Faltando menos de um ano para as eleições, pesquisas sobre intenções de voto começam a aparecer com cada vez mais frequência no noticiário.
Atualmente, conforme reportagem do UOL, pelo menos 12 institutos já realizam levantamentos públicos sobre em quem os brasileiros pretendem votar para presidente este ano. E os dados apresentados por eles podem divergir.
Levando isso em conta, como saber qual pesquisa é confiável? O portal ouviu especialistas no assunto para tentar responder a essa pergunta.
Transparência em 1º lugar
Uma pesquisa confiável é uma pesquisa transparente. Isso é o que dizem todos os pesquisadores e estudiosos ouvidos pelo UOL.
Todo instituto que realiza pesquisas minimamente críveis precisa informar quantas pessoas ouviu em seu levantamento, em que dias elas foram ouvidas, como elas foram abordadas, que perguntas foram feitas a elas e quem pagou pelo levantamento.
O TSE (Tribunal Superior Eleitoral), inclusive, exige que esses dados sejam registrados junto ao órgão pelos institutos de pesquisa que realizarem levantamentos sobre intenção de voto durante o ano eleitoral buscando garantir a qualidade das informações divulgadas.
De acordo com o professor Oswaldo Amaral, diretor do Cesop (Centro de Estudos da Opinião Pública), da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), quanto mais se sabe como a pesquisa foi realizada, mais é possível confiar nos seus resultados.
“É possível divulgar além dos dados exigidos pelo TSE”, complementou Aranha. “Quanto mais um instituto expõe sua metodologia, sua forma de trabalho, mais confiável ele é.”
Amostra adequada
A metodologia da pesquisa, aliás, é outro aspecto que precisa ser considerado. O professor Glauco Peres da Silva, coordenador do Grupo de Estudos Eleitorais do Neci (Núcleo de Estudos Comparados e Internacionais) da USP (Universidade de São Paulo), lembra que existe uma ciência por trás das pesquisas de intenção de voto. Ela precisa ser respeitada.
“É preciso ouvir, da forma mais aleatória possível, uma quantidade de pessoas que vão compor um perfil mais próximo da realidade do todo do eleitorado brasileiro”, explicou Silva. “Só assim o resultado da pesquisa vai refletir o mais fielmente possível a opinião de todos.”
Tomar o cuidado para que nem só jovens ou só ricos, por exemplo, sejam ouvidos num levantamento é atentar-se para a construção de uma amostra adequada de entrevistados. Institutos de pesquisa precisam considerar dados oficiais do Censo e do próprio TSE para construir uma boa amostra —e informar como isso foi feito.
Sem esse trabalho, é grande a chance de uma pesquisa ser feita de forma enviesada. Dessa forma, os resultados do levantamento seriam pouco confiáveis.
Já o estatístico Neale Ahmed El-Dash, que estudou métodos de pesquisa durante seu doutorado na USP, afirmou que existem números mínimos para um levantamento eleitoral. Um levantamento feito com menos de mil entrevistas, segundo ele, é pouco crível.
Prós e contras
Construída uma amostra adequada, é hora abordar os entrevistados. Cada instituto tem uma forma de fazer esse trabalho. Não existe, a princípio, uma forma certa ou errada de fazê-lo, mas as diferenças entre elas podem ter impactos nos resultados.
No Brasil, a forma mais tradicional de realizar pesquisas é com entrevistas pessoais. Há institutos, como o Ipec, que vão até a casa do eleitor, e aqueles, como o Datafolha, que o abordam enquanto ele passa por um certo ponto da cidade. Em pesquisas eleitorais, geralmente os nomes dos candidatos são apresentados num disco de papel para que nenhum candidato apareça como primeira ou última opção de uma lista estabelecida.
Há especialistas que consideram a abordagem presencial mais isenta. Há outros que veem limitações. “Há condomínios de alto padrão em que um pesquisador não entra, assim como há locais em que a insegurança impede o acesso”, ressaltou El-Dash.
Ele disse que, mais recentemente, no Brasil, institutos de pesquisas têm realizado levantamentos por telefone, como o PoderData. Isso elimina as dificuldades de acesso de pesquisadores, mas obriga que candidatos sejam apresentados em lista e faz com que eleitores sem telefone nunca sejam ouvidos no levantamento.
“Já as pesquisas por email ou via site só abordam quem acessa a internet”, completou El-Dash. “A internet é a forma menos confiável de realizar levantamentos.”
Reputação a zelar
O pesquisador e coordenador do Conselho de Opinião Pública da Abep (Associação Brasileira das Empresas de Pesquisas), João Francisco Meira, acrescentou também que institutos com anos de trabalho, em tese, podem ser considerados mais confiáveis.
“Um instituto vive de sua reputação. Se uma empresa está há anos sendo contratada para realizar pesquisas eleitorais, é porque ela deve fazer um bom trabalho”, disse Meira. “Claro que há novos institutos sérios, mas o histórico de pesquisas é um bom indicador.”
Meira lembra que uma pesquisa nacional sobre intenção de votos para presidente chega a custar R$ 400 mil, pois envolve entrevistas com até 9.000 pessoas, em mais de 300 municípios. Segundo ele, institutos de pesquisas que não realizam levantamentos confiáveis dificilmente conseguem vender um serviço tão caro a alguém.
“Instituto que realizam pesquisas divulgadas por emissoras de televisão e jornais, por exemplo, têm seus resultados expostos para checagem de qualquer um”, acrescentou Amaral, do Cesop-Unicamp. “Têm resultados historicamente mais confiáveis.”
Autorregulação
Meira, da Abep, disse que empresas que são filiadas à entidade estão sujeitas a auditorias da associação. Por isso, precisam realizar levantamentos com metodologias alinhadas às melhores práticas e, assim, teoricamente mais confiáveis.
Ele, novamente, ressalta que há institutos confiáveis que, por diferentes razões, decidem não se vincular à Abep. Desta forma, não estar filiado à entidade não é um sinal automático de má qualidade de pesquisas ou de manipulação de dados.
O próprio site da Abep (https://www.abep.org/) informa, no diretório de filiados, que empresas estão sujeitas à autorregulação do setor de pesquisas.
“Nos EUA, essa autorregulação funciona muito bem”, complementou El-Dash. “Acho que esse tipo de controle pode funcionar no Brasil também.”
Os conselhos regional e federal de estatística também monitoram e fiscalizam as pesquisas eleitorais. O trabalho, contudo, não é simples e não consegue dar conta de todos os levantamentos sobre intenção de voto realizados no país, segundo Maurício Gama, presidente do Confe (Conselho Federal de Estatística).
“Para ter certeza de que uma pesquisa foi realizada adequadamente, teríamos de acompanhar todas as entrevistas. São inúmeras pesquisas sendo realizadas em ano eleitoral. É um trabalho impossível de se realizar”, admitiu Gama.
Comparar levantamentos ajuda
El-Dash disse que uma boa forma de atestar a confiabilidade de resultados de pesquisas eleitorais é fazendo comparações. De acordo com ele, se cinco institutos mostram uma realidade semelhante e um sexto tem dados destoantes, é grande a chance de esse instituto ter cometido erros em sua pesquisa.
Por isso, ele recomenda que os leitores sempre verifiquem mais de uma pesquisa para acompanharem a corrida eleitoral. E que desconfiem de resultados atípicos. “Se uma pesquisa mostra um candidato com 20% das intenções de voto e outra mostra esse candidato com 30%, é grande a chance de a realidade estar em 25%”, explicou.
“Quanto mais informação e pesquisas disponíveis, melhor”, ratificou o Meira, da Abep. “O conjunto de dados traz informações mais confiáveis ao eleitor.”
Pesquisa é cenário naquele momento
Amaral, do Cesop-Unicamp, ainda destaca que pesquisa eleitoral é “não é ciência exata” nem serve para prever o futuro. O levantamento, na verdade, busca apresentar as intenções de votos num determinado período.
Assim, não é porque um instituto informou em julho que um candidato tinha 15% das intenções de voto que, em outubro, na urna, ele deve ter os mesmos 15% de votos. De julho a outubro, muita coisa pode acontecer e influenciar a alterar a preferência do eleitorado.
Silva, do Neci-USP, lembrou que os resultados de pesquisas por si só já influenciam a intenção de voto dos eleitores. “Há o voto útil”, ressaltou. “Um eleitor pode mudar seu voto se uma pesquisa na véspera da eleição apontar que seu candidato não tem chance de ganhar, por exemplo.”
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