões migratórias, no contexto de uma grave crise de deslocamentos”, completa Jorge Duany, especialista em Cuba da Universidade Internacional da Flórida.
EUA via América Central
Atingida por uma grave crise econômica, Cuba reconhece um êxodo migratório sem precedentes. Desde 2021, muitos cubanos aproveitam a isenção de vistos à Nicarágua, um aliado de Havana, para tentar em seguida acessar os Estados Unidos pela América Central.
Ao todo 326.336 cubanos, ou 2,9% da população da ilha (11,2 milhões de habitantes) entraram ilegalmente nos Estados Unidos em 12 meses, de acordo com as autoridades americanas. O ingresso ilegal pelo mar também aumentou nos últimos meses.
O governo cubano confirma que Washington concedeu, em 2022 e pela primeira vez desde 2017, mais de 20 mil vistos a cubanos que desejam se estabelecer nos Estados Unidos, conforme previsto em acordos datados de 1994. Porém, mesmo que Washington “não queira reconhecê-lo, há uma relação direta entre o ressurgimento de medidas extremas contra a economia cubana e o dramático fluxo migratório que explodiu”, insistiu, em novembro à AFP, Johana Tablada, funcionária de alto escalão do Ministério das Relações Exteriores cubano.
Ao chegar à Casa Branca, em 2021, o presidente Joe Biden prometeu revisar a política dos EUA em relação a Cuba, mas sua retórica endureceu após os protestos antigovernamentais na ilha, em julho de 2021.