O presidente do PSDB e governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, deve enfrentar dificuldades dentro do próprio partido para se viabilizar como nome de consenso caso queira concorrer ao Palácio do Planalto em 2026 — como sinalizou nesta semana. Tucanos reagiram ao movimento do correligionário, num momento em que a legenda atravessa uma crise interna neste ano.
Na segunda-feira, durante um jantar com empresários, em São Paulo, Leite deixou em aberto a possibilidade de disputar a presidência da República, ao dizer que “o povo brasileiro pode contar comigo se entender que é meu papel dar a minha contribuição”.
A declaração vai na direção contrária do interesse manifestado por Leite em outra ocasiões de continuar na direção do PSDB. Ele deve abrir mão de concorrer à reeleição a presidente do partido, que será realizada neste mês, em meio à disputa fratricida detonada dentro da legenda. Um novo comando da sigla será escolhido na 16ª convenção nacional em 29 e 30 de novembro, na capital federal.
O gaúcho tem dito que a legenda necessita de alguém com mais disponibilidade e tempo para administrá-la, já que se aproximam as eleições municipais de 2024. Em crise, o PSDB, que já teve 991 prefeitos em 2000, elegeu 512 em 2020, queda de 36% em relação aos 801 eleitos em 2016.
Eduardo Leite já tentou disputar o Planalto, mas perdeu as prévias do PSDB para João Doria, em 2022. Na ocasião, ele chegou a deixar o cargo de governador. Sem apoio para se lançar à presidência, porém, ele disputou e venceu a reeleição a governador do estado.
A principal trincheira contra o projeto eleitoral de Leite reside em São Paulo, onde aliados do ex-governador Rodrigo Garcia, ex-vice de Doria, controlam a legenda. Em outubro, um grupo de 37 paulistas divulgou um comunicado contra a gestão de Leite após o governador suspender a convenção estadual que estava prestes a acontecer.
Além de Rodrigo Garcia, assinaram o documento o ex-senador e ex-ministro Aloysio Nunes (SP), o ex-governador Antonio Imbassay (BA), os deputados federais Carlos Sampaio (SP) e Vittor Lippi (SP). Também subscreveram o texto o presidente estadual Marco Vinholi, a deputada estadual Carla Morando (SP) e o seu marido, Orlando Morando, prefeito de São Bernardo do Campo.
— Ele tem todo o direito de querer se colocar como candidato, mas a primeira lição de casa é unir o partido, porque até agora ele só desintegrou. Acho difícil conseguir viabilizar o nome dele como candidato do PSDB — diz Orlando.
Show da Ivete
O prefeito cita como justificativas para a resistência a Leite a forma com que ele tem conduzido o diretório nacional e a dificuldade de se angariar apoio nacional para se alçar à Presidência. Também cita o episódio em que Leite compareceu a um show dos cantores Rod Stewart e Ivete Sangalo na cidade de São Paulo enquanto o Rio Grande do Sul passava por um estado de calamidade após ter sido atingido por um ciclone extratropical.
Já o ex-governador de Goiás Marco Perillo, cotado para presidir o PSDB, defende a candidatura de Leite:
— A definição que ele tomar em relação a 2026 terá o nosso apoio integral, do partido todo. As falas que o Eduardo faz são sempre muito sensatas, a recepção no partido é sempre muito boa — afiram Perillo.
Apesar da resistência de parte do tucanato, outras lideranças de São Paulo apoiam Leite, como José Serra, Barjas Negri e José Aníbal.