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A presidente da Hungria, Katalin Novak, é recebida por Jair Bolsonaro em Brasília - Foto Sergio Lima / AFP
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segunda-feira 18 de julho de 2022 às 06:18h

Eleição no Brasil mobiliza extrema direita no mundo, diz coluna

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A eleição de outubro no Brasil mobiliza movimentos e partidos ultraconservadores no exterior, numa demonstração segundo Jamil Chade, do UOL, da importância do país para os projetos da extrema direita. Para esses grupos, o que está em jogo não é o destino de um presidente. Mas a força internacional do movimento que, hoje, usa o Brasil como uma de suas principais plataformas para garantir que suas reivindicações sejam defendidas na agenda internacional.

A extrema direita perdeu força na América Latina, foi derrotada nos EUA e, na Europa, vive um momento de redefinição de estratégias. Jair Bolsonaro (PL), portanto, representa a capacidade de o movimento manter sua influência em fóruns internacionais, fazer lobby em diferentes resoluções e frear avanços da agenda progressista.

De acordo com diplomatas europeus ligados a governos de extrema direita, uma derrota de Bolsonaro “reposicionaria” a agenda do grupo.

Não por acaso, nas últimas semanas, o governo de Bolsonaro vem recebendo diversas personalidades dos grupos ultraconservadores internacionais. Um deles foi Tucker Carlson, o apresentador vedete da Fox News. O canal americano é o principal veículo de apoio ao trumpismo e ao movimento de base mais radical dos republicanos.

A coluna apurou que a recepção do americano foi organizado sem o envolvimento do Itamaraty, que, quando soube das entrevistas agendadas com figuras do Executivo, se apressou para preparar uma espécie de guia para evitar a abertura de crises diplomáticas a partir do que o presidente e outros entrevistados poderiam declarar.

O tom usado pela Fox News para falar das eleições no Brasil foi interpretado em parte do Itamaraty como um sinal de que o movimento ultraconservador vai enquadrar a votação no país em outubro como um momento importante para a sobrevivência da extrema direita. Nas redes sociais, o Brasil é apresentado como uma trincheira contra o avanço da esquerda pela América Latina.

Outra visita no final de junho ao governo Bolsonaro foi de Valerie Huber, que ocupou o cargo de representante de Donald Trump para temas relacionados com a família e a ofensiva antiaborto. Durante sua passagem pelo Brasil, ela chegou a ser recebida por diplomatas no Itamaraty, além de representantes de outros ministérios.

Antes de deixar o governo nos EUA, diante da derrota de Trump, um email enviado por ela ao movimento ultraconservador em várias partes do mundo revelava que incumbência de liderar os temas relacionados à agenda extremista caberia ao Brasil de Bolsonaro.

Na semana passada, a visita foi da presidente da Hungria, Katalin Novak, uma cria do líder populista Viktor Orban. O país serve como uma espécie de Meca da extrema direita, com um modelo estabelecido de controle total da imprensa, parlamento e Judiciário.

Sua passagem foi usada para reforçar as bandeiras de costumes e valores ultraconservadores, além dos ataques contra o “comunismo”.

“Temos muita coisa em comum, em especial a defesa dos valores familiares. Somos pela liberdade religiosa, pela liberdade da imprensa. E eu disse-lhe agora há pouco que tenho um rito de todo dia antes de levantar e antes de ir para presidência, dobrar o joelho, rezar um pai nosso, e pedir para que o povo brasileiro não experimente as dores do comunismo”, disse Bolsonaro.

Ao discursar, Novak insistiu sobre a necessidade de que governos atuem para impedir a queda no número de casamentos e deixou claro sua rejeição às relações entre pessoas do mesmo sexo. “Nós acreditamos que a mãe é mulher e que o pai é homem, e não aceitamos outro tipo de justificativa”, disse.

A coluna apurou que, dentro do governo húngaro, uma derrota de Bolsonaro terá um impacto para o futuro do movimento de extrema direita no mundo.

Novák escolheu o Brasil como seu primeiro destino de uma viagem internacional para fora da Europa, desde que tomou posse. Se a relação entre Brasil e Hungria beirava à irrelevância antes da chegada de Bolsonaro ao poder, ela passou por uma transformação radical nos últimos três anos.

O envolvimento de grupos estrangeiros ainda contou com a realização de uma reunião da Conservative Political Conference, em meados de junho. A entidade se autodenomina de “maior evento ultraconservador do mundo” e, com base nos EUA, é uma das principais plataformas da difusão de que as eleições americanas foram fraudadas.

Enquanto isso, a agenda da diplomacia paralela foi intensificada, com a secretária da Família, Angela Gandra, liderando os contatos com grupos ultrareligiosos e partidos de extrema-direita da Europa. Nas últimas semanas, ela ainda tem visitado embaixadas estrangeiras em Brasília.

No início de julho, em Londres, coube à ministra da Família, Mulheres e Direitos Humanos, Cristiane Britto, participar da Conferência Internacional sobre Liberdade de Religião, uma coalizão formada por 36 países.

Há ainda aqueles grupos que apoiam o brasileiro por puro interesse doméstico. Na Espanha, a oposição venezuelana exilada não disfarça a torcida por Bolsonaro. Para o grupo, ele seria um dos últimos a se contrapor de forma vocal contra Nicolas Maduro, acusado de minar a democracia na Venezuela.

Na condição de anonimato e questionados sobre os ataques contra a democracia por parte do brasileiro, membros da oposição venezuelana ironizaram: “cada um com seus problemas”.

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