Um desavisado que acesse as redes sociais do advogado Wilson Witzel pode não imaginar conforme publicou o
, do Jornal Extra, que, em um passado não tão distante, ele usava as mesmas plataformas para externar a vontade de concorrer à Presidência da República e enaltecer operações policiais de contornos cinematográficos, ainda que terminassem com vítimas. Hoje vendedor de cursos preparatórios para concursos e sócio de um escritório de Direito que também arrebanha investidores para leilões de imóveis, o ex-juiz federal compartilha momentos em família e tira dúvidas jurídicas dos concurseiros. Ontem fez um ano que ele foi afastado definitivamente do governo do Rio e teve seus direitos políticos suspensos em sessão de impeachment.Em seu site, o ex-governador convida de acordo com matéria do jornalista Sabóia, ao seu Clube de Investidores em Leilões. Ofertas de apartamentos de classe média, que podem ser arrebatados pela metade do preço em bairros da Zona Norte, como o Engenho de Dentro e a Tijuca, são apresentadas. No entanto, saber como o clube de investimentos funciona não é tarefa das mais fáceis. Para obter mais detalhes é necessário preencher um formulário com os dados completos e esperar a equipe de Witzel responder. Procurado, o ex-governador disse cobrar 15% sobre o valor da arrematação. “Também assessoro na elaboração do contrato entre pessoas que queiram investir juntas, um contrato de sociedade em conta de participação, por isso clube de investimentos”, disse ele, por meio de mensagem.
Na mesma página, Witzel se apresenta como especialista em várias áreas do Direito. De acordo com ele, o seu escritório trabalha com causas relacionadas ao Direito Civil, empresarial, administrativo, eleitoral, imobiliário, constitucional e penal. No entanto, consultas feitas no Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ) e na Justiça Federal não apontam ações recentes em seu nome.
O ex-governador conta, no entanto, com outra fonte de renda: seus cursos preparatórios para concursos com foco em provas específicas têm lotação máxima, de acordo com as próprias publicações.
O ex-chefe do Executivo também fundou a produtora de vídeos Wilson Witzel Produções e Participações LTDA, com o objetivo de abastecer o seu canal no YouTube. Na plataforma, ele conta com pouco mais de 3,8 mil seguidores e não publica nada desde que deixou o Palácio Guanabara. Witzel tem outro canal, o Caminhos de Fé, que será dedicado a mensagens religiosas — no ano passado, ele se tornou evangélico —, mas ainda não conta com vídeos.
Após deixar o Palácio Laranjeiras, Witzel voltou para a casa da família no Grajaú, bairro da Zona Norte do Rio, de onde grava mensagens motivacionais e tira dúvidas de concurseiros que apostam na sua experiência obtida como ex-juiz federal.
Desejo de se candidatar
Witzel mantém vivo o desejo de voltar a se candidatar. Ele se filiou ao PMB em 1º de abril, junto da ex-primeira-dama Helena Witzel, que deve concorrer a uma vaga na Alerj. Em fevereiro, o desembargador Bernardo Garcez, membro do Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ), negou um mandado de segurança ajuizado pelo ex-governador requerendo a nulidade do julgamento do Tribunal Especial Misto (TEM) que o afastou do governo.
Em entrevista ao O Globo, em março, ele disse que ainda pretendia concorrer novamente ao governo.
— Pretendo ser candidato novamente ao cargo de governador. Fizemos muito pelo estado e ainda temos muito a contribuir. Não respondo a nenhuma ação de improbidade sobre os fatos julgados pelo Tribunal Especial Misto. A população está frustrada com o que me aconteceu — disse ele, na ocasião.
Witzel deixou o cargo em 30 de abril do ano passado, após o TEM julgar procedente, de forma unânime, o pedido de impeachment do já afastado governador do estado. Com isso, pela primeira vez na história do Rio de Janeiro, um processo de impeachment foi consumado contra um governador. Em seguida, por nove votos a um, o tribunal decidiu suspender os direitos políticos dele por cinco anos.
O ex-governador foi acusado de fraudes na contratação de duas organizações sociais, uma delas, o Iabas, responsável por hospitais de campanha para tratar pacientes de Covid-19. Ele nega as acusações.