A história de destaque da última eleição em Israel foi o grande aumento na popularidade da direita radical — para a alegria de jovens eleitores religiosos.
“As coisas vão melhorar agora. Quando ele for o ministro da Segurança Pública, elas ficarão ainda melhores”, disse Julian, um apoiador entusiasmado do político incendiário Itamar Ben-Gvir, na sede da campanha dele.
“Ele quer o melhor para Israel. Ele quer que os terroristas saiam”, disse Noam em um assentamento na Cisjordânia ocupada. “Nós não queremos os árabes. Eles jogam pedras em nós e tomam nossos lugares em Israel”, continuou ele, antes de ser silenciado por um ativista do partido.
Embora Ben-Gvir — anteriormente condenado por racismo em Israel — esteja agora tentando se eleger como um político mais convencional, ele não mudou totalmente a sua retórica antiárabe.
“É hora de sermos os donos deste país novamente”, disse ele depois que as pesquisas de boca de urna foram publicadas na noite de terça-feira (1/11).
Os seus apoiadores em Jerusalém mantiveram seu novo canto de “morte aos terroristas”, por vezes adaptado a “morte aos árabes”.
Outros jornalistas e eu estamos acostumados a cobrir as ações provocativas de Ben-Gvir na disputada Jerusalém Oriental ocupada. Mais de uma vez eu o vi liderando com júbilo manifestantes ultranacionalistas por meio de uma região sensível para palestinos, na Cidade Velha no Dia de Jerusalém de Israel.
No mês passado, ele inflamou as tensões no bairro de Sheikh Jarrah, ao apontar uma arma para os palestinos durante os confrontos.
Agora, como co-líder do terceiro maior partido, o Sionismo Religioso, ele espera ocupar um cargo de destaque no gabinete, supervisionando a polícia.
Uma jovem apoiadora da facção Oztma Yehudit (Poder Judaico) de Ben-Gvir, Tzori Elmakiyes, de 17 anos, de Jerusalém, disse que os resultados foram “muito gratificantes”, minimizando os temores dos críticos.
“Não acho que os oponentes de Oztma Yehudit devam se preocupar porque, no final das contas, o melhor interesse do partido é o povo e o país de Israel.”
Fim do impasse
Falando a seus seguidores do partido Likud, Benjamin Netanyahu sorriu ao prever seu retorno um ano depois de ter sido dramaticamente deposto do cargo de primeiro-ministro por uma ampla coalizão de seus oponentes.
O povo quer um governo que projete “poder, não fraqueza”, disse ele, com a voz rouca por conta da campanha. Ele foi respondido com gritos de “Rei Bibi” — o apelido usado pelos fãs.
Se, como esperado, os resultados finais das eleições confirmarem que o líder veterano pode agora construir um governo de maioria estável com seus aliados judeus ultranacionalistas e ultraortodoxos, isso também encerrará quase quatro anos de um impasse político sem precedentes.
O país está profundamente dividido pelas acusações de corrupção pelas quais Netanyahu continua sendo julgado. Ele sempre negou qualquer irregularidade, acusando seus oponentes de uma caça às bruxas política.
“Este é um cara que não desiste. Não importa quão ruim pareça e por mais que tenha sido desonrado ao deixar o gabinete do primeiro-ministro”, diz o pesquisador Mitchell Barak.
Ele sugere que Netanyahu se beneficiou com a passagem do tempo.
“Aqueles que queriam puni-lo, puniram-no”, diz ele, acrescentando que podem ter perdido a “estabilidade” que Netanyahu acredita que representava.
Declínio da esquerda
Em Tel Aviv, houve um clima moderado durante a noite quando o atual primeiro-ministro interino, Yair Lapid, dirigiu-se ao seu partido Yesh Atid (Há um Futuro), insistindo que os israelenses queriam a política “livre de incitação ao ódio”.
No entanto, sua experiência de construir uma coalizão ideologicamente diversa — composta por partidos de direita, centristas, de esquerda e árabes — acabou durando pouco.
Seu mandato também foi o ano mais letal para israelenses e palestinos desde 2015, em meio a um aumento da violência. No entanto, seu governo continuou prestando pouca atenção às formas de resolver o conflito israelense-palestino.
Isso foi decepcionante para Haggai Mattar, editor da revista progressiva +972.
Esses resultados eleitorais também viram uma queda ainda maior no apoio aos partidos de esquerda de Israel.
“Os israelenses de esquerda agora precisam parar um momento e pensar em como chegamos a esse estado”, diz Mattar, desanimado.
“A esquerda precisa de uma reformulação ou repensar — novas atitudes”, continua ele. “Mas também pode ser um acidente terrível do qual levaremos muito tempo para nos recuperar.”
Mas Anshel Pfeffer, jornalista do jornal Haaretz, diz que as últimas eleições apenas expuseram o que já era uma tendência clara.
“Há uma identidade interna ou guerra cultural em Israel entre o que algumas pessoas veriam como os lados mais liberais e abertos da sociedade israelense versus os lados mais religiosos e extremos da sociedade israelense e judaica”, observa ele.
“Isso não é realmente novo, mas (Netanyahu) agora realmente expandiu isso para seus próprios propósitos políticos.”
Netanyahu conseguiu aproveitar uma guinada para a direita que observei cobrindo política aqui nos últimos 10 anos. Agora que os ultranacionalistas ganharam poder e eles podem ser difíceis de serem controlados.