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domingo 12 de julho de 2020 às 09:22h

Economia coloca apoiadores de Bolsonaro entre a euforia e a espera, diz jornal

DESTAQUE, POLÍTICA


Indicadores positivos de produtividade do país em maio e junho têm sido comemorados pela base de apoio do presidente Jair Bolsonaro, que viu na tímida recuperação da economia, nos últimos dois meses, uma demonstração de que será possível superar a crise provocada pela pandemia do novo coronavírus mais rápido do que se esperava. Esse horizonte otimista, por consequência, serve como combustível para o entorno do mandatário apostar na reeleição em 2022.

Um dos pontos destacados pelos governistas foi, segundo p jornal Correio Braziliense, a carga do Sistema Interligado Nacional (SIN), que, em junho, aumentou cerca de 2% em relação ao índice registrado em maio. O Ministério das Minas e Energia relacionou a alta “ao retorno gradual das atividades econômicas” no Brasil e o chefe da pasta, ministro Bento Albuquerque, salientou que “existem alguns indícios, bastante consistentes, de que o país iniciou a retomada”. O Planalto se anima com futuro a curto prazo, especialmente porque o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico prevê a manutenção da “tendência de retomada gradativa da carga” para julho.

A movimentação em alguns portos do país também foi vista com bons olhos pelo Executivo, sobretudo em Santos (SP), que abriga o maior complexo portuário da América Latina. De acordo com informações da Autoridade Portuária, o cais do município paulista tem registrado recorde de movimentação de cargas, mesmo em meio à pandemia. Entre janeiro e maio, houve movimentação de 58 milhões de toneladas de cargas – o maior valor contabilizado para o período. Apenas em maio, 12,9 milhões de toneladas de mercadorias entraram ou saíram pelo porto – valor 18,1% superior ao volume aferido no mesmo mês de 2019.

Ainda agradou ao Planalto os recentes crescimentos da confiança da indústria. Apesar de ainda não ter atingido os patamares de antes do início da crise sanitária da covid-19, o indicador medido pela Fundação Getulio Vargas (FGV) chegou a 77,6 pontos em junho – 16,2 acima do contabilizado em maio. A oscilação foi a maior para o mês desde que a série histórica do Índice de Confiança da Indústria teve início, em 2001, e todos os 19 segmentos industriais pesquisados registraram aumento. Foi o segundo mês consecutivo de alta: em maio, a confiança da indústria havia crescido 3,2 pontos.

Mais recentemente, na manhã da última quinta-feira, a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) chegou a romper a marca dos 100 mil pontos. A última vez que o Índice Bovespa, principal indicador da B3, havia atingido esse patamar foi em 6 de março, quando a máxima ficou na casa dos 102 mil pontos. Bolsonaro comemorou a notícia, mesmo sabendo que o indicador voltou a ficar em 99 mil pontos ainda naquele dia.

“É um número que tínhamos ultrapassado muito no ano passado, caiu com a pandemia e voltou agora. É sinal de reaquecimento da economia, da confiança do mercado. Espero que dê certo. A taxa de juros (Selic), nunca se viu uma taxa de juros tão baixa: 2,25%. Em relação ao passado, devemos pagar aproximadamente menos de R$ 120 bilhões. Isso é bom pra gente. Ajuda a nossa economia, a gente paga menos juros, o endividamento nosso passa a ser menor. Então, há sinais da economia”, comentou Bolsonaro, durante live na semana passada.

Paralelo às primeiras demonstrações de retomada da economia, Bolsonaro quer se aproximar do povo. O presidente vai criar um projeto de forte apelo social, o Renda Brasil, e pretende apostar em uma agenda de inauguração de obras para dar uma guinada na popularidade e chegar forte nas próximas eleições presidenciais. A primeira demonstração aconteceu há três semanas, quando participou da inauguração de um dos trechos de transposição do Rio São Francisco, no Ceará.

“É isto que o governo Bolsonaro tem feito desde o início: cuidar da população. Não há mais desvio de recursos. Desvio? Só de água do Rio São Francisco. Desvios de recursos não existem mais. As nossas estatais, que davam prejuízos homéricos, estão dando lucro”, analisa a vice-líder do governo no Congresso, deputada Bia Kicis (PSL-DF).

“Antes da pandemia, a nossa economia estava em alta e, como diz o ministro Paulo Guedes, há de se levantar novamente. Isso só é possível quando temos um governo que é dirigido por pessoas sérias, honestas e competentes”, acrescenta a parlamentar.

Líder do governo na Câmara, o deputado Vitor Hugo (PSL-GO) ainda coloca nos objetivos de Bolsonaro a modernização de uma série de marcos regulatórios, sobretudo por conta da boa repercussão depois de o Congresso ter concluído a análise do novo marco do saneamento básico, no fim de junho. Para ele, as novas legislações podem “trazer investimentos privados para reforçar a nossa economia”.

“Temos o marco regulatório do gás, do petróleo, da cabotagem, da mineração e o de tantas outras frentes de investimentos. Tenho certeza de que o nosso governo vai revolucionar a história do nosso Brasil”, destaca.

Outra realidade

Apesar da euforia governista, especialistas são mais receosos. O professor Paulo Calmon, diretor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB), afirma que é cedo para previsões eleitorais acerca de 2022, especialmente porque os sinais de recuperação econômica ainda são fracos. “O cenário internacional também é muito incerto. A pandemia permanece fora de controle e as consequências sobre a economia são imprevisíveis. Delinear cenários para 2022 é um exercício arriscado.”

Calmon completa que, na opinião dos investidores nacionais e estrangeiros, o risco político do país supera o econômico. “Nesse contexto, qualquer tentativa de afastar a ameaça de uma crise institucional profunda terá impacto muito significativo nas chances de uma recuperação da economia”, diz.

O cientista político Rodrigo Prando, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, observa que Bolsonaro, ao prometer entregar obras e fazer viagens pelo país, busca gerar uma agenda positiva para apagar o desgaste promovido pelo estilo mais agressivo.

“O governo Bolsonaro ainda está acuado. Fez um movimento em direção ao Centrão, mas isso é insuficiente para tocar o restante do mandato, especialmente porque tem no campo jurídico uma questão profunda, que é a investigação das fake news no STF, a investigação da intervenção de Bolsonaro na PF, a prisão de Fabrício Queiroz e a questão das rachadinhas, além dos ataques às instituições”, explica.

Para o analista, é temerário que a equipe do governo trate da possibilidade de reeleição agora. “A reprovação do governo é altíssima. Seria ingenuidade acreditar que a quantidade de mortes provenientes da pandemia e a falta de estrutura do governo não cairão como responsabilidade do presidente da República”, frisa.

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