Em processo de aproximação com o governo Lula, o Republicanos vem substituindo desde o início do ano segundo Bernardo Melo, do O Globo, diversas lideranças ligadas à Igreja Universal e colocando, na linha de frente de diretórios estaduais, nomes com melhor trânsito com o Palácio do Planalto. A movimentação ocorre em paralelo à continuidade de ataques da Universal ao presidente neste ano, após o alinhamento com a candidatura derrotada de Jair Bolsonaro e a trocas de farpas com o PT na esteira do processo eleitoral.
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No Rio e em São Paulo, insatisfações da cúpula do partido com as gestões do bispo Luis Carlos Gomes e do pastor Sérgio Fontellas, dois quadros da Universal, abriram brecha para mudanças que diluíram a relação do partido com a igreja. Gomes foi substituído na presidência do diretório fluminense pelo prefeito de Belford Roxo, Waguinho, que deixou o União Brasil após uma crise com a direção da sigla na semana passada. Waguinho é marido da ministra do Turismo, Daniela Carneiro, escolhida para o cargo após o casal ter apoiado Lula no segundo turno contra Bolsonaro.
Daniela e outros cinco deputados federais eleitos pelo União Brasil no Rio, nenhum deles ligado à Universal, também pretendem se filiar ao Republicanos. O movimento pode quase triplicar a bancada fluminense do partido, hoje formada por três parlamentares que fazem parte da igreja.
Republicanos tira bispos da Universal do comando do partido nos estados — Foto: Arte
Republicanos tira bispos da Universal do comando do partido nos estados — Foto: Arte
No diretório paulista, Fontellas deu lugar a Roberto Carneiro, que presidia o Republicanos no Espírito Santo e foi secretário estadual no governo de Paulo Hartung. Interlocutores do presidente nacional do partido, Marcos Pereira, avaliam internamente que o desempenho eleitoral em São Paulo foi insatisfatório no Legislativo, o que motivou a troca.
A entrada de Carneiro também atenua a marca da Universal no partido em um momento em que aliados do governador Tarcísio de Freitas, eleito pelo Republicanos, o estimulam a buscar outra sigla. Apesar da sinalização, pastores ligados à denominação, como o próprio Fontellas, seguem participando do diretório estadual e também ganharam cargos em escalões inferiores da gestão Tarcísio.
“Oxigenar o partido”
Outro gesto que busca demarcar distância entre partido e igreja ocorre em Goiás, cuja capital, Goiânia, é a única sob gestão do Republicanos, com o prefeito Rogério Cruz — que é bispo licenciado da Universal. Em meio a uma gestão mal avaliada de Cruz, que assumiu o mandato por conta da morte do prefeito Maguito Vilela, o novo presidente estadual do Republicanos, Hildo do Candango, afirma que sua candidatura à reeleição dependerá de mostrar viabilidade política e de superar “alguns descontentamentos” na base.
Ex-prefeito de Águas Lindas, município vizinho a Brasília, Hildo venceu uma queda de braço com o deputado federal Jeferson Rodrigues, pastor da Universal, para assumir o diretório goiano. Ele é aliado do ex-deputado Jovair Arantes, nome ligado ao Centrão que integrou a base do primeiro governo Lula pelo PTB e depois foi relator do impeachment de Dilma Rousseff na Câmara. Arantes, por sua vez, assumiu a secretaria de Governo na prefeitura de Goiânia e passou a atuar como uma espécie de “primeiro-ministro” de Cruz.
— A decisão nacional foi de dissociar o partido da instituição religiosa. Ao colocar pastor em diretório estadual, parece que o Republicanos é ligado à igreja. Essas mudanças permitem oxigenar o partido para buscar melhores resultados — disse Hildo.
Segundo o novo dirigente estadual, a cúpula do Republicanos — cujo presidente, Pereira, é bispo licenciado da Universal — vem conduzindo de forma “habilidosa” uma transição política que inclui o diálogo com o governo Lula, até em estados bolsonaristas.
— Em Goiás, houve uma aproximação forte com Bolsonaro. Mas sabemos que o partido não vive de passado, e sim de perspectivas de futuro — afirmou.
Em estados do Norte e Nordeste, onde parte dos deputados eleitos pelo Republicanos têm boa relação com o governo Lula, as mudanças em diretórios estaduais deram maior ênfase a esta aproximação.
No Ceará, o cantor gospel Ronaldo Martins, hoje vereador em Fortaleza e ligado à Universal, deixou o comando estadual para o ex-senador Chiquinho Feitosa, aliado do governador Elmano de Freitas e do ministro da Educação, Camilo Santana, ambos do PT. No Maranhão, o deputado federal Aluisio Mendes, recém-filiado ao Republicanos, passou a fazer acenos a Lula e ao governador Carlos Brandão (PSB). No Pará, onde a troca se deu entre dois nomes da Universal, o novo presidente estadual, Evandro Garla, faz parte do primeiro escalão do governo Helder Barbalho (MDB), aliado de Lula.
Com estreita ligação com a Igreja Universal desde sua fundação, em 2005, o Republicanos tem reatado relações com Lula desde o voto a favor da PEC da Transição. Posteriormente, o PT apoiou a eleição do deputado Jonathan de Jesus (Republicanos-RR) a uma vaga no Tribunal de Contas de União (TCU), movimento que impediu o avanço de uma candidatura do PL.
O estreitamento de laços no Congresso incluiu a entrada do Republicanos em um bloco com partidos governistas e a abertura de conversas para preencher cargos no segundo escalão em órgãos como a Codevasf e o Dnocs, além de um possível apoio do PT a uma PEC do deputado Marcelo Crivella (RJ), bispo da Universal, para ampliar isenções tributárias de igrejas.
O diálogo entre governo e Universal, por sua vez, emperrou após atritos envolvendo o PT. Uma fala do bispo Edir Macedo, após a vitória de Lula, oferecendo “perdão” ao petista foi criticada pela presidente do PT, Gleisi Hoffmann, que recusou o aceno. Depois disso, Macedo afirmou ter feito um “favor” a Lula ao orar para que se curasse de um câncer na laringe, e que governos petistas “não deram nada” à igreja. A “Folha Universal”, jornal distribuído pela igreja a fiéis, já publicou textos neste ano que acusam Lula de “pouco se importar com os pobres” e de envolvimento em esquemas de corrupção.
Há também exceções no Republicanos ao movimento pró-Lula. No Rio Grande do Norte, por exemplo, o partido destituiu um aliado da governadora Fátima Bezerra (PT) e entregou o diretório estadual ao prefeito de Natal, Álvaro Dias, seu opositor.