A batalha pela indicação presidencial republicana para as eleições norte-americanas de 2024 há meses é vista como uma disputa de dois homens: uma luta entre Donald Trump e o governador da Flórida, Ron DeSantis, uma estrela nacional em ascensão vista como o único candidato capaz de derrotar o ex-presidente.
No entanto, os deslizes cometidos por DeSantis na política externa e a intensificação da retórica politicamente violenta por parte de Trump nos últimos dias –o tipo de política ofensiva que afastou alguns apoiadores anteriormente leais a Trump– ressaltam a volatilidade de uma corrida ainda em seus estágios iniciais, dizem estrategistas do partido e doadores.
Embora Trump e DeSantis, que ainda não se declarou na disputa, continuem sendo os principais candidatos à indicação, ambos estão exibindo vulnerabilidades que podem significar uma longa e amarga briga entre os dois, mas também oferecem oportunidades para outros pretendentes republicanos.
As mensagens confusas de DeSantis sobre a Ucrânia e as múltiplas investigações jurídicas sobre Trump significam que a corrida primária deste ano “é um vasto mar de incertezas”, disse Whit Ayres, um estrategista republicano e ex-pesquisador de DeSantis. “A luta pela indicação está aberta.”
As recentes corridas primárias republicanas servem como um lembrete de como a corrida pode ser imprevisível: Trump, uma ex-estrela de reality shows, foi inicialmente descartado como um candidato improvável antes de sua ascensão para conquistar a indicação de 2016, enquanto o senador John McCain ganhou a indicação em 2008 meses depois que sua campanha ficou sem dinheiro e ele foi descartado pelas pesquisas.
DeSantis, recém-saído de uma vitória esmagadora na reeleição como governador da Flórida em novembro, tem cultivado um perfil nacional como um guerreiro da cultura conservadora que irritou os liberais ao proibir o ensino em sala de aula na Flórida sobre orientação sexual e identidade de gênero.
Com pesquisas e entrevistas mostrando muitos republicanos procurando uma alternativa para Trump, a mensagem de DeSantis em uma recente turnê nacional foi de que ele pode cumprir as prioridades conservadoras, mas sem problemas jurídicos, intrigas palacianas e histórico de derrotas ligado a Trump.
Na semana passada, no entanto, DeSantis foi forçado a voltar atrás depois de chamar a invasão russa da Ucrânia apenas de uma “disputa territorial”. Foi uma tentativa de apelar para a base republicana isolacionista “America First”, mas saiu pela culatra, atraindo a condenação de muitos dentro de seu próprio partido.
Trump intensificou recentemente seus ataques a DeSantis, que em grande parte se recusou a revidar, e também pediu protestos generalizados e alertou sobre “morte e destruição” se ele for acusado pelos promotores de Manhattan que investigam um suposto pagamento clandestino a uma atriz pornô em 2016.
Os comentários de DeSantis sobre a Ucrânia e os ataques intensificados de Trump contra seu ex-protegido enervaram alguns republicanos, incluindo doadores endinheirados, que preferem ver DeSantis como candidato porque consideram Trump muito manchado para vencer a eleição de 2024.
Dois doadores republicanos ricos e de longa data disseram à Reuters que os comentários de DeSantis revelaram a falta de experiência nacional e os deixaram preocupados com o fato de ele não estar pronto para a exposição em horário nobre de uma campanha presidencial.