Além dos novos protocolos sanitários para o dia da votação, a pandemia do coronavírus trouxe outro desafio para as eleições municipais de 2020: repensar as campanhas e as agendas de rua sem contato físico e aglomerações.
Segundo reportagem do jornal Folha, mesmo sem as tradicionais caminhadas pelo comércio com apertos de mão, porém, o corpo a corpo não será abandonado pelos candidatos em São Paulo.
Para evitar o contágio, eles apostam em um número reduzido de saídas, o já obrigatório uso de máscara, distanciamento entre as pessoas e diminuição da quantidade de materiais impressos.
No plano sanitário que define os protocolos para o dia da votação, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) reuniu recomendações para as campanhas em meio à pandemia.
Estão entre as sugestões orientar o uso correto de máscara para os participantes, optar por espaços amplos e abertos quando em contato com outras pessoas e evitar aglomerações e distribuição de material impresso.
“Os candidatos a vereador já têm feito agendas [de rua] pontuais, com uso de máscaras e álcool em gel”, diz Júnior Bozzella, coordenador da campanha de Joice Hasselmann (PSL) à Prefeitura de São Paulo. “A gente não vai abdicar do método tradicional, que são as caminhadas, o corpo a corpo.”
Outros candidatos também afirmam que os encontros presenciais com a população continuam importantes e devem mantê-los neste ano.
“Campanhas que não são financiadas por esquemas com grandes empresas privadas e com pouco tempo de TV, como a nossa, não podem abrir mão do contato direto com a população, e por isso os materiais impressos serão utilizados”, afirma Josué Rocha, coordenador de campanha de Guilherme Boulos (PSOL).
Segundo Rocha, a distribuição e as agendas de rua seguirão os protocolos sanitários, com uso de máscaras e poucas pessoas envolvidas para evitar aglomerações —e a atuação nas redes sociais também será fundamental para a campanha.
O risco de contágio por coronavírus levou a uma alteração de protocolos para o dia da eleição. Entre as medidas, o TSE excluiu a identificação biométrica e o recebimento do comprovante de votação passará a ser facultativo e entregue apenas mediante solicitação do eleitor.
Além disso, em vez de entregar o documento de identificação ao mesário e retirá-lo após a votação, o eleitor deve apenas exibir o documento oficial ou o e-Título (título de eleitor digital) pelo aplicativo, mantendo a distância recomendada de um metro entre as pessoas nos locais de votação.
O protocolo sanitário do TSE também prevê a higienização constante de outras superfícies, como as mesas e cadeiras usadas pelos mesários, e o uso obrigatório de máscaras.
“O risco [de contaminação] existe pela proximidade das pessoas e pela possibilidade de o papel estar contaminado”, explica Leonardo Weissmann, infectologista e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia, sobre a distribuição de material impresso.
Segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, em nota publicada em maio, “com base em estudos de laboratório, é possível uma pessoa contrair Covid-19 por tocar uma superfície ou um objeto que está com o vírus e depois tocar sua boca, nariz ou olhos”. “Mas acredita-se que essa não seja a principal via de transmissão da doença.”
Para a entrega de materiais impressos, a equipe da candidata a prefeita Marina Helou (Rede) pensa em adotar uma espécie de bolha de proteção para os panfleteiros, que também utilizarão máscaras.
Em comparação às campanhas sem pandemia, Helou afirma que as agendas presenciais serão menos comuns, mas que o acesso à internet ainda é desigual na população —e que essa parcela precisa estar incluída na campanha.
Entre os projetos pensados para esse novo contexto, eles planejam um veículo para projetar, em muros das cidades, peças da campanha e um cinema drive-in para captação de recurso em substituição dos eventos presenciais mais tradicionais.
Ranier Grandé, um dos coordenadores de comunicação da campanha de Márcio França (PSB), diz que a agenda de rua será mais pontual que o usual e que a maior preocupação é com o controle para não gerar contato físico e aglomerações.
“Isso nunca é 100% simples, porque é claro que você vai em um lugar e, às vezes, alguém quer apertar a mão do candidato.”
“Você pode estar numa avenida com a militância espalhada, mas não a militância entrando numa loja”, afirma Laércio Ribeiro, coordenador da campanha de Jilmar Tatto (PT), sobre as tradicionais caminhadas pelo comércio durante as eleições. “Vai ter que ser uma coisa mais contida.”
Segundo Ribeiro, a utilização de carro de som e reuniões de forma eletrônica também devem estar presentes na campanha do petista.
Mesmo com a previsão de ir às ruas, as campanhas afirmam que a internet e o engajamento nas redes serão um elemento importante.
A campanha de Andrea Matarazzo (PSD), por exemplo, diminuirá a produção de materiais impressos e substituirá por veiculação de materiais nas plataformas online. Já Levy Fidelix (PRTB) aposta em lives com influenciadores em suas redes e na distribuição de santinhos virtuais.
“O WhatsApp neste momento de início de campanha, ou por quanto durar isso, vai ser o tradicional porta a porta”, afirma Wilson Pedroso, coordenador geral da campanha do prefeito Bruno Covas (PSDB). Mais para frente, avalia Pedroso, propagandas na TV também passam a ter grande peso para os candidatos.
Para Arthur do Val (Patriota), a pandemia serviu como um catalisador de uma nova maneira de fazer campanha em que as redes sociais ganham destaque —e, para ele, que é mais conhecido como o youtuber Mamãe Falei, as plataformas e o WhatsApp devem ser seus principais focos de atuação.
Segundo Renato Batista, presidente municipal do partido, a agenda de rua deve ser consideravelmente menor do que nas últimas eleições, e a distribuição do material impresso também deve ser reduzida.
“O candidato não vai para a rua com dezenas de pessoas contratadas distribuindo planfleto e coisas do tipo.”