O dólar fechou em forte alta de 2,82%, aos R$ 6,2672, no maior valor de fechamento já registrado. Durante o dia, a moeda chegou a valer R$ 6,2707, recorde de cotação intradiária. O mercado acompanha a tramitação do pacote fiscal do governo no Congresso, atentando-se a possíveis desidratações nas medidas propostas.
Nos EUA, o Federal Reserve (Fed), banco central americano, cortou os juros na maior economia do mundo em 0,25 ponto percentual, para a faixa entre 4,25% e 4,5%. O que mexe com a cotação do dólar no plano internacional e ajudou a aprofundar a a perda da moeda brasileira.
Nesta quarta-feira, devem ser votadas mais duas propostas relacionadas ao pacote: a que trata da mudança na regra do salário mínimo e a que altera o abono salarial.
Ontem, foi aprovado o texto-base do Projeto de Lei Complementar (PLP) que faz parte do pacote de cortes de gastos apresentado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Hoje, o ministro afirmou que o câmbio tem flutuado por conta de pendências e citou “movimentos especulativos”. Ele disse acreditar que o dólar vai se acomodar.
— Nós temos um câmbio flutuante e, neste momento em que as coisas estão pendentes, tem um clima de incerteza que faz o câmbio flutuar. Mas eu acredito que ele vai se acomodar — disse Haddad, ao deixar o prédio da pasta, em Brasília.
Ele continuou, aventando um movimento especulativo no câmbio:
— Até aqui, nas conversas com as grandes instituições, as previsões são melhores do que os especuladores estão fazendo. Mas, enfim, o câmbio flutua — afirmou. — Há contatos conosco falando em especulação. Eu prefiro trabalhar com os fundamentos mostrando a consistência do que estamos fazendo. Pode estar havendo, mas não estou aqui querendo fazer juízo sobre isso. Esses movimentos mais especulativos são coibidos com intervenção do Tesouro e do Banco Central.
Analistas veem como insuficientes as medidas fiscais e temem pelo cronograma apertado para sua votação:
— As medidas fiscais que devem ser aprovadas antes do Natal são muito pequenas e chegam muito tarde para aliviar os receios, e a votação sobre os militares não deve ocorrer antes de 2025 — avalia Bernd Berg, estrategista da InTouch Capital.
“A desconfiança do mercado em relação à trajetória das contas públicas continua afetando o câmbio. O pacote fiscal do governo não conseguiu convencer os investidores”, escreveu Einar Rivero, da consultoria Elos Ayta, acrescentando que a provável queda de juros nos EUA hoje influencia na cotação.
Cristiane Quartaroli, economista-chefe do Ouribank, partilha da mesma opinião:
— O mercado segue bastante apreensivo com o andamento do pacote fiscal no Congresso. Algumas casas revisaram projeções de inflação de 2025 para cima, o que traz ainda mais instabilidade.
Escalada não para
Ontem, o dólar renovou seu recorde mais uma vez, mesmo com duas intervenções do Banco Central. A moeda chegou a ser negociada a R$ 6,20 ontem e fechou a R$ 6,0956, a maior cotação de fechamento já registrada.
E só cedeu após a declaração do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, de que votaria medidas do pacote fiscal. Um dos projetos, que trata de gatilhos para conter despesas públicas e permite o bloqueio de emendas, foi aprovado ontem na Casa.
Leilão de títulos do Tesouro
O dia também foi marcado pelo leilão extraordinário de recompra de títulos do Tesouro, instrumento usado em momentos de volatilidade como o atual. Analistas consideraram a atuação insuficiente, e os juros futuros estão subindo com força.
O órgão informou que recomprou 400 mil Notas do Tesouro Nacional – Série F, em valor total de R$ 340,8 milhões.
Em paralelo, ontem, o Banco Central realizou dois leilões extraordinários a fim de injetar mais dólares no mercado e conter a forte alta da moeda americana.
Para Eduardo Grübler, analista multimercados da AMW, a gestora da Warren Investimentos, nenhuma dessas medidas surtirá um efeito mais duradouro se a questão fiscal não for tratada de forma mais contundente pelo governo federal.
— Não resolvendo o fiscal, [o dólar] não vai cair, estruturalmente não vai cair. (…) E não está sendo feita nenhuma mudança para que o Brasil reduza esses problemas estruturais que está enfrentando agora.
Corte de juros do Fed
O Federal Reserve (Fed, o banco central americano) anunciou a terceira queda de juros do ano.
Mas as atenções estarão voltadas para a coletiva de imprensa do presidente do Fed, Jerome Powell. A expectativa é que ele dê pistas de como será a política monetária em 2025, se os juros continuam subindo e em que magnitude.