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quinta-feira 30 de janeiro de 2025 às 07:33h

Economistas dizem que inflação preocupa e preveem Selic acima de 15% ao ano

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A decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central de elevar a Selic a 13,25% ao ano, mantendo o ritmo de alta de 1 ponto percentual, se alinhou segundo Paulo Ricardo Martins, da Folha de S. Paulo, as expectativas do mercado financeiro. Com a previsão de inflação mais alta para este ano, analistas dizem que a taxa de juros pode ultrapassar os 15% ao ano.

Para os especialistas, sem ajustes fiscais que garantam reequilíbrio das contas públicas, uma elevada taxa de juros seria a única forma de frear o avanço nos preços.

No comunicado desta quarta (29), o Copom reafirmou a sinalização de que pretende fazer mais uma alta da mesma intensidade na próxima reunião, em março. No entanto, evitou se comprometer com qualquer ritmo de ajuste em maio.

Na visão de Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB associados, o país precisará de mais juros para aproximar a inflação da meta perseguida pelo BC e, por isso, ele prevê novas altas na Selic durante este semestre.

O centro da meta da inflação é de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.

“Eu imagino que [o ciclo final de alta na Selic] vai ser algo entre 15% e 16%, porque, mesmo com o BC sinalizando toda a alta de juros que a gente está vendo desde dezembro, o [boletim] Focus tem mantido o aumento de expectativa de inflação desde então. É um cenário que mantém a preocupação com a inflação, e o que o BC fez até agora e ainda vai fazer não é suficiente”, afirma Vale.

Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, descreveu como preocupante o recente aumento das expectativas de inflação e disse que o ciclo de alta da Selic pode ser maior do que o esperado. “Nesse sentido, naturalmente, pode ser que algumas casas [representantes do mercado] comecem a revisar para cima a expectativa de alta de juros.”

“A gente esperava que subisse até 15%. Agora a gente vai ter que sentar, começar a fazer alguns cálculos e esperar na próxima semana a ata [do Copo] para entender no detalhe, reavaliar o cenário e saber se sobe essa [expectativa de] taxa de juros, chegando ali a talvez 16%. É bem provável que chegue nesse nível”, completou Agostini.

Marcos Moreira, sócio da WMS Capital, diz que os juros precisam subir a 15,5% para efetivamente começarem a ter impacto na atividade econômica, no mercado de trabalho e, consequentemente, na inflação. Segundo ele, a única forma de mudar a previsão seria se o governo realizasse ajustes estruturais que possibilitassem o reequilíbrio das contas públicas para frear o crescimento do déficit.

“Muito provavelmente já no segundo trimestre poderemos começar a ver sinais mais claros de uma atividade econômica em desaceleração e uma inflação sentindo os efeitos das altas de juros, o que permitirá ao mercado fazer projeções de quando será o fim do ciclo de alta da Selic”, diz Moreira.

Para Felipe Salles, economista-chefe do C6 Bank, uma eventual taxa de juros a 15% ainda não seria suficiente para frear a inflação. “Isso deixa implícito a possibilidade de altas de juros nas reuniões subsequentes que levem a Selic para um valor acima desse patamar.”

O cenário preocupa o setor produtivo. Em nota a jornalistas divulgada nesta quarta-feira (29), o presidente do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), Rafael Cervone, disse esperar que o Banco Central, na gestão de Gabriel Galípolo, encontre “um patamar mais equilibrado e civilizado” para a taxa de juros.

“Embora seja fundamental controlar a inflação, é preciso enfatizar que a Selic muito alta, como temos enfrentado, afeta diretamente os setores produtivos e reduz a competitividade da indústria brasileira”, afirmou.

Por sua vez, o economista André Perfeito, diz acreditar que o próximo reajuste nos juros, previsto para março, pode ser a última alta do ano. “A Selic neste patamar irá fazer com que o PIB [Produto Interno Bruto] retraia e, assim, o mercado revisará suas projeções de atividade e, por conseguinte, de inflação.”

Nas redes sociais, a presidente do PT (Partido dos Trabalhadores), Gleisi Hoffmann, disse que “o novo aumento da taxa básica de juros é péssimo para o país e não encontra qualquer explicação nos fundamentos da economia real”. Segundo a deputada, o novo patamar vai tornar mais cara a conta da dívida pública, sufocar famílias endividadas, restringir o acesso ao crédito e o crescimento da atividade econômica.

“Neste momento sabemos que não resta muita alternativa ao novo presidente do BC, Gabriel Galípolo. Restam desafios para reposicionar as expectativas do mercado e a orientação da instituição que dirige”, afirmou.

O aumento da Selic também reuniu críticas de centrais indicais. A CUT disse condenar veementemente a decisão do Copom e afirmou que esperava, sob o comando de Gabriel Galípolo no BC, uma reversão no processo de alta dos juros.

“Era grande nossa esperança de que a designação de Galípolo para o BC pusesse um fim aos aumentos da taxa básica de juros. Este novo aumento da taxa Selic vai aumentar as despesas do governo com os juros da dívida, vai consumir as economias do pacote fiscal e novas pressões por mais reformas vão ganhar força este ano”, afirmou a CUT em nota.

Miguel Torres, presidente da Força Sindical, disse em nota que repudia o aumento dos juros por parte do Copom e classificou a decisão como um “prêmio aos especuladores”.

“Será que entramos na era do juro galopante? A atual política econômica está destoando dos anseios da classe trabalhadora. Elevar os juros neste momento traz mais incertezas. A decisão trará efeitos negativos sobre a criação de emprego e renda.”

O objetivo do aumento na Selic é segurar a inflação. De acordo com o último boletim Focus, divulgado na segunda-feira (27), analistas ouvidos pelo BC esperam que o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) termine o ano em 5,5%.

Na reunião de dezembro, quando intensificou a alta da Selic, o Copom já havia prometido um choque de juros na economia brasileira, com o objetivo de estancar a alta de preços.

O colegiado previu, na ocasião, aumentos de 1 p.p. nas reuniões de janeiro e março. Se a indicação for cumprida no próximo encontro, a taxa básica vai atingir 14,25% ao ano –mesmo patamar observado na crise do governo Dilma Rousseff (PT), entre 2015 e 2016.

A reunião do Copom ocorreu no que foi chamado por investidores de “superquarta”, dia das divulgações de juros do Brasil e dos Estados Unidos. Mais cedo, o Fed (Federal Reserve) decidiu manter a taxa de juros dos EUA na faixa de 4,25% a 4,50%, também confirmando as expectativas do mercado.

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