A reunião dos governadores com o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, nesta terça-feira (8), teve momentos de tensão, constrangimento e embates. O principal deles foi um bate-boca entre o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), e Pazuello, sobre a falta de interesse do governo federal em relação à CoronaVac, desenvolvida pela farmacêutica chinesa SinoVac e que será produzida no Brasil em parceria com o Instituto Butantan, ligado ao governo paulista.
Doria questionou se Pazuello não privilegia a CoronaVac por “questão ideológica, política ou falta de interesse” e relembrou que o ministro fora desautorizado pelo presidente Jair Bolsonaro após ter se comprometido a comprar 46 milhões de doses do imunizante. Bolsonaro e Doria são inimigos políticos.
Ao destacar os valores já pagos pelo governo para vacinas (R$ 1,2 bilhão para o imunizante de Oxford e R$ 830 milhões para o consórcio Covax Facility), Doria afirmou que todas estão na mesma situação da CoronaVac, sem registro da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). E questionou o motivo de a vacina não ter sido apoiada pelo governo:
— O que difere, ministro, a condição e a sua gestão como ministro da Saúde de privilegiar duas vacinas em detrimento de outra vacina? É uma razão de ordem ideológica, é uma razão de ordem política ou é uma razão de falta de interesse em disponibilizar mais vacinas — disse Doria, voltando a falar dos valores já pagos a outras fabricantes de vacina:
— O seu ministério pagou a Astrazeneca R$ 1,2 bilhão sem a vacina, e a CoronaVac, que é a vacina do Butantan, que já temos uma parcela considerável e que o senhor na última reunião com 24 governadores anunciou que compraria 46 milhões (de doses)… Infelizmente o presidente desautorizou o senhor, foi deselegante com o senhor em menos de 24 horas e impediu que sua palavra fosse mantida perante os governadores. O seu ministério vai comprar a vacina CoronaVac sendo aprovada pela Anvisa? Sim ou não, ministro?
Pazuello rebateu:
— Eu já expus a todos os governadores, quando a vacina do Butantan, que não é do estado de São Paulo, é do Butantan, eu não sei porque o senhor fala tanto como se fosse do estado, ela é do Butantan. O Butantan é o maior fabricante de vacina do nosso país e é respeitado por isso. O Butantan quando concluir seu trabalho e estiver com a vacina registrada, avaliaremos a demanda e se houver demanda e houver preço nós vamos comprar. (…) Havendo demanda, preço (inaudível), todas as vacinas, todas as produções serão alvo de nossa compra.
Pazuello estimou que qualquer vacina levará cerca de 60 dias para aprovação da Anvisa, ao explanar sobre os processos que envolvem o registro e a efetiva disponbilização de um imunizante. Ele voltou a repetir aos governadores que a União proirizará qualquer vacina devidamente registrada e que atenda às necessidades do país.