A primeira-ministra britânica, Theresa May, anunciou na manhã desta sexta-feira (24) que deixará o cargo no próximo dia 7 de junho, abrindo caminho para a disputa por sua sucessão como líder do Partido Conservador e, consequentemente, no comando do governo.
A decisão ocorre após quase três anos de desgastes causados por sucessivos fracassos na condução do Brexit, como é conhecido o processo de saída do Reino Unido da União Europeia.
Em um discurso emocionado, May afirmou que fez o melhor para honrar o resultado do referendo de junho de 2016. “E eu sei que podemos entregar o Brexit”, acrescentou, se referindo a seu partido.
Ela lamentou não ter conseguido concluir a tarefa. “Meu sucessor terá de conseguir um consenso”, afirmou, em referência aos votos necessários no Parlamento para aprovar um acordo de saída. “Um consenso só será possível se ambos os lados do debate se comprometerem.”
A primeira-ministra chorou ao fim de seu pronunciamento.
“Nossa política talvez esteja sob pressão, mas há tantas coisas boas no nosso país, tanto de que devemos nos orgulhar”, disse May.
“Em breve, deixarei o trabalho que foi a honra de minha vida”, afirmou concluindo que agradecia por ter servido ao país que ama – momento em que não conseguiu mais conter as lágrimas.
Sucessão
May esteve sobre intensa pressão desde que assumiu o cargo, em 2016.
O primeiro-ministro anterior, David Cameron, renunciou após a vitória do Brexit no referendo de junho daquele ano – ele defendia a permanência do país no Reino Unido no bloco europeu.
Apesar de ter apoiado a permanência do Reino Unido na União Europeia, May defendeu que o resultado do plebiscito deve ser respeitado e, ao assumir o cargo, definiu o processo como prioridade de seu governo.
A disputa para escolher um novo líder do Partido Conservador, que se tornaria primeiro-ministro, deve começar apenas no dia 10 de junho.
Atualmente, o nome mais cotado para substituí-la é o do ex-ministro das Relações Exteriores, Boris Johnson, mas há outros possíveis nomes, como o ex-secretário Dominic Raab.
O deputado conservador Damien Green falou ao programa Today, da Rádio 4 da BBC, sobre o legado de May para o Reino Unido.
“Talvez, inevitavelmente, as pessoas estejam neste momento se concentrando no lado negativo, mas temos que nos lembrar do extraordinário compromisso (de May) com o serviço público”, disse o político. “E em uma era em que o discurso político se tornou tão venenoso e viciado, ela sempre foi cortês, sempre educada.”
“Eu acredito que a maior tragédia política é que ela não teve condições, tempo ou espaço, para implementar sua agenda doméstica – o combate às grandes injustiças que ela enxergou.”
Trajetória política
Theresa May, que era a ministra do Interior, se tornou a primeira mulher a assumir o cargo de primeira-ministra do Reino Unido em 25 anos – ou seja, desde o fim da era Margaret Thatcher.
Assim como a “Dama de Ferro”, Theresa May vem de uma família de classe média-baixa.
Filha de um pastor anglicano, nasceu em Sussex (sul da Inglaterra) e foi criada em Oxfordshire, no sudeste do país. Suas duas avós trabalharam como domésticas.
Após frequentar escolas públicas, estudou Geografia na universidade, onde conheceu seu marido Philip, com quem é casada até hoje. Os dois não têm filhos.
Antes de iniciar sua vida política, trabalhou no Banco da Inglaterra.
Eleita ao Parlamento pela primeira vez em 1997, foi a primeira mulher a assumir a presidência do Partido Conservador, em 2002.
É uma das pessoas que permaneceu por mais tempo à frente do Ministério do Interior – ocupou o posto de 2010 a 2016.
May figurava havia anos na lista de possíveis líderes do partido. Desde que Cameron anunciou sua renúncia, ela manteve uma clara vantagem na disputa pelo cargo – na primeira etapa da corrida, ganhou 165 votos, mais do que todos os seus adversários juntos.
A ministra era considerada uma das figuras mais fortes da política britânica. Ficou conhecida por dizer algumas duras verdades sobre seus colegas.
“Você sabe do que as pessoas nos chamam: ‘o partido sórdido'”, afirmou a ativista em 2002, durante uma conferência.
May foi elogiada por seu trabalho como ministra. Sua força atingiu novos patamares em 2013, quando conseguiu o que muitos outros antes dela falharam ao tentar: deportar o clérigo radical Abu Qatada.
Também recebeu críticas, como pelo fracasso do governo britânico ao não cumprir a promessa de manter o número de imigrantes que entram no país abaixo de 100 mil por ano.
Durante os quase três anos como primeira-ministra, foi alvo de constante artilharia – inclusive dos próprios pares no Partido Conservador – por causa da condução do Brexit. Teve a queda aventada diversas vezes, mas vinha conseguindo se permanecer no cargo.