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domingo 17 de dezembro de 2023 às 11:57h

Eleição na Sérvia deve reforçar governo populista de direita

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Sondagens dão vitória a partido do presidente Aleksandar Vucic, homem forte da política do país há praticamente uma década. Oposição espera vencer na capital.A Sérvia realiza neste domingo (17/12) eleições parlamentares e locais, incluindo na capital, Belgrado, em um pleito antecipado que indica uma sexta vitória consecutiva do partido do presidente sérvio, Aleksandar Vucic, homem forte da política do país há praticamente uma década. Estas são as quintas eleições no país no período de 10 anos.

Embora o populista de direita Vucic não participe oficialmente como candidato, a votação é considerada um referendo sobre seu governo.

As principais forças da oposição (pró-Europa), que surgem coligadas, exigiam desde maio a convocação de legislativas antecipadas na sequência de dois graves incidentes armados em menos de 24 horas, que provocaram 19 mortos, incluindo 10 numa escola de Belgrado.

Os dez partidos que se posicionam da esquerda à centro-direita concorrem sob a sigla “A Sérvia contra a violência” (SPN), lema usado nas manifestações semanais organizadas em Belgrado e outras cidades após os dois massacres, para denunciar a “cultura da violência” que dizem ser promovida pelas autoridades.

Controle sobre a mídia

A SPN é uma coligação de uma dúzia de formações heterogêneas de centro-esquerda, verdes e centro-direita e pró-europeias, unidas pela primeira vez com o objetivo comum de derrotar Vucic, a quem acusam de controlar as instituições e a maior parte dos meios de comunicação.

As últimas eleições presidenciais, legislativas e municipais, num país com 6,5 milhões de habitantes, ocorreram em abril de 2022 com a participação de parte da oposição, que tinha decidido boicotar o pleito de 2020, ao denunciarem um estilo de governo “autocrático” e um estrito controle sobre a mídia e sobre instituições públicas.

No ano passado, o Partido Progressista Sérvio (SNS) de Aleksandar Vucic, e os parceiros de coligação obtiveram 120 dos 250 lugares no Parlamento, e Vucic foi reeleito presidente para um segundo mandato.

A renovada coalizão de seis partidos liderados pelo SNS apresenta-se agora sob a sigla “Alexandar Vucic – a Sérvia não pode parar”, e as sondagens apontam de novo para uma vitória desta corrente conservadora e pragmática.

A segunda coligação de três partidos que apoia o poder é dirigida pelo Partido Socialista da Sérvia (SPS) do vice-primeiro-ministro e chefe da diplomacia Ivica Dacic, que tem garantido uma confortável maioria parlamentar ao SNS, no poder desde 2012 após cinco eleições vitoriosas, mas sem nunca ter cumprido a totalidade do mandato.

Sondagens dão 40% a partido de Vucic

As sondagens dão ao SNS 40% dos votos e à coligação de oposição SPN cerca de 26%.

O SPS, parceiro tradicional do SNS, obteria 9% dos votos e três outros partidos de oposição de direita entre cerca de 3 e 6,5%.

Os partidos minoritários também entrariam no Parlamento, para o qual não existe o limite mínimo de 3%.

Analistas avaliam que uma maior participação no pleito, que na Sérvia costuma ser ligeiramente inferior a 60%, favoreceria a oposição, que tem tentado motivar os eleitores indecisos e abstinentes a votar.

“Como se fosse campanha presidencial”

Apesar de não ser candidato, o presidente sérvio “tem dominado o debate público, e fornece a impressão de estar realizando uma campanha presidencial e não legislativa”, avaliou o think tank Centro para a Pesquisa, a Transparência e a Responsabilidade (CRTA). Vucic “ocupa cerca de metade do tempo de informação política nas principais mídias”, acrescentou.

Em levantamento recente, a organização atribuiu 49% das intenções de voto à coligação de Vucic, e 40% à “Sérvia contra a violência”, mas com possibilidade de uma vitória da oposição no município da capital, que teria um importante significado político.

Vucic, 53 anos, que assim deverá confirmar a recondução da sua maioria parlamentar, fez da campanha para estas legislativas antecipadas um referendo sobre o seu mandato.

Petição

Perante o protagonismo de Vucic, a oposição tentou novas formas de agitar a “sociedade civil”. Em meados de novembro, cerca de 70 mil pessoas apoiaram uma petição emitida por personalidades públicas que convidava a população sérvia a participar nas legislativas e municipais.

Os cidadãos também tiveram a possibilidade de assinar a petição por via digital, que propunha “encorajar um processo no qual todos nos envolvemos para as mudanças que o país precisa”.

Em uma reação quase imediata, a primeira-ministra da Sérvia, Ana Brnabic, considerou que o apelo foi lançado no âmbito da campanha eleitoral da oposição e considerou-o “um insulto a todos os cidadãos”, um argumento utilizado com frequência pelo poder.

Proveniente da corrente ultranacionalista mas que desde 2008 ensaiou uma aproximação à União Europeia, Vucic surge como um líder empenhado em garantir investimentos, criar empregos, e muito ativo durante toda a campanha eleitoral, com numerosas deslocações pelo país.

A sua projeção na arena internacional também foi um dos argumentos da campanha, quando acolheu no aeroporto alguns dias antes das eleições a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, ou a longa conversa que manteve na cúpula do clima da ONU (COP28) com o presidente dos Emirados Árabes Unidos, Mohamed ben Zayed al-Nahyane.

Entre UE e Rússia

No seu longo mandato, se equilibrou entre a União Europeia, que mantém conversações de adesão com Belgrado, e a Rússia, de onde provém a quase totalidade do gás consumido na Sérvia; a China, com os seus grandes investimentos, e os Emirados, que financiam parte dos grandes projetos urbanísticos em Belgrado.

Para os seus apoiadores, os anos de Vucic significam o regresso da ordem, e uma atração inédita de investimento direto estrangeiro.

A imagem que o poder transmite de uma Sérvia com “política autônoma, independente e livre” – Belgrado não se juntou às sanções ocidentais contra a Rússia – e sua intransigência face à questão do Kosovo com a recusa em não reconhecer independência da antiga província do sul autoproclamada em 2008, têm garantido um considerável apoio popular.

Vucic também defende a neutralidade militar do seu país, mas “com relações normais, profissionais e corretas com a Otan”, como afirmou no início deste mês.

Oposição acusa populismo e autoritarismo

Já seus críticos o acusam de populismo e autoritarismo, num contexto em que as vozes dissonantes são marginalizadas e consideradas como “degeneradas” ou de “traidores”.

Os receios de um regresso da instabilidade regional foram agravados em setembro, quando um grupo armado liderado por Milan Radoicic, um dos dirigentes da Lista Sérvia, a principal formação dos sérvios do Kosovo e próxima de Belgrado, organizou um ataque na localidade de Banjska, norte do Kosovo, com a morte de um policial albanês kosovar e três atiradores. Um novo desafio para a União Europeia, que há mais de dez anos assume a mediação entre Belgrado e Pristina, sem sucessos visíveis.

As eleições de domingo são acompanhadas por 75 observadores da Assembleia Parlamentar da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), a 12ª presença de uma delegação eleitoral deste organismo desde 1997.

O austríaco Reinhold Lopatka, vice-presidente da Assembleia Parlamentar da OSCE foi designado o coordenador especial da missão, e considerou que “atendendo aos crescentes desafios internos e internacionais estas eleições surgem num momento muito importante para a Sérvia” e manifestando “confiança que a missão de observação forneça uma avaliação ampla e imparcial para benefício do povo sérvio e das autoridades”.

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