O presidente licenciado do PDT e atual ministro da Previdência do governo Lula, Carlos Lupi, disse na terça-feira (27) que o ex-ministro Ciro Gomes, presidenciável do partido em 2022, pode “ficar contrariado” com a aproximação com o PT no Ceará, seu reduto político, mas projetou que a aliança será concretizada. Ciro trava uma queda de braço com seu irmão, o senador Cid Gomes (PDT-CE), que deseja assumir o comando do PDT no estado e defende que o partido entre na base do governador Elmano de Freitas (PT).
A ala mais próxima a Cid argumenta que o rompimento da aliança com o PT no ano passado, sob condução de Ciro, vem fazendo o PDT perder força e ameaça a continuidade do partido na prefeitura de Fortaleza. Em reunião com o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT), Lupi elogiou Ciro e sua plataforma de governo nas últimas eleições, com críticas ao modelo petista, mas cobrou maior senso prático do aliado.
– Ciro é capaz de desenvolver um projeto para a Nasa, mas não colocar uma chave no buraco da fechadura – afirmou Lupi.
O jornal O Globo teve acesso às declarações ao telefonar para Lupi durante a reunião. Procurado após o encontro, o ministro não se pronunciou até a publicação desta reportagem.
Na reunião com Padilha, na qual debateu indicações de cargos feitas por parlamentares do PDT, Lupi afirmou que conversará com Cid, Elmano e com o ministro da Educação e ex-governador do Ceará, Camilo Santana (PT), para “colocar o partido na base do governo” do Ceará.
– O Ciro não discute comigo. Pode até ficar contrariado, mas respeita. Ele mesmo costuma dizer isso: “O que o Lupi decidir, estou de acordo” – declarou o ministro da Previdência.
Uma das indicações que sinaliza essa aproximação é a de Lúcio Ferreira Gomes, ex-secretário do governo Camilo, para assumir a presidência da Companhia Docas do Ceará, autarquia federal responsável pelo Porto do Mucuripe na capital cearense.
Irmão de Cid e Ciro, Lúcio foi indicado ao cargo pelo senador do PDT, e sua nomeação deve ser oficializada nos próximos dias. Na segunda-feira, o atual presidente da autarquia, Denis Bezerra, anunciou sua saída do cargo. A indicação de Lúcio foi elogiada por Lupi no encontro com Padilha.
O aceno do Planalto com o cargo no Porto do Mucuripe ocorre no momento em que a ala pedetista liderada por Cid busca retirar o deputado federal André Figueiredo, aliado de Ciro, do diretório estadual do partido. Figueiredo é também o presidente em exercício do PDT desde janeiro, quando Lupi se licenciou para assumir a pasta da Previdência.
A avaliação interna no PDT é que a intransigência do grupo de Ciro pode desidratar o partido nas eleições municipais de 2024. No encontro com Padilha, Lupi citou a prefeitura de Fortaleza como prioridade do PDT no ano que vem.
O atual prefeito, Sarto Nogueira, é apoiado por Ciro, mas enfrenta resistências no PT e ainda não tem apoio garantido dentro do PDT para disputar a reeleição. O grupo de Cid busca um acordo com o PT para, caso não seja possível evitar uma candidatura petista na capital, ao menos garantir que o governo estadual e o Planalto não entrem de cabeça numa disputa contra o PDT. Em 2020, o PT lançou Luizianne Lins à prefeitura de Fortaleza sem apoio explícito do então governador Camilo Santana, à época aliado do PDT.
O grupo alinhado a Cid Gomes no PDT convocou uma reunião do diretório estadual para discutir, no próximo dia 7, a destituição de Figueiredo do comando partidário no Ceará. Uma comissão que representa prefeitos, deputados estaduais e federais apoiadores de Cid deve se reunir até semana que vem com Lupi, que tenta apaziguar a disputa interna. Na última quinta-feira, Ciro jogou lenha na disputa pelo comando do PDT ao criticar o comportamento do irmão em dois momentos.
Primeiro, questionado em entrevista ao jornal “Diário do Nordeste” sobre a relação com o irmão após atritos envolvendo a candidatura do PDT ao governo estadual em 2022, Ciro disse que “a faca ainda está ardendo nas costas”. A frase foi uma referência a declarações do próprio Ciro no ano passado, quando classificou a decisão do irmão de não participar da campanha de Roberto Cláudio (PDT) como uma “facada nas costas”.
Depois, em discurso no encontro regional do PDT no Nordeste, realizado em Fortaleza, Ciro defendeu a permanência do deputado André Figueiredo no comando estadual do PDT “em nome da unidade do partido”, e afirmou que os “antagonismos” dos quais é alvo são motivados por seu “compromisso canino” com a sigla.