O dólar à vista fechou nesta segunda-feira (10) em alta firme ante o real, no maior valor desde janeiro do ano passado, em meio a ajustes técnicos ante o movimento visto no fim da sessão de sexta-feira (7), quando ruídos estressaram os negócios no Brasil, e em sintonia com o avanço da divisa dos EUA no exterior, com o cenário político europeu pesando sobre o euro.
As incertezas em torno da questão fiscal brasileira e seus impactos sobre a política de juros do Banco Central também contribuíam para o avanço das cotações.
O dólar à vista encerrou o dia cotado a R$ 5,3565 na venda, em alta de 0,60%. Este é o maior valor de fechamento desde 4 de janeiro de 2023, quando encerrou em R$ 5,4513.
Na B3, no entanto, a divisa norte-americana para julho — a mais líquida atualmente — oscilava próxima da estabilidade. Às 17h17, ela subia 0,06%, aos 5,3680.
já o Ibovespa fechou estável hoje, mesmo com o avanço das ações de Petrobras e Vale, conforme prevaleceu a cautela diante da agenda da semana, com destaque para dados de inflação no Brasil e nos Estados Unidos e reunião de política monetária do Federal Reserve, o banco central dos EUA.
Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa terminou com variação negativa de 0,01%, a 120.759,51 pontos, tendo chegado a 121.421,30 pontos na máxima e a 120.540,03 pontos na mínima da sessão. O volume financeiro somou apenas R$ 16,5 bilhões.
Dólar
Na sexta-feira, rumores de que o governo teria sinalizado a possibilidade de mudanças no atual arcabouço fiscal aceleraram os ganhos do dólar, ainda que depois eles tenham sido desmentidos pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
O dólar à vista fechou sexta em alta de 1,44%, aos R$ 5,3247, mas o dólar para julho — que encerra a sessão mais tarde — andou bem mais, terminando em alta de 1,80%, cotado a R$ 5,3650.
Esta discrepância de 4 centavos de real entre os fechamentos do dólar para julho e do dólar à vista na sexta-feira levou a ajustes técnicos nesta segunda-feira. Na prática, percentualmente o dólar à vista subiu mais durante a sessão, enquanto a moeda para julho apresentou altas mais modestas.
“É mais um ajuste técnico do que qualquer coisa”, comentou durante a tarde Jefferson Rugik, diretor da Correparti Corretora, ao justificar o avanço mais intenso do dólar ante o real no mercado à vista.
No início da sessão, o dólar à vista chegou a oscilar no território negativo, marcando a mínima de R$ 5,3155 (-0,17%) às 9h13. Mas as cotações aceleraram ainda nas primeiras horas do dia, com a moeda à vista atingindo a máxima de R$ 5,3901 (+1,23%) às 10h17.
A alta superior a 1% era justificada pelos ajustes técnicos em relação a sexta-feira e pelo avanço do dólar também no exterior ante as divisas fortes e boa parte das moedas de emergentes.
Em especial, o euro era penalizado após o presidente da França, Emmanuel Macron, anunciar que dissolveria o Parlamento e convocaria novas eleições legislativas para o final deste mês, depois de ter sido derrotado nas eleições europeias pelo partido de extrema-direita de Marine Le Pen.
Além do exterior, profissionais ouvidos pela Reuters citaram o desconforto com o cenário fiscal brasileiro como motivo para que as cotações se mantivessem em patamares elevados.
“O mercado está com um ‘trade’ mais cauteloso com juros (futuros), porque há incerteza com o fiscal e com a política monetária por aqui. Tudo isso é um fator de insegurança, então talvez a gente tenha apenas um gatilho vindo da Europa”, disse Cleber Alessie Machado, gerente da mesa de Derivativos Financeiros da Commcor DTVM, ao avaliar os motivos para o dólar se manter em alta nesta segunda-feira inclusive no mercado futuro — cujas cotações já haviam andado mais na sexta.
Internamente, a cautela antes da divulgação de dados econômicos importantes também permeava os negócios: na terça-feira sai a inflação oficial de maio no Brasil e na quarta será divulgado o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) nos EUA, além da decisão de política monetária do Federal Reserve.
No fim da tarde, o dólar seguia em alta ante boa parte das demais divisas. Às 17h16, o índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — subia 0,07%, a 105,130.
Pela manhã o Banco Central vendeu todos os 12 mil contratos de swap cambial tradicional ofertados para rolagem dos vencimentos de agosto.
Ibovespa
Na visão do analista de investimentos Gabriel Mollo, do Banco Daycoval, a bolsa paulista teve um dia “de lado, apático”, dado o clima de expectativa para as divulgações na semana, particularmente nos EUA, onde as perspectivas sobre um corte de juros neste ano têm diminuído.
A quarta-feira concentrará os holofotes com o desfecho da reunião do Comitê de Mercado Aberto (Fomc) do Federal Reserve, que anuncia às 15h (horário de Brasília) sua decisão de juros, que virá acompanhada de projeções econômicas e será seguida de coletiva de imprensa do chair, Jerome Powell.
Não se espera mudança na taxa pelo Fed, atualmente entre 5,25% e 5,50%, assim, o foco deve ficar em eventuais sinais sobre os próximos passos. Previsto também para a quarta-feira, o índice de preços ao consumidor dos EUA de maio (9h30) pode ajudar a calibrar as últimas apostas para a decisão do Fomc.
Mollo afirmou que não espera nenhuma grande oscilação no mercado até essas divulgações, que podem dar uma ideia sobre o rumo dos juros na maior economia do mundo.
De acordo com estrategistas do Santander, há um consenso de que o (mercado acionário no) Brasil parece muito barato, mas investidores ainda não viram um catalisador local claro e aguardam que o Fed inicie o ciclo de flexibilização monetária, que parece ser a principal força impulsionadora do mercado.
Antes de a pauta norte-americana dominar as atenções, agentes financeiros no mercado brasileiro devem analisar o IPCA de maio, previsto para terça-feira, que deve acelerar a alta frente o resultado de abril, com a medida em 12 meses se afastando ainda mais do centro da meta de inflação.
A divulgação dos números pelo IBGE ocorrerá em um ambiente de piora seguida nas previsões para o comportamento dos preços, conforme mostrou o boletim Focus, e revisão de expectativas relacionadas à Selic, com o Itaú também passando a não ver mais espaço para cortes adicionais neste ano.
De acordo com o analista Régis Chinchila, da Terra Investimentos, mudanças nas previsões para a taxa Selic terminal de 2024 e expectativas de inflação no Brasil têm gerado um movimento de penalização de empresas da economia interna, com o fluxo migrando para papéis relacionados a commodities.
DESTAQUES
– PETROBRAS PN avançou 1,52% e PETROBRAS ON subiu 1,84%, com a alta dos preços do petróleo no exterior, onde o barril de Brent fechou com acréscimo de 2,5%, apoiando a recuperação após queda de mais de 3% nas ações na sexta-feira.
– VALE ON subiu 1,09%, ainda embalada pela alta do minério de ferro nos últimos dois pregões, uma vez que nesta segunda-feira os mercados estão fechados na China.
– ITAÚ UNIBANCO PN recuou 0,79% e BRADESCO PN caiu 1,84%. No setor, BTG PACTUAL UNIT cedeu 3,3%.
– GRUPO SOMA ON fechou em baixa de 4,7%, em dia negativo para papéis sensíveis à economia doméstica, com o índice do setor de consumo, que inclui ações de companhias de varejo, alimentos, construtoras, saúde e educação, entre outras, perdendo 1,11%.
– ELETROBRAS ON terminou com elevação de 0,7%, após vender seu portfólio de termelétricas a gás natural para a Âmbar Energia, em operação de R$ 4,7 bilhões. O acordo também reduz riscos para a elétrica associados à Amazonas Energia.
– DASA ON, que não faz parte do Ibovespa, avançou 4,62%, após confirmar que está em negociações com a operadora de planos de saúde Amil para uma combinação de negócios, acrescentando que as conversas estão em “estágio avançado”.