Os últimos capítulos da briga de Lula com o Banco Central aplicam uma dose extra de pressão sobre Fernando Haddad e alimentam disputas internas no governo. O ministro da Fazenda trabalhava segundo Bruno Boghossian, da Folha de S. Paulo, para atender à plataforma política do presidente, ao mesmo tempo em que oferecia a investidores alguma garantia de estabilidade. Agora, ele se torna foco de tensão dos dois lados da disputa.
Haddad reconhece a posição que ocupa. Nesta terça (7), ele apontou que o BC havia destacado o esforço do Ministério da Fazenda para reduzir o buraco nas contas deste ano. Com a declaração, o ministro tentou baixar a fervura, mas acabou admitindo indiretamente que a queda de juros cobrada por Lula depende dos resultados dessa empreitada.
Na prática, o Comitê de Política Monetária do banco rolou a bola para Haddad. O Copom diz que o pacote de aumento de arrecadação e corte de despesas do ministro pode reduzir o risco de alta da inflação, mas alerta que é preciso acompanhar “os desafios na sua implementação”.
Em outras palavras, a equipe do BC que define a taxa de juros sugere que pode haver espaço para cortes se o governo fizer o dever de casa.
Apesar de aceitar a barganha numa arena técnica, o chefe da Fazenda também foi escalado para uma função política. Ainda nesta terça, Lula disse que ministros e o Senado devem vigiar a atuação do BC. Para a missão, o presidente citou nominalmente Haddad e Simone Tebet, que têm atuado em dobradinha.
Outros petistas usam um tom diplomático para sugerir que Haddad deve ser o responsável por uma articulação de bastidores pelo corte de juros. O senador Jaques Wagner, líder do governo, disse à Folha que o ministro “vai dialogar o tempo todo com o presidente do Banco Central”.
O cenário também lança Haddad num embate com uma ala do PT que, em vez de um aperto, defende uma injeção de dinheiro público para driblar o risco de baixo crescimento em 2023. O ministro sabe que o grupo tenta aproveitar o momento para exercer influência sobre Lula.