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segunda-feira 26 de outubro de 2020 às 07:28h

Eleições 2020: após início da campanha policia registra 7 casos de mortes com candidatos

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327 casos de violência contra candidatos entre 2016 e 2020, aponta estudo

Pesquisa sobre violência na política, conduzida pelas organizações não-governamentais Terra de Direitos e Justiça Global mostra que de janeiro de 2016 a 1º de setembro de 2020 foram mapeados 327 casos de violência contra políticos eleitos, candidatos e pré-candidatos, que incluem ameaças, agressões e ofensas.

Mas é o aumento de assassinatos e atentados que mais assusta: 125, em 24 estados do Brasil. E a violência vem crescendo. De 2016 para 2019, o número de crimes deste tipo quase triplicou. Foi de 46 em 2016 para 136 em 2019. Com o início da campanha eleitoral, pelo menos, outros 7 casos de mortes e atentados foram registrados, depois que a pesquisa foi concluída.

“É possível mapear casos de violência contra candidatos e pessoas eleitas no Brasil em todos os anos, mas a eleição funciona como um gatilho que faz aumentar o número de casos. É importante destacar também que esses casos, majoritariamente, têm se repetido nos estados de maior violência no país, portanto, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Pará”, diz a pesquisadora Élida Lauris, coordenadora da ONG Terra de Direitos.

Adriano Magalhães, candidato à prefeitura de Dom Eliseu, no sul do Pará pelo partido Solidariedade foi morto a tiros. Ninguém viu de onde partiu o tiro que o matou. Era a primeira vez que ele participava de uma eleição. Advogado, tinha sido secretário municipal por dois anos. A família diz que Adriano não tinha inimigos. A polícia investiga o assassinato.

Adriano, duas irmãs e assessores tinham acabado de sair do comício e iam jantar, às margens da BR-010. “A gente já jantou, ele amava comer manga verde. Ele estava cortando uma manga pra comer com sal, de cabeça baixa, eu tava no celular, todo mundo de cabeça baixa, quando ouvimos o barulho de um tiro, todo mundo se levantou, todo mundo se assustou, eu vi ele caindo, ele tava sentadinho no banco, ele ir caindo, eu segurei ele no meu braço e gritei por socorro e todo mundo ficou desnorteado sem saber o que fazer”, diz a irmã de Adriano, Aylane.

“É um absurdo, continuar acontecendo isso numa democracia, (…)Como acontecia no tempo dos coronéis. Nós queremos descobrir quem apertou o gatilho, mas também quem foram os mandantes”, diz. “A família inteira está refém, todo mundo dentro de casa, sem sair pra lugar nenhum, não temos contato mais com ninguém, a preocupação com a segurança está muito grande. A família tá acabada, arrasada, eles não mataram somente meu irmão, eles mataram um pedaço de toda a família dele. O pai e mãe estão arrasados. Não é a ordem natural da vida, um pai enterrar um filho, ainda mais o último filho, o caçula. Ele tava rezando na hora da morte do meu irmão, tava rezando pelos filhos, para que Deus protegesse os filhos dele. Ele levou um choque muito grande, um senhor de quase 80 anos. Na hora da morte do meu irmão, ele tava pedindo a Deus que o protegesse, ele tinha muito medo que pudessem fazer algum mal…”

Foi em Parauapebas, no Pará, que Julio César, candidato a prefeito pelo PRTB, sofreu um atentado. “Foi tudo muito rápido, fomos surpreendidos e senti aquele impacto no peito”, diz. Julio estava no banco do carona. Voltava de um evento de campanha, acompanhado de assessores. Quando passavam por uma estrada estreita, de terra, eles começaram a ser perseguidos por um carro, e viram que, nele, havia três homens usando máscaras. Um deles fez vários disparos.

Um tiro atingiu o tórax de Julio César. “Eu levei um tiro no peito, graças a Deus, Deus me livrou, eu tive um milagre. Estamos todos assustados, não sabemos quem fez, quem mandou fazer, não temos a tranquilidade de sair na rua hoje.”

A polícia investiga o crime. Até agora, ninguém foi preso. Segundo a pesquisa, em apenas 12% dos casos de violência contra políticos o suspeito é identificado.

O pré-candidato a vereador, Cássio Remis, do PSDB, foi morto a tiros, em Patrocínio, Minas Gerais. O suspeito é Jorge Marra, secretário de obras e irmão do prefeito.

Cássio iria concorrer pela terceira vez ao cargo de vereador. Entre 2008 e 2016, tinha sido eleito para dois mandatos. Nos últimos anos, fazia oposição à gestão do atual prefeito, Deiró Marra. Em um vídeo, transmitido ao vivo, poucos minutos antes de ser baleado, Cássio criticava uma obra da prefeitura. Ele diz que o secretário chegou para o agredir. Jorge corre em direção a ele. Pouco depois, as câmeras do estacionamento mostram o secretário pegando uma arma no carro e atirando em Cássio.

“Às vezes, alertava, mas o Cássio sempre colocava o seguinte: … Não, pai, pra mim parar, só se for na bala. Eis que, de repente, a bala conseguiu pará-lo de forma covarde, traiçoeira. Ficou um vazio muito grande pra nós, porque ele não fazia nada sem falar comigo, então, ele ligava constantemente. Chegava fim de semana, eu me ligava, eu não atendia, ele ligava pra mãe. Cadê papai?”, diz o pai de Cássio, Marcos Rémis.

Jorge Marra está preso. O prefeito exonerou o irmão e negou envolvimento com a morte de Cássio.

Em 91% dos assassinatos e atentados, os alvos são candidatos a vereador ou a prefeito e eleitos.

“São homens matando homens, numa lógica de disputa e acesso ao poder”, diz a pesquisadora. “Conflitos territoriais, conflitos relacionados a atuacão ilícita por parte de agentes municipais, portanto, corrupção, conflitos na própria gestão das campanhas eleitorais, dívidas de campanha que, depois, são resolvidas de forma violenta, conflitos político-partidários, esse fenômeno de polarização, que gera a solução pela violência, a divergência partidária é resolvida pela violência.”

Se em quase todo o país, os crimes são concentrados nas cidades do interior, o estado do Rio de Janeiro é uma exceção. As milícias que atuam na capital e na região metropolitana são as maiores responsáveis pelo alto número de mortes e atentados. No início do mês, dois candidatos foram assassinados, num intervalo de dez dias, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.

Um levantamento divulgado pelo G1, feito pela Universidade Federal Fluminense, pela Universidade de São Paulo e por outros institutos que pesquisam a violência, mostra que a ação das milícias já atinge uma parcela maior da população da cidade do Rio de Janeiro, do que o tráfico de drogas. A partir da análise de dados do disque-denúncia, os pesquisadores estimaram em um terço o total de moradores que vive sob a influência de milícias. São mais de dois milhões de pessoas.

O jornalista Bruno Paes Manso, que escrveu um livro sobre a atuação de milícias e outros grupos paramilitares, diz que eles são um grande risco para a democracia.

“Me parece que o aspecto mais importante disso é justamente a proibição de a oposição fazer campanha nos lugares. No que consiste o modelo de negócio miliciano? Você extrai com taxa de proteção aos moradores, extrai com taxa de proteção aos comerciantes, vendendo imóveis irregulares em áreas protegidas ambientalmente, uma série de monopólios de negócios que vão desde a venda de gás, cigarros clandestinos e tudo mais…. Quando você tem candidatos coniventes com esses grupos, você barra esse tipo de fiscalização e eles continuam ganhando muito dinheiro com esses negócios que sustentam seus negócios criminosos”, diz.

Na semana passada, 17 suspeitos de envolvimento com milícias foram mortos em operações policiais, no Rio de Janeiro. Trinta foram presos. A polícia civil do estado e o tribunal regional eleitoral montaram uma força-tarefa para combater a ação das milícias nessa eleição.

“Você tem milícia que lança o próprio candidato e você tem milícia que faz acordo com candidatos para que o nome não seja da milícia, mas seja vinculado à milícia”, diz o secretário de Polícia Civil do Rio de Janeiro, Allan Turnowski. “Já temos, hoje, como eu falei, 3 candidatos já investigados, já intimados para depor, e outros 10 sendo investigados, serão ou não intimados de acordo com a investigação.Porém esses 13 candidatos, se comprovada a participação da milícia, o apoio da milícia, serão cassados pelo Tribunal Regional Eleitoral com base na investigação da Polícia Civil.”

O ministro Luís Roberto Barroso, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, falou sobre a gravidade da violência política no Brasil e o papel da Justiça Eleitoral para ajudar a combater esses crimes.

“A milícia é um componente grave e dramático da segurança pública em muitas partes do Brasil, com repercussão eleitoral e existe uma violência política pelo interior do Brasil que é trágica. O papel preventivo da Justiça Eleitoral é limitado. Alguns crimes eleitorais nós receberemos, podemos processar e condenar as pessoas. Nós temos sim uma assessoria de segurança em conexão com o Brasil inteiro e no âmbito federal, do Ministério da Justiça, também temos o monitoramento da prática de crimes em todos os estados da federação.”

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