domingo 22 de dezembro de 2024
Registro do momento exato em que o então presidente George W. Bush foi informado do segudno avião que atingiu o WTC — Foto: Doug Mills/AP
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sexta-feira 10 de setembro de 2021 às 13:15h

‘Ele me disse que a América estava sob ataque’: veja como George W. Bush, FHC e outros receberam a notícia dos atentados de 11 de setembro

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Os ataques do dia 11 de setembro de 2001 foram muito marcantes e, por isso, após exatos 20 anos, é comum que as pessoas se lembrem minuciosamente de como receberam a notícia dos ataques.

Conforme matéria do G1, para as pessoas públicas ou profissionais de imprensa não foi diferente: aqueles momentos foram de grande comoção e, por isso, são marcantes.

George W. Bush, então presidente dos EUA

George W. Bush era o presidente dos EUA em setembro de 2001. Ele havia visitado uma escola na Flórida para conversar com crianças de 8 anos. Bush tinha preparado um discurso sobre evasão escolar.

Antes de o presidente entrar na sala, a encarregada de segurança da Casa Branca afirmou que um avião havia colidido com uma das torres do World Trade Center. No entanto, ainda se pensava que era um avião pequeno, poderia ser apenas um acidente.

O presidente foi ler um livro com as crianças. Pouco depois, o segundo avião atingiu a outra torre.

O chefe de gabinete, Andrew Card, entrou na sala. “Card chega e diz que o segundo avião bateu na segunda torre, a América estava sob ataque. E eu estou olhando uma criança lendo. Aí vejo a imprensa no fundo da sala começando a receber a mesma mensagem que eu tinha acabado de receber. E eu conseguia ver o horror na cara dos jornalistas que acabavam de receber a mesma notícia. Numa crise, é muito importante adotar um certo tom e não ficar em pânico. Por isso estava esperando o momento apropriado para deixar a sala. Não queria fazer nada dramático. Não queria saltar da cadeira e assustar a turma de crianças. Por isso fiquei esperando”, conta Bush no documentário “Inside the President’s War Room”, lançado este ano.

A comitiva voltou ao aeroporto e entrou no avião presidencial. A decisão foi não voltar a Washington DC naquele momento —a Casa Branca poderia ser um alvo. O avião foi primeiro para uma base no estado da Louisiana. De lá, foi para uma outra base no Nebraska, onde havia uma reunião por videochamada. Finalmente, a comitiva voltou a Washigton DC. No voo, era possível ver a fumaça que saía do prédio do Pentágono, a sede das Forças Armadas dos EUA. Na noite daquele dia, ele fez um discurso da Casa Branca no qual deixou claro que o país iria responder.

Fernando Henrique Cardoso, então presidente do Brasil

Fernando Henrique Cardoso era o presidente do Brasil em 2001. Ele relatou, em 2011, como foi aquele dia, num vídeo para um canal de Youtube dedicado a divulgar seu trabalho.

“Estava no Palácio do Alvorada. Pela manhã, recebi uma comissão vinda da FGV do Rio, os diretores da Fundação. Quando, de repente, toca o telefone, era a minha assessora de imprensa [e disse]: ‘Olha, estão bombardeando as torres nos EUA’. Eu liguei a televisão e vi, pude ver o segundo avião [atingindo a torre]. Foi uma sensação terrível, [pensei] ‘o que será que está acontecendo?’. Dei declarações em seguida [eu disse] ‘pode ser o começo de uma Terceira Guerra’, porque não se sabia do que se tratava. De fato, não foi uma Terceira Guerra, no sentido clássico, mas foi uma guerra ao terror, os americanos logo lançaram esse termo.”

Celso Lafer, ex-chanceler

Celso Lafer era, então, o ministro de Relações Exteriores do governo do Brasil. “No dia 11, estava em São Paulo, participando de um seminário na Federação das Indústrias”, ele diz.

O tema para a diplomacia brasileira naquela época era majoritariamente comercial: acordos com a União Europeia, negociações na Organização Mundial do Comércio etc.

Depois da reunião, Lafer foi falar com jornalistas que tinham ido cobrir. Nesse momento, um auxiliar dele se aproximou e o puxou pelo paletó. “Eu perguntei a ele se ele estava incomodado com algo que eu havia dito. Ele respondeu que não estava incomodado, mas que algo de grande magnitude estava ocorrendo e que era preciso suspender a entrevista para ver pela TV”.

Como havia jornalistas no prédio da Fiesp, ele precisou falar com a imprensa pouco depois de ver os ataques pela TV, mesmo sem consultar a presidência em Brasília.

“Eu disse em um primeiro momento que estávamos diante de uma mudança significativa. Nessas minhas considerações eu mencionei uma frase do [Pierre-Joseph] Proudhon (político francês do século 19) que dizia que a fecundidade do inesperado surpreende a prudência do maior estadista, e que o inesperado tinha uma série de desdobramentos. Tinha mudado o eixo diplomático do mundo”, diz Lafer.

Foi sobre esse tema a primeira conversa que ele teve com o presidente Fernando Henrique Cardoso: o tema do mundo diplomático passaria a ser segurança, e não comércio, e isso implicava uma dificuldade para a estratégia brasileira naquele momento.

Pouco depois do 11 de setembro, chegou-se a falar que havia atividade terrorista na Tríplice Fronteira. “Mandamos fazer uma apuração, a melhor possível, mas não detectamos nenhuma rede terrorista que atuasse a partir de lá”, diz Lafer.

Jorge Pontual, jornalista

Jorge Pontual, do escritório da Globo em Nova York, embarcou na manhã de 11 de setembro em um avião rumo a Washington DC, onde ele ia cobrir uma manifestação contra o FMI, como conta ao site Memória Globo.

O avião não decolou: minutos antes, a primeira torre tinha sido atingida.

De volta ao saguão do aeroporto, Pontual encontrou o cinegrafista Hélio Alvarez. Os dois conseguiram voltar a Manhattan de carona em um carro de polícia.

“Conseguimos atravessar todas as barreiras e chegamos lá perto. Gravamos as cenas de pessoas que tinham descido do prédio e estavam correndo, ainda cobertas de pó. Uma coisa dramática. Gente que tinha visto pessoas caindo e que ria porque tinha se salvado, aquele riso nervoso de quem só sabe que está vivo. Foi muito impressionante”, disse.

Sandra Cohen, jornalista

Sandra Cohen, que atualmente analisa política internacional em seu blog no G1, relata como soube dos ataques. Na época, ela era editora de jornais de Bairro de “O Globo”, no Rio de Janeiro.

“Passava das 9h daquela terça-feira de setembro quando cheguei à redação do Globo e me deparei com um colega com os olhos fixados na TV. Uma das torres do World Trade Center estava em chamas. ‘Foi um avião. Não se sabe ainda se é um acidente ou um atentado’, me explicou. A caminho da minha mesa, ouvi gritos de pavor provocados pela explosão da segunda torre”, relata.

“Não havia mais dúvidas. Quem trabalha diretamente com a notícia é imbuído de um senso prático, que nessas horas surge não sei de onde. Boa parte da minha equipe, na editoria de Jornais de Bairro, foi deslocada imediatamente para a de Mundo”, lembra a jornalista.

Em poucos minutos, o comando da redação mobilizou uma frente para produzir uma edição extra do jornal impresso, que sairia no início da tarde. Os fatos se sobrepunham sem trégua, alterando o rumo da notícia: “Caiu uma torre”; “O Pentágono foi atingido”; “A Casa Branca foi evacuada”; “Caiu outro avião na Pensilvânia”. “Nas semanas seguintes, o trabalho seguiria em ritmo insano e esquema de semi-internato”, conta Sandra Cohen.

“Já era madrugada do dia 12 quando cheguei em casa e liguei a televisão para rever aquelas cenas — pela primeira vez sozinha. Lembro de ter chorado muito, de tristeza e também de saudade: o mundo que eu conhecia até então havia mudado para sempre”.

Luiza Brunet, atriz

A modelo e empresária Luiza Brunet viajou a Nova York naquele dia com a filha. Elas iam participar da semana de moda da cidade.

Ela conta que pousou pela manhã, antes dos ataques, e, quando estava no carro a caminho do hotel, viu fumaça da primeira torre.

“No meio do caminho, começamos a cruzar com carros de polícia, mas ainda não pensávamos que era algo tão grave ou grande”, diz. Quando ela chegou ao hotel, já havia começado o segundo ataque. Todos os canais de TV mostravam o ataque.

“O cheiro era o de fumaça de coisa queimada. Tinha muita confusão na rua, pessoas correndo de um lado para o outro, chorando. Muita gente fez vigílias nas praças”, afirma.

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