Conforme matéria de por Felipe Azevedo do Ponto Poder, as pesquisas recentes apontam que pelo menos um terço do eleitorado brasileiro não quer votar no ex-presidente Lula (PT) nem em Jair Bolsonaro (sem partido) na eleição presidencial de 2022. Esses eleitores preferem uma candidatura da chamada terceira via. O jornal Diário do Nordeste entrevistou cientistas políticos para discutir o desejo dessa fatia expressiva do eleitorado e também os desafios para que outros partidos consigam viabilizar candidaturas competitivas a pouco mais de um ano da disputa eleitoral.
Números do Atlas Político divulgado nos últimos dias apontam que 28% dos entrevistados querem um candidato distante da polarização política. Em julho deste ano, levantamento publicado pela CNT já havia indicado a mesma tendência quando apontou que 30,1% dos que responderam a pesquisa também optam por uma terceira via.
É nessa perspetiva que partidos do centro ainda alimentam a esperança de colocar uma candidatura no segundo turno da disputa eleitoral com musculatura para vencer o pleito do ano que vem. A dificuldade, no entanto, é encontrar um nome que reúna apoio popular e as características necessárias para unir partidos políticos que desejam embarcar nessa possibilidade.
Estratégias
É justo nessa lacuna que entram as estratégias de bastidores encampadas por partidos como MDB, PSDB, PSD, PDT, e DEM. Cada uma ao seu modo, as siglas já testam nomes e buscam desassociar seus quadros do discurso polarizado, como fez a maioria desses partidos nas manifestações do último dia 12 de setembro.
A cientista política Monalisa Torres, da Universidade Estadual do Ceará (Uece), avalia que há um certo cansaço de parte do eleitorado que, desde 2018, viu uma disputa polarizada.
“O eleitor está enfadado dessa polarização que tem radicalizado cada vez mais. […] A dificuldade é que o eleitor que não se vê nem Bolsonaro nem Lula e não se vê representado em nenhuma das alternativas de possíveis terceiras vias. Temos um cardápio plural, mas nenhuma conseguiu passar dos dois dígitos (nas pesquisas)”, pontua a especialista.
Rejeição
De acordo com a professora de Teoria Política, atualmente os votos dos eleitores já decididos se dão, em grande parte, pela “rejeição ao outro lado”, e é nesse enlace que um candidato da terceira via deve atuar.
O debate, nesse caso, fica em torno daquilo que se recusa e não de um projeto de Nação. “Bolsonaro sabe que precisa da figura lulista do outro lado como antagonista e, em alguma medida, o PT sabe que pra ele é positivo a polarização”, diz ainda Monalisa, pesquisadora do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem) da Universidade Federal do Ceará (UFC).
De acordo com as pesquisas mais recentes, Ciro Gomes (PDT) e João Doria (PSDB) são quadros com maior pontuação nas intenções de votos. De um lado, o ex-governador cearense contará com o recall do terceiro lugar em 2018, e a experiência de já ser um ator político atuante nas últimas décadas.
No outro espectro, ainda segundo a avaliação de especialistas, João Dória tem o respaldo de governar São Paulo, e ainda ter papel importante para a que a CoronaVac fosse produzida e distribuída no pico da pandemia de Covid-19.
Esses pontos, no entanto, vão de encontro ao passado desses políticos. A analista política pondera que Ciro foi ministro do ex-presidente Lula (PT), e que hoje tenta se distanciar dessa imagem. Enquanto isso, Dória foi eleito em 2018 usando a plataforma Bolsodória (junção com o nome de Bolsonaro), e hoje é um crítico ferrenho do presidente da República.
PSDB
Para o também cientista político e professor da Uece Raulino Pessoa, não ter um nome definido para a chamada terceira via, no momento, é algo positivo.
“Acredito que os partidos vão se agrupar no fortalecimento de uma liderança com certo consenso entre eles, não vai ter tantas divisões. Efetivamente, acredito que vão lutar com o voto útil de um lugar no segundo turno”.
O professor relembra conforme ao Ponto Poder, que, nas últimas eleições para presidente, havia um outro tipo de disputa polarizada, essa entre o Partido dos Trabalhadores e o PSDB, “que foi trocada por um petismo e antipetismo. O petismo é Lulismo e o antipetismo é a liderança do Bolsonaro”, completa.
Nomes como o do ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM), do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), também circundam o grupo que pode despontar como uma via alternativa.
Entre os tucanos haverá uma disputa interna para que o partido que tradicionalmente lança candidatos à Presidência aponte um potencial candidato. Na lista há também o senador cearense Tasso Jereissati e o ex-prefeito de Manaus (AM), Arthur Virgílio.
“O desafio […] é encontrar um ponto em comum. Tem algumas bandeiras que são difíceis de negociar para alguns grupos. Antes de tudo precisa encontrar e fortalecer o ponto em comum e negociar uma agenda que possa contemplar esses diferentes seguimentos”, finaliza a professora Monalisa Torres.