O ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP) disse, em artigo no jornal O Estado de S. Paulo, que no momento “é melhor aguentar” o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) o “quanto for possível” e preparar candidatos para as próximas eleições presidenciais, em 2022.
De acordo com FHC, a experiência de ter vivenciado dois processos de impeachment — o de Fernando Collor em 1992 e o de Dilma Rousseff em 2016 — faz com que ele seja cauteloso em apoiar um terceiro.
“É alto o custo político de uma intervenção congressual no que foi popularmente decidido. Às vezes não há outro jeito. Mas tal desiderato depende mais das ações (ou inações) de quem foi eleito do que, como comumente se diz, da ‘vontade política’. É melhor ir devagar com o andor’, disse.
Por isso, para Fernando Henrique, é “melhor aguentar quem hoje manda – o quanto seja possível – e preparar candidatos para as próximas eleições que possam bem desempenhar a função presidencial”.
“Enquanto isso não ocorre, aproveitemos o tempo para treinar civicamente o eleitorado”, completa.
O ex-presidente se questiona se está sendo ingênuo, mas faz uma ponderação. “Sem certa dose de otimismo corre-se o risco de jogar fora não só a água do banho, mas a criança, a democracia”, disse.
Fernando Henrique ainda se questiona até que ponto as atitudes de Bolsonaro serão suportáveis.
“Ninguém sabe ao certo (até que ponto são suportáveis), e ele pode dar a volta por cima. Em larga medida depende não só da paciência do povo, mas dele próprio, Bolsonaro, manter seus “fiéis” e também conter seus impulsos de franqueza autoritária”, disse.
Em sua opinião, é preciso que o “outro lado” se posicione de forma mais clara para apontar o caminho.
“Por enquanto o que se vê é uma mídia quase unânime na crítica à falta de condições de quem nos governa para manter um mínimo de coerência na ação. É muito, mas é pouco. Enquanto não aparecer alguém com força para expressar outro caminho viável, o presidente leva vantagem”, completou.
Fernando Henrique Cardoso presidiu o Brasil de 1995 a 2002. Entre os candidatos que o ex-presidente tenta viabilizar para as eleições de 2022 está o apresentador Luciano Huck, ainda sem filiação com partidos.