Em evento organizado para divulgar suas “novas diretrizes e valores”, o PSDB resgatou e reabilitou nesta quinta-feira (24) o deputado federal Aécio Neves (MG), ex-presidente nacional da legenda. Aécio teve papel de destaque na reunião partidária, diz Cristiane Agostine, do jornal Valor, discursou e foi defendido pelo presidente nacional da sigla, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite.
O partido trouxe de volta a imagem do “mascote tucano” à sua logomarca e adotou como lema “Um só Brasil”, na tentativa de mostrar-se como uma alternativa à polarização entre o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Já no início do seminário “Diálogos Tucanos”, Eduardo Leite fez uma “saudação especial” a Aécio, que em 2017 deixou o comando nacional do partido e foi afastado do cargo de senador sob acusações de corrupção passiva. Leite comemorou o “fim de um calvário extenso” enfrentado pelo parlamentar.
“A Justiça demorou, mas antes tarde do que nunca”, disse o presidente do PSDB. “Pode seguir agora, Aécio, adiante, com a sua biografia, com tudo o que fizeste como governador, como [ex] presidente da Câmara, [com a sua] extensa lista de serviços prestados ao Brasil. E além de seguir com a sua biografia, pode seguir agora com a Justiça ao seu lado”, afirmou Leite.
Da acusação à absolvição
Há seis anos, Aécio foi citado em delação premiada de Joesley Batista, do grupo J&F, e acusado pela Procuradoria-Geral da República de supostamente ter pedido R$ 2 milhões ao empresário para pagar sua defesa na “Operação Lava-Jato”. Em 2022, o parlamentar foi absolvido da acusação na primeira instância. No mês passado, o Tribunal Regional Federal da 3ª Região manteve a absolvição.
Depois de fazer uma ampla defesa de Aécio, Leite disse que quebraria o protocolo e chamou o deputado para discursar. Alguns participantes do evento gritaram o nome de Aécio.
“Falo do lugar mais profundo do meu coração. Não esperava por essa gentileza, não esperava por esse desagravo”, disse o deputado e ex-presidente do PSDB, que concorreu à Presidência da República pelo partido em 2014. Aécio disse ter sido vítima de “ataques, calúnias e difamações” de pessoas que queriam “tirá-lo do jogo político” porque poderia ser uma “alternativa” na eleição presidencial de 2018.
O tucano agradeceu o desgravo do partido, informou ainda diz Cristiane Agostine, do Valor. “Eu acredito que nós vamos voltar a ser protagonistas da vida pública brasileira porque nós temos essa responsabilidade com os brasileiros”, disse.
Resgate das origens
Ao retomar o microfone, Leite disse que o partido tem “revisitado conceitos e diretrizes” desde as eleições passadas e decidiu resgatar sua origem. Em 2018, o PSDB registrou um fracasso eleitoral, com apenas 5% dos votos, com a candidatura presidencial do então tucano e atual vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB).
Em 2022, a legenda não lançou candidato à Presidência. “O PSDB do futuro está no resgate da nossa origem”, disse, sobre o partido que comandou o país por duas vezes, com Fernando Henrique Cardoso.
Leite usou uma camiseta com uma frase de FHC estampada no peito: “Lutamos não para ganhar no dia seguinte, mas para criar um horizonte de alternativas”.
O partido divulgou sua “nova visão de país em um tuíte”: “Um Brasil que oferece igualdade de oportunidades para quem está chegando, e enfrenta e corrige as desigualdades para quem, infelizmente, foi deixado para trás. Um país mais próspero e produtivo, mais justo com seus filhos, mais livre, mais verde e mais relevante no mundo.”
Na plateia do evento, realizado em Brasília e transmitido pela internet, estava Tomás Covas, filho de Bruno Covas, ex-prefeito de São Paulo morto em 2021. Bruno Covas foi adversário político de Aécio dentro do PSDB e ameaçou deixar o partido caso o parlamentar continuasse na legenda. Em 2019, quando estava na prefeitura da capital, Covas chegou a falar “ou ele ou eu”, em relação a Aécio. A situação, no entanto, foi apaziguada para que Covas não deixasse a sigla.
O ex-presidente do PSDB e ex-senador Tasso Jereissati ressaltou que o partido tenta se mostrar como uma alternativa a Lula e Bolsonaro, com uma “postura política diferente da que está aí”. “Não estivemos no governo Bolsonaro e não estaremos no governo Lula”, disse.