O deputado estadual reeleito Júnior Muniz, um dos neófitos no PT da Bahia, avalia que a oposição terá que se rearticular após a derrota do ex-candidato ao Governo da Bahia, ACM Neto (União Brasil), na corrida eleitoral para a eleição ao Governo do Estado. Para ele, o deputado federal Elmar Nascimento (União Brasil), que é do mesmo partido do carlista, tem assumido protagonismo nos últimos tempos conforme entrevista a Guilherme Reis, Henrique Brinco e Paulo Roberto Sampaio, do jornal Tribuna. O parlamentar também fez um balanço do governo Rui Costa, que está indo para a Casa Civil do Governo Lula, e ainda fez projeções para o Governo Jerônimo Rodrigues a partir de 2023.
Tribuna – A vitória de Jerônimo Rodrigues foi bem expressiva. A que o senhor mais atribui esse resultado?
Júnior Muniz – Ao grande legado dos governos de Wagner e de Rui. Rui vai ficar na história da Bahia como o governo que mais fez obras no Estado, que entregou 22 hospitais, 26 policlínicas, que ficou no ranking nacional de investimento nos oitos anos – perdendo apenas para São Paulo, que é uma grande potência. Rui fez um grande governo, uma grande gestão, e isso ficou demonstrado na eleição de Jerônimo (que foi o candidato escolhido por ele). E o governo de Jaques Wagner, que começou todo o processo, levando mais dignidade para o sertanejo com os programas que fazem parte do Governo Federal, mas aqui temos uma Secretaria de Infraestrutura. O Luz Para Todos, o Água Para Todos e que foi um programa dele… Ele levou água para todo o sertão baiano. Foram essas gestões que deram força para a eleição de Jerônimo. O nosso adversário dizia que iria ganhar a eleição no primeiro turno, com uma larga vantagem de votos. E não foi isso que aconteceu. Jerônimo ganhou com uma expressão de votos bem à frente e levou a eleição no segundo turno com uma votação expressiva.
As primeiras pesquisas colocavam Jerônimo com 6% das intenções de voto. Começamos a espalhar os nossos PGPs por toda Bahia. Depois, nossos eventos abertos começaram a ganhar uma proporção gigantesca. Em cada município baiano, nossa caravana era recebida com elevado entusiasmo em prova do reconhecimento das pessoas por todo legado de Wagner e Rui. No primeiro turno, foram quase 9% de vantagem para o adversário que disse que ganharia no primeiro turno. No 2° turno, praticamente meio milhão de votos de diferença.
Tribuna – Qual a expectativa para o governo Jerônimo?
Júnior Muniz – Jerônimo fez o maior investimento da história da Bahia em educação, criou programas como: Bolsa Presença, Vale-alimentação estudantil e implantou o programa dignidade menstrual. Ele conhece a Bahia, é da zona rural, filho da escola pública e conhece o poder transformador da educação. A trajetória de sucesso do governador Jerônimo não será um ponto isolado, pelo contrário, será referência e influenciará milhares de jovens a chegarem aonde ele chegou. Essa é uma de suas grandes preocupações.
Tribuna – De um modo geral, quais foram os principais acertos da gestão de Rui e aquilo que ainda deixou por fazer, e que deve ser o foco de Jerônimo?
Júnior Muniz – Rui priorizou a Saúde. Digo sempre que a Saúde está em primeiro lugar. E Rui fez isso, cuidou das pessoas. Desde o primeiro ano de mandato do governador até o último ano, a Bahia esteve em segundo lugar no ranking nacional de investimentos, atrás apenas de São Paulo.
Esses investimentos se traduzem ainda em ampliação da infraestrutura e do alcance dos serviços públicos, além da geração de empregos e renda. As áreas de saúde, educação, segurança pública, infraestrutura e saneamento lideram os investimentos na Bahia. Somente na área da saúde, construímos, desde 2015 22 hospitais e 26 policlínicas regionais. Somente na educação, entre programas e infraestrutura escolar, a soma de investimentos ultrapassa os R$ 6 bilhões.
Nesse intervalo de tempo, ainda enfrentamos uma pandemia e, ainda assim, a Bahia seguiu avançando em ritmo acelerado. Rui deixa um legado que ficará marcado na história da Bahia. Outro aspecto foi levar comida para a mesa do baiano. Na pandemia, foi através da Secretaria de Educação que Jerônimo fez aquele Vale Estudantil para levar comida ao estudante que não tinha condições de se alimentar. Teve também a infraestrutura educacional e agora temos um investimento de mais de R$ 6 bilhões. Tem colégio em que a gente entra e se orgulha de morar na Bahia. Tem colégio com infraestrutura que a gente nem consegue em colégio particular. A parte física já foi feita, agora vamos melhorar a parte da valorização do professor, do funcionário público. Jerônimo tem um desafio grande que é a Segurança Pública. Nós sabemos que a droga vem atingindo todo o Brasil, não só a Bahia.
Tribuna – Como avalia o perfil de secretariado que Jerônimo anunciou até agora? Acha que ele conseguiu cumprir o que prometeu na campanha?
Júnior Muniz – Sim. Jerônimo está modernizando o secretariado. Ele disse que iria rejuvenescer o secretariado. Vejo nomes bons, a exemplo Ângela [Guimarães, a nova titular da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial], que foi indicada pelo PCdoB. Contemplou o partido e contemplou essa renovação. O próprio secretário da Sema [Eduardo Sodré Martins], que é um jovem. Osni Cardoso, que é um jovem também e vai assumir a pasta da SDR. Roberta Santana, que vai assumir a Saúde. Uma secretária experiente, mas que leva a coisa da juventude para as políticas públicas. A exemplo também de Larissa Gomes Moraes, nova secretária de Infraestrutura Hídrica e Saneamento (SIHS). Vejo com bons olhos. Jerônimo vem acertando no momento no secretariado. A exemplo também de Luiz Caetano, que vem transformando a política na Bahia desde quando assumiu a Serin. É o meu ponto de vista. Rui Costa acertou quando colocou Caetano na Serin e depois quando tirou e o colocou na campanha. Quando ele saiu da Serin e foi coordenar a campanha, Jerônimo deu um salto. Os PGPs começaram a sair daqueles pequenos formatos e ganharam as ruas.
Tribuna – Durante o Governo Rui Costa, havia reclamações de falta de diálogo do Governo com os prefeitos e deputados. Caetano melhorou isso?
Júnior Muniz – Muito. Quando Caetano assumiu a Serin, começou a mudar isso. Essa relação do governador com os prefeitos… E vai mudar muito mais ainda. O governo de Jerônimo vai ser mais voltado para a gestão e política. Rui fez a gestão e Jerônimo vai fazer política.
Tribuna – Como ACM Neto deve se comportar nos próximos anos? Ele vai conseguir liderar a oposição na Bahia?
Júnior Muniz – Nós temos uma eleição municipal daqui a dois anos. Ele tem que ajustar quem vai ser o candidato. Se é ele ou Bruno [Reis, atual Prefeito de Salvador]. E nós estamos vendo do outro lado, fazendo a grande política, o deputado Elmar Nascimento. Esse sim vem fazendo a grande política que ACM Neto deixou de lado. Elmar está fazendo a grande política diferenciada. ACM Neto errou em vários pontos até chegar na candidatura. Elmar vem acertando e acho que será um grande destaque na política nacional aqui da Bahia. Procurando desfazer os seus alinhamentos. Estão falando que ele pode ser ministro e acho que ele tem chance.
Tribuna – Quais foram os principais erros que ACM Neto cometeu na campanha?
Júnior Muniz – A escolha da vice, a fusão do partido que ele comandava na Bahia [o antigo DEM se fundiu com o PSL para formar o União Brasil]. Tinha um número que era conhecido na Bahia, e ele fez essa fusão para quê? Ele fez uma fusão sem necessidade, no meu ponto de vista, para ser comandado por [Luciano] Bivar. Para ter um fundo eleitoral que ele teria no DEM, sem dizer que era pardo. Esses erros foram vexatórios e acabaram na derrota dele.
Tribuna – O senhor acha que o PP pode voltar para a base aliada do PT?
Júnior Muniz – Eu fui do PP e hoje estou no PT. Mas ele está dividido com ele mesmo. A base do PP está dividida hoje. É briga interna entre o grupo de João Leão com o grupo de Claudio Cajado. Então, acho que eles vão se acertar entre eles para depois decidir que lado tomar. Uma parte tem a tendência de ficar com o Governo. E tem a outra parte que tem o desejo de ficar com Leão, que aí é mais Cacá, Mário [Negromonte], Eduardo [Salles] e Antônio Henrique.
Tribuna – Outro partido que ainda está decidindo o seu rumo é o PL. O senhor acha que há a possibilidade de PL dialogar com o Governo?
Júnior Muniz – Eu vejo duas alas no PL: uma mais radical, que eu acho difícil de dialogar. Mas tem uma outra ala que é mais sensível ao diálogo. Um exemplo disso é o Raimundinho da JR, que declarou apoio a Adolfo Menezes. Agora, tem a ala que é radical. Esse diálogo dentro da Assembleia já está acontecendo. Vai ter que acontecer.
Tribuna – Falando um pouco sobre o cenário nacional, o presidente Lula ainda não assumiu, mas se articulou para aprovar a PEC de Transição. Como avalia esses primeiros passos?
Júnior Muniz – Lula já mostra força antes mesmo de começar o governo. Já mostra que é o grande líder político. Vai ser um grande estadista, vai viajar o mundo todo contando a sua história. E tem um grande soldado, que é Rui Costa na Casa Civil. Está se articulando bem, está colocando seus ministros muito bem. Está construindo um ministério muito sólido. Já está dialogando com a Câmara, aprovou a PEC da Transição. Então, a gente vê que é a cara de um grande governo. Acho que começou bem
Tribuna – Bolsonaro tende a desidratar e perder força ou vai conseguir liderar uma oposição?
Júnior Muniz – Acho muito difícil ele conseguir liderar alguma coisa. Ele é muito truculento. O que ele conseguiu de governo foi na base da truculência. Brigando com o STF, com o Congresso… Acho difícil ele segurar uma oposição. Acho que ele vai ter a turma radical, mas não vai ter equilíbrio emocional para segurar. Espero que o próximo ano seja mais produtivo. E vai ser.
Tribuna – Qual sua expectativa e projetos para 2023?
Júnior Muniz – Fui um deputado que atuou muito no sentido de fortalecer os municípios. Não me prendo ao gabinete, estou sempre nas secretarias, nos ministérios e nas cidades baianas para conhecer os pontos de dificuldade e logo me preocupo em solucioná-los. A política ela começa nos municípios, por isso, minha atuação é direcionada nesse sentido. Quando o município se fortalece, o Estado também cresce. Em 2023, seguirei entregando obras, equipamentos e projetando ações que cheguem até mesmo ao distrito do município mais isolado em que fui votado. Política é isso: É olhar com sensibilidade e agir com determinação. Quem promete e não cumpre ou que só aparece no ano eleitoral, será penalizado pela urna. No meu caso, escolhi o caminho da boa política, de forma responsável e o resultado se deu com o crescimento de 219% dos votos, triplicando em relação a 2018, um recorde na história da AL-BA.