Proibida no Brasil desde os anos 2000, a droga GHB, também conhecida como “droga do estupro”, vem sendo utilizada cada vez mais em festas rave, bares e baladas. A substância é incolor e não possui cheiro. Por conta disso, os predadores colocam nas bebidas das vítimas, que podem ficar desorientadas, inconscientes, terem perda de memória e até convulsões. Ela também é usada por criminosos que aplicam o golpe do “boa noite, Cinderela”.
O GHB é uma substância denominada Ácido Gama-Hidroxibutírico, que pode ser líquida ou em pó. Na década de 60, ela foi estudada e utilizada como anestésico, mas teve seu uso cessado por conta de seu alto risco de contrações musculares involuntárias e delírios. Nos anos 90, a droga popularizou-se como uma “Club Drug” (Droga de festa). Depois, passou a ser usada de forma recreativa e consensual durante o chamado “chemsex”, termo em inglês para descrever atividade sexual entre duas ou mais pessoas, para aumentar a excitação.
Em entrevista à IstoÉ, a psiquiatra Fernanda de Paula Ramos, que é especialista em Dependência Química pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e diretora da Villa Janus, explicou que a droga, inicialmente, provoca uma sensação de euforia, relaxamento, desinibição e aumento de libido. Porém, depois, atinge o Sistema Nervoso Central (SNC), causando “um quadro de confusão mental, desorientação, inconsciência, redução da frequência cardíaca e respiratória, náuseas, vômito e, até mesmo, coma e morte”.
No uso em festa ou baladas, a substância “é colocada na bebida de uma pessoa, sem o seu consentimento, gerando efeitos de 15 a 30 minutos”, acrescentou. A droga pode ter um leve gosto salgado ou amargo, mas muitas vezes imperceptível quando misturada com bebida alcoólica.
Após ficar desorientada e inconsciente, a pessoa pode não se lembrar do que aconteceu ou ter apenas alguns fleches. “O que dificulta a vítima saber se realmente ocorreu um estupro e, assim, notificar o caso”, afirmou a psiquiatra Danielle H. Admoni.
Porém o GHB pode ser identificado por meio de exame de sangue ou urina. “No entanto o exame de urina só fica positivo por cerca de 12h após a ingestão da substância, e o de sangue por cerca de 8h. Assim, a sua identificação se torna difícil. Além disso, os exames são caros e pouco disponíveis”, completou Fernanda de Paula Ramos.
GHB no Brasil
Recentemente, a Polícia Civil do Rio de Janeiro, com o apoio da Polícia Civil de São Paulo, prendeu em flagrante três membros de uma quadrilha por tráfico de drogas e associação ao tráfico. Os criminosos são suspeitos de comercializar o GHB, que é vendido por meio de sites e aplicativos de troca de mensagens.
Na ação, o biomédico Yan Barbosa Damasceno foi detido em sua casa, localizada em Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro, onde os agentes encontraram a substância, cachimbos e isqueiros para venda. Na residência dos outros dois suspeitos, em São Paulo, a polícia também apreendeu a droga sintética.
Também houve no Distrito Federal a primeira apreensão da substância.
A IstoÉ entrou em contato com outros estados para saber se teve notificação de apreensão do GHB. Apenas Pernambuco, Bahia, Paraná e Rio Grande do Sul informaram que, até o momento, não houve registro.
Dependência
O GHB é uma droga capaz de gerar tolerância. Por isso, no caso de uso recreativo, há necessidade crescente de doses maiores para obter o mesmo efeito. “É importante o usuário saber que não existe dose segura. No caso do uso como ‘Droga Facilitadora de Crimes’ a recomendação é que a pessoa não ingira bebidas oferecidas por desconhecidos nem bebidas abertas sem saber a procedência. Vale aqui o ditado popular: ‘não aceite bebidas de estranhos’”, finalizou Fernanda de Paula Ramos.