Em 10 de Janeiro de 1912, às 13h e 40 min, os canhões do Forte São Marcelo que deveriam proteger a cidade, voltaram-se contra a capital baiana, bombardeando-a impiedosamente por cerca de quatro horas.
A perversa ação militar foi autorizada pelo Marechal Hermes da Fonseca, que era o então Presidente da República.
Na Bahia, existia na época uma intensa disputa entre dois grupos políticos. Um era liderado pelo senador Ruy Barbosa, dominante. O outro grupo era liderado por J. J. Seabra, ministro da Viação e Obras Públicas da época e ele era apoiado pelo Presidente Hermes.
Tudo começou dois antes do bombardeio, quando em 1910, Ruy Barbosa concorreu à presidência em oposição ao gaúcho Hermes da Fonseca, que era o candidato governista.
Em 1911, Seabra lançou-se candidato ao Governo da Bahia.
Ruy Barbosa alegava que Seabra era inelegível, de acordo com as regras da época. O governo federal então começou a exibir seu poder militar, desfilando navios de guerra na Baía de Todos os Santos.
Pressionado, o então governador da Bahia, Araújo Pinho, que era aliado de Ruy Barbosa, renunciou em 13 de dezembro de 1911.
O segundo na linha de sucessão era o presidente do senado estadual, que alegou problemas de saúde para não assumir. Assumiu, então, o presidente da Câmara, o deputado estadual Aurélio Viana.
O novo governador convocou uma Assembleia Estadual, em Jequié, no interior do Estado e bem distante dos canhões do exército, que já se movimentavam ostensivamente nos fortes.
A Câmara dos Deputados, em Salvador, foi fechada pelo governador Viana para ser aberta em Jequié. Os partidários de Seabra alegavam que a Assembleia deveria ser convocada pelos parlamentares e conseguiram um habeas corpus para entrar na Câmara, guardada pela polícia estadual.
A recusa do governo em cumprir o habeas corpus levou o general Sotero de Meneses a divulgar um boletim, em 10 de Janeiro de 1912, informando que usaria a força para assegurar o direito dos congressistas.
O general Sotero de Menezes seguia ordens do Marechal Hermes da Fonseca, que era o Presidente do Brasil na época e apoiava seu ministro J. J. Seabra.
O comércio fechou, as linhas de bonde pararam e pessoas fugiram quando se espalhou a notícia divulgada pela imprensa.
Às 13h e 40 min do dia 10 de Janeiro de 1912, os canhões do Forte São Marcelo dispararam dois tiros de pólvora seca, como aviso. O bombardeio real começou 20 minutos depois.
O Forte de São Pedro e o Forte do Barbalho também atiraram para o Centro da cidade. O bombardeio continuou por cerca de quatro horas.
Vários prédios históricos foram atingidos, incluindo o Palácio dos Governadores, a Câmara dos Deputados, o Theatro São João e a antiga Sé Primacial.
A Biblioteca Pública, fundada em 1811, foi incendiada por granadas, destruindo inestimável documentação histórica e milhares de livros antigos trazido pelos portugueses e de outros tantos países do mundo, o porto de Salvador era parada obrigatória para os navios que navegavam no oceano atlântico na época.
Acima, imagem do Palácio do Governo após o bombardeio de 1912, severamente danificado com os tiros do Forte São Marcelo e incendiado. O histórico prédio foi a primeira sede do governo do Brasil, em 1549. Hospedou a família do Príncipe Regente Dom João, vindo de Lisboa em 1808. Hospedou Dom Pedro I, em 1826, e Dom Pedro II, em 1859. A parte incendiada abrigava a Biblioteca Pública e seu precioso acervo virou cinzas.
Após o bombardeio ao Palácio, o exército enfrentou a polícia militar e ocupou o Centro da Cidade. Salvador tinha sido tomada a mando de Hermes da Fonseca.
Houve mortes, vários civis envolveram-se no conflito e nos dias seguintes os enfrentamentos continuaram. Algumas pessoas morreram e muitas ficaram feridas, mas a quantidade é incerta até hoje.
Aurélio Viana abandonou o governo em 12 de janeiro e se exilou na França.
O presidente do Tribunal da Relação, Bráulio Xavier, assumiu em seu lugar e organizou as eleições. J. J. Seabra saiu-se vitorioso e assumiu o governo em 28 de maio de 1912.
A ascensão de J. J. Seabra foi um ponto de inflexão na política baiana. Anteriormente, sob grande influência de Ruy Barbosa e sua campanha civilista. Seabra era populista e popular. Mas apoiou o bombardeio da cidade de Salvador, uma contradição na época.
E Seabra infelizmente também promoveu uma grande modernização do antigo Centro de Salvador, destruindo vários prédios e templos históricos, como a Igreja da Ajuda (1579), a Igreja de São Pedro, parte da Igreja do Rosário e da Igreja das Mercês, para a passagem dos bondes elétricos de uma companhia inglesa.
Mas, a maior surpresa na política estava em 1913, quando o então governador Seabra lançou a candidatura de seu até então adversário Ruy Barbosa à Presidência da República, surpreendendo a quase todos (que não eram políticos).