sábado 21 de dezembro de 2024
O prefeito de Recife, João Campos, e o prefeito de Maceió, João Henrique Caldas (JHC) — Foto: Agência O Globo e Secom Maceió
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quinta-feira 24 de outubro de 2024 às 10:07h

Em uma a cada três capitais com segundo turno, parentes de políticos buscam renovar dinastias familiares

ELEIÇÕES 2024, NOTÍCIAS


Herdeiros de famílias com trajetória na política participam das disputas de segundo turno em cinco das 15 capitais que decidirão seus prefeitos no próximo domingo. O histórico familiar desses candidatos já virou segundo reportagem de Bernardo Mello, do O Globo, peça de suas propagandas eleitorais, por um lado, e também munição para adversários, por outro.

No primeiro turno, parte dos 11 prefeitos eleitos em capitais também eram descendentes de políticos longevos em seus estados – como o prefeito do Recife, João Campos (PSB), bisneto do ex-governador Miguel Arraes e filho do ex-governador Eduardo Campos, já falecidos; e o prefeito de Maceió, João Henrique Caldas (PL), cujos pais, João e Eudócia Caldas, tiveram passagens pelo Congresso Nacional.

Agora, o caso de maior longevidade nas urnas no segundo turno é o da família do prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena (PP). Ele é sobrinho de um ex-presidente do Senado, Henrique de Lucena, que é, por sua vez, neto do ex-governador paraibano Sólon de Lucena, que encerrou seu último mandato há exatos cem anos.

O prefeito também já emplacou parentes na política. Seu filho, Mersinho Lucena (PP-PB), está no primeiro mandato como deputado federal. Outra filha, Janine Lucena, foi secretária-executiva de Saúde na capital. A esposa e atual primeira-dama de João Pessoa, Maria Lauremília, foi vice-governadora da Paraíba entre 2003 e 2006 numa articulação do marido, que cumpria à época seu segundo mandato como prefeito.

A atuação de Lauremília gerou desgastes à campanha de Lucena à reeleição depois de uma operação da Polícia Federal, no fim de setembro, que prendeu a primeira-dama por suspeita de aliciamento violento de eleitores. De acordo com as investigações, Lauremília manteve interlocução com lideranças do crime organizado na capital paraibana, através de intermediários, e assegurava espaços para seus indicados na administração municipal, em troca da garantia de que apenas candidatos do grupo político de Lucena pudessem fazer campanha em determinadas comunidades.

A campanha do bolsonarista Marcelo Queiroga (PL), adversário de Lucena, passou a explorar o assunto e alega que o crime organizado “se infiltrou” na prefeitura, usando imagens da prisão de Lauremília — que foi solta às vésperas do primeiro turno, mediante uso de tornozeleira eletrônica. O assunto voltou à tona na quinta-feira, após a PF indiciar a esposa e a filha de Lucena.

Procurada, a defesa de Lauremília e de Janine disse que elas “não possuem qualquer envolvimento com as práticas criminosas que lhes são atribuídas”, e afirmou que a primeira-dama “sempre foi uma pessoa íntegra, correta e profundamente compromissada com os mais necessitados”.

Relações de parentesco também foram exploradas por adversários de Igor Normando (MDB), candidato à prefeitura de Belém e que disputa o segundo turno contra o bolsonarista Eder Mauro (PL). Normando é primo do governador Helder Barbalho (MDB), que articulou sua filiação ao MDB para a disputa. A mãe do candidato, Hilda Normando, é subsecretária no Tribunal de Contas dos Municípios, que tem entre seus conselheiros uma outra tia do governador, Mara Lúcia Barbalho.

Um dos motes da campanha de Mauro é se contrapor ao que chama de “oligarquia barbalhista”, associando Normando ao governador. Em debates no primeiro turno, outros candidatos sugeriram que uma eventual vitória do emedebista ampliaria ainda mais os espaços da família Barbalho na máquina pública. Normando, por sua vez, já declarou que “não faz diferença nenhuma” ser parente do governador.

Em Curitiba, o parentesco com um ex-governador foi abraçado pela campanha do atual vice-prefeito Eduardo Pimentel (PSD), que enfrenta a jornalista Cristina Graeml (PMB) no segundo turno. Neto de Paulo Pimentel, que governou o Paraná na década de 1960, o vice-prefeito trouxe o avô para a campanha na tentativa de se contrapor à imagem de ter pouca experiência na máquina pública.

— Meu neto é candidato a prefeito de Curitiba. Tem a mesma linha minha do passado, é honrado, é trabalhador, é cumpridor de suas obrigações. Não me acanho e não me proíbo de pedir voto para ele – disse o ex-governador em uma atividade de campanha.

Além de ter chefiado o Executivo estadual, o avô do candidato do PSD foi empresário de mídia e dono de emissores locais de televisão, vendidas há cerca de duas décadas ao grupo do apresentador de TV Carlos Massa, o Ratinho. Seu filho, Ratinho Jr., é o atual governador do Paraná e um dos principais apoiadores da campanha do PSD na capital.

Outro parente de um ex-governador que disputa um segundo turno de capital é Eduardo Siqueira Campos (Podemos), candidato em Palmas. Seu pai, José Wilson Siqueira Campos, falecido no ano passado, já foi prefeito da capital tocantinense e governou o estado em quatro ocasiões distintas, entre 1989 e 2014.

Em Porto Velho (RO), a candidata Mariana Carvalho (União) tenta se eleger no segundo turno com apoio do pai, o ex-vice-governador Aparício Carvalho. Além da atuação política, a família é dona de uma universidade na capital de Rondônia. Antes de se lançar na campanha à prefeitura, Mariana foi escolhida, no início deste ano, como reitora do Centro Universitário Aparício Carvalho, que leva o nome do pai.

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