É consenso em Brasília que o senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) conquistou nos últimos anos um lugar na galeria dos políticos mais poderosos do país. Discreto, em 2019 ele ascendeu à presidência do Congresso com o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Articulado, além de exímio operador, foi um dos maiores beneficiários das verbas do chamado orçamento secreto, diz
, da revista Veja. Popular entre seus pares, ele se prepara ainda segundo a reportagem, para voltar ao posto mais alto do Legislativo, com o apoio do governo Lula e sem romper os laços com a oposição. Essas habilidades, porém, ainda não foram suficientes para o senador concretizar um de seus principais projetos: eleger o irmão como prefeito de Macapá. A última tentativa fracassou. O empresário Josiel Alcolumbre chegou a ser anunciado como candidato ao cargo, mas desistiu da disputa na véspera da formalização da chapa. A decisão foi proclamada como um gesto de altivez dos irmãos diante da necessidade de unir a oposição no município. O motivo verdadeiro, no entanto, nada tinha de magnânimo.Pouco antes do início da campanha, as pesquisas já indicavam o absoluto favoritismo de Antônio Furlan, o atual prefeito, que concorre à reeleição. Ele aparecia com 76% das intenções de voto, contra 5% de Josiel. Uma derrota acachapante não seria um bom ponto de partida para dar sequência a um projeto bem mais ambicioso. Davi Alcolumbre planeja governar o estado no futuro. O irmão já havia disputado, sem sucesso, a prefeitura de Macapá em 2020. Um novo fracasso poderia atestar de vez a fragilidade política da família, particularmente do próprio senador — por isso, a decisão de abandonar a disputa. “Eles retiraram a candidatura porque havia entendimento de que a manutenção poderia nacionalizar a campanha, o que não seria bom para ninguém, especialmente para quem quer voltar a presidir o Congresso”, explica o deputado estadual Hildegard Gurgel (União Brasil-AP), aliado dos Alcolumbres no estado. “O nosso foco agora é fazer o maior número possível de vereadores”, destacou.
Mais influente em Brasília, no momento, do que em Macapá, Davi Alcolumbre é o franco favorito para substituir o atual presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco, outro personagem de elite que não demonstra a mesma influência política no seu quintal. Em 2018, o senador elegeu-se por Minas Gerais, batendo nas urnas a ex-presidente Dilma Rousseff. A campanha deixou mágoas entre os petistas do estado. Em 2021, ele foi eleito para comandar o Congresso com o apoio da bancada ligada a Jair Bolsonaro, de quem começou a se afastar meses depois. Em 2023, foi reeleito, dessa vez com o aval de Lula e a benção do PT. Nos últimos meses, em claros acenos ao bolsonarismo, Pacheco tem impulsionado pautas que fustigam o governo. O resultado desse comportamento errático, avaliam os aliados do presidente do Congresso, vem refletindo negativamente na sua principal base eleitoral: Belo Horizonte.
Na capital mineira, dez candidatos disputam a prefeitura. Fuad Norman, aliado de Pacheco, concorre à reeleição. Ele tem o maior arco de alianças, o maior tempo de propaganda na TV e a vantagem da máquina pública. As pesquisas mostram Fuad tecnicamente empatado com outros três candidatos. O apresentador Mauro Tramonte, o líder, aparece com 30%. “Temos levantamentos internos que mostram a melhora no desempenho do prefeito. Ele está subindo e vai se isolar na segunda colocação em breve”, diz, otimista, o deputado estadual Cássio Soares, presidente do PSD no estado. Rodrigo Pacheco tem planos de disputar o governo de Minas Gerais em 2026. Assim como para Davi Alcolumbre, seu candidato vencer em Belo Horizonte seria, acima de tudo, uma demonstração de vitalidade política — dele e do partido. Uma derrota acachapante pode enterrar definitivamente o projeto.
Na categoria dos políticos de primeiro escalão que enfrentam problemas no seu quadrado, o deputado Arthur Lira (PP-AL), o poderoso presidente da Câmara, é, em tese, uma exceção. Em Maceió, se não houver uma reviravolta, é dada como praticamente certa a reeleição do prefeito João Henrique Caldas, o JHC, do PL. Na última pesquisa divulgada pelo instituto Quaest, ele tinha 74% das intenções de voto, o que lhe asseguraria a vitória no primeiro turno. Lira, porém, não está comemorando como gostaria. O favoritismo do prefeito já era esperado e tem mais a ver com a avaliação positiva dos eleitores sobre a administração do que com a influência do deputado. JHC é cotado para disputar o governo do estado em 2026. Se isso se confirmar, o vice assumirá o cargo. Lira tentou até o último momento indicar o candidato a vice, o que lhe permitiria no futuro assumir indiretamente o controle político do maior colégio eleitoral de Alagoas. O santo de casa, porém, não fez milagre.