A Praça da Piedade, no centro de Salvador, se encheu de homens e mulheres na tarde deste último sábado (7) comprometidos com o combate à violência de gênero. O ato aconteceu em nome da jovem Mariana Ferrer, que teve o caso julgado pela justiça de Santa Catarina como estupro culposo, sentença sem precedência no Brasil. Protestos também aconteceram e vão acontecer em várias capitais do pais neste final de semana pelo movimento #JustiçaPorMariFerrer.
Uma das ações realizadas na manifestação foi a assinatura da Carta-Manifesto pela Integridade Física e Moral de Todas as Mulheres do Brasil. O documento, criado pela Marcha do Empoderamento Crespo, é um símbolo de compromisso com a defesa e criação de políticas públicas que promovam a igualdade de gênero. O objetivo é também mobilizar membros da sociedade civil, movimentos sociais, parlamentares e candidaturas à prefeitura e Câmara de Vereadores de Salvador para que as autoridades públicas priorizem o tema.
Uma das propostas destacadas pelo manifesto é a criação de salas lilás em todas as delegacias da capital baiana, a fim de atender e acolher as vítimas de violência. A carta também defende a extensão do horário de funcionamento das Delegacias Especializadas em Atendimento as Mulheres (DEAM) e a instalação da Casa do Abrigo para amparar temporariamente as pessoas que precisem sair da residência do agressor.
A cofundadora da Marcha do Empoderamento Crespo, a antropóloga e candidata a vereadora Naira Gomes, ressalta que a iniciativa surgiu de uma violência que ela proporia sofreu. “Minha voz é a voz de muitas mulheres, que, infelizmente, têm esse lugar de dor e de silêncio, sobretudo as negras. Fui vítima de violência e essa experiência marcou minha vida com dor e com revolução. Estou aqui como Naira e como Marcha que organiza mulheres e jovens para o enfrentamento do racismo e machismo a partir da estética, que é o corpo inteiro, o físico e não físico, sentimento, dor, emoção, esperança. A Marcha está aqui para defender nosso direito como mulheres e das que estão por vir, das gerações futuras. Estamos nos candidatando por esse mesmo motivo, queremos garantir que a casa legislativa tenha a cara do povo”, defendeu Gomes.
O vereador Marcos Mendes foi um dos que assinou o documento. Ele ressaltou os 14 projetos protocolados à CMS e Assembleia Legislativa da Bahia (Alba) durante o mandato. “Os mandatos, principalmente, masculinos precisam se pronunciar contra situação. Nós homens precisamos, mais do que nunca, se unir e estar ao lado as mulheres para rechaçar todo tipo de misoginia e machismo na sociedade autocrata que existe em Salvador”, ressaltou Mendes.
A deputada estadual Olivia Santana, candidata a prefeita de Salvador, ressalta que a luta da igualdade de gênero é o que defende como presidente da Comissão dos Direitos das Mulheres da Alba. “A manutenção de práticas machistas e misóginas, que chegam a destruir fisicamente milhares de mulheres, é incompatível com a ideia de avanço da humanidade. A pauta feminina está em todos os eixos do meu programa, através de propostas para fomentar a diversidade e garantir os direitos das mulheres soteropolitanas”, afirmou Santana.
O deputado estadual Hilton Coelho, candidato à prefeitura de Salvador, apoia a criação da Casa do Abrigo e a assinatura da carta-manifesto. “É fundamental porque precisamos gerar uma sociedade em que o povo não esteja mergulhado em uma cultura de ódio. Não podemos trabalhar com a noção que é natural agressividade de homens contra as mulheres. É importantíssimo que tenha medidas que sejam concretas para proteger a população feminina que está vulnerabilizada. A discussão sobre a casa abrigo é uma discussão séria, a discussão sobre as Delegacias especializadas é uma discussão muito séria que precisa estar no programa de todos”, ressaltou Coelho.
A candidata a vereadora Eslane Paixão, que faz parte do coletivo Unidade Popular, aponta a importância de um ato como o da tarde de hoje. “A gente está aqui por um movimento nacional que faz lutas em defesa das mulheres. É importante essa luta hoje especifica por justiça da Mari Ferrer porque o Estado vem abrindo cada vez mais brechas para poder passar pano para isso e não permite que a justiça seja feita, que os verdadeiros culpados, sejam eles ricos ou brancos, paguem por seus crimes. Nós queremos que a igualdade e a justiça prevaleça para todos”, defendeu Paixão.
Dados violência contra a mulher
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, 1 em cada 3 mulheres em todo o mundo já sofreram algum tipo de violência física ou sexual, seja em casa, em suas comunidades ou mesmo no ambiente de trabalho.
Enquanto a taxa de feminicídio de mulheres não negras teve crescimento
de 4,5% entre 2007 e 2017, a taxa de homicídios de mulheres negras cresceu 29,9% no mesmo período. (Atlas da Violência 2019, Ipea, 2019).
Dentre as 1.116 mulheres entrevistadas, o percentual de mulheres brancas que sofreu violência física foi de 57%, enquanto o percentual de negras
(pretas e pardas) foi de 74%. (Relatório Violência Doméstica e familiar contra a mulher, Instituto de Pesquisa DataSenado, 2017).