quinta-feira 20 de março de 2025
O deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) — Foto: Fotos de Saul Loeb/AFP e Pablo Jacob/Governo de São Paulo
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quinta-feira 20 de março de 2025 às 08:33h

Eduardo Bolsonaro nos EUA e fala de Tarcísio afunilam disputa na direita por 2026

DESTAQUE, ELEIÇÕES 2026, NOTÍCIAS


Enquanto o governo do presidente Lula da Silva (PT) aproveita o raro momento de tranquilidade com o anúncio da isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, a disputa pelo espólio eleitoral de Jair Bolsonaro (PT) ganhou contornos mais concretos nos últimos dias.

O ato em Copacabana por anistia aos presos do 8 de Janeiro flopou, diz a colunista Malu Gaspar, do O Globo. Silas Malafaia pôs a culpa num hábito que atribuiu ao carioca: acordar tarde aos domingos. Mas a comparação com o ato nas mesmas condições em abril de 2024 sugere que a capacidade mobilizadora do bolsonarismo encolheu.

Com isso, o plano de usar a massa para pressionar o Congresso a aprovar a anistia ficou prejudicado. O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), que andou flertando com a ideia de pautar a votação do projeto nos primeiros dias de mandato, já a abandonou.

Nesse contexto, a ida de Eduardo Bolsonaro (PL-SP) para os Estados Unidos nada tem de improvisada. Ao contrário, obedece a uma estratégia com finalidades bem claras. A primeira é criar um factoide, não necessariamente com o objetivo de dispersar a atenção dos adversários, mas para engajar o minion que precisa de razões para continuar na guerra ideológica, às vésperas do início de um julgamento que monopolizará a atenção do Brasil por meses — e que deverá acabar em condenação para Jair Bolsonaro.

Outro objetivo é nitidamente aumentar a visibilidade da campanha anti-Alexandre de Moraes nos Estados Unidos, única seara onde Eduardo tem chance de conseguir algum resultado concreto. O Zero Três de Bolsonaro sabe que precisa manter o assunto vivo para fazer com que os republicanos se movam para aprovar o projeto de lei que barraria a entrada de Moraes no país, assim como fazer com que o Departamento do Tesouro determine sanções contra ele.

Donald Trump não se move unicamente pela opinião pública, mas a tarefa de Eduardo fica bem mais fácil se colar por lá a noção de que há algo de errado na democracia brasileira.

Nas primeiras 24 horas depois do anúncio do deputado de que tinha saído do Brasil, um mapeamento da consultoria Bites localizou 171 artigos em inglês, dos quais 118 em veículos americanos, contando a história do filho do ex-presidente da República que pretende buscar asilo político nos Estados Unidos. Não há dúvida de que Eduardo passará os quatro meses de licença da Câmara gerando fatos e factoides para as redes sociais e a mídia tradicional.

Nada impede que, ao final do período, volte ao Brasil dizendo ter cumprido sua missão de alertar o mundo sobre a “perseguição da ditadura”. O mais provável, aliás, é que esse seja o desfecho da novela.

Só não dá para dizer que, com isso, ele deixa o campo aberto a Tarcísio de Freitas (Republicanos) na eleição presidencial de 2026. A estratégia parece ser exatamente a oposta: dar ao Zero Três um tamanho que ele ainda não tem e fortalecer sua imagem como herdeiro legítimo do legado bolsonarista. É cedo para saber se funcionará. Primeiro, porque muita coisa pode sair fora do script. Depois, porque o roteiro seguido por Tarcísio em Copacabana, com um discurso cheio de afagos e juras de lealdade a Bolsonaro, sugere que ele está, sim, na disputa por 2026.

Para o governador se tornar viável como anti-Lula, é essencial se manter leal a Bolsonaro, especialmente nos momentos mais críticos — como um protesto esvaziado ou uma condenação. Ele já tem a preferência da Faria Lima, do empresariado, das elites. Também tem uma gestão bem avaliada em São Paulo. E sabe que, em algum momento, o ex-presidente terá de largar o osso e admitir que não será candidato. Não há por que se dar ao luxo de vacilar antes de poder decidir se fica em São Paulo ou tenta o Palácio do Planalto.

A guerra de posições começa a ficar evidente até dentro da direita. Não à toa, Eduardo e o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles (Novo-SP) dedicaram um bom tempo de uma live ontem para sustentar que, ao contrário da esquerda, frequentemente consumida por disputas fratricidas, na direita o pessoal discute, mas continua sempre unido.

“A esquerda tem chantagem, tem jogo de poder, tem marreta na cabeça dos outros. Todo mundo come na mão do líder. E o líder não confia em ninguém”, disse Eduardo. “Não existe lealdade ou propósito de convicções no núcleo duro da esquerda. Existe jogo de poder, 100%. E quem chega a ser líder jogou um jogo pesado de poder. Nós, da direita, não.”

Pode até convencer alguém. Mas quem conhece o riscado sabe que negar qualquer divergência faz parte do ritual das grandes batalhas da política — até que chegue a hora de partir para o ataque.

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