O número de aparelhos ativos com conexão IoT (Internet das Coisas, em português) chegou a 12,2 bilhões em 2021. Isso representou um crescimento de 8% em relação a 2020, abaixo da média dos anos anteriores.
Os dados são da consultoria IoT Analytics. A pesquisa indica que serão mais de 14,4 bilhões de aparelhos com a conexão até o final de 2022.
O setor retomou a expansão neste ano. Projeta-se que até 2025 serão cerca de 27 bilhões de dispositivos conectados.
O Brasil começou a implementar e expandir este formato de conexão digital em 2019 com o Plano Nacional de Internet das Coisas. O documento estabelecia a livre concorrência e a circulação de dados para estes aparelhos no mercado nacional.
Segundo a regulamentação, o termo “Internet das Coisas” se refere à capacidade dos dispositivos físicos em transmitir informações por meio de redes sem fio, como wi-fi ou bluetooth. Também permite a integração entre aparelhos digitais e objetos.
São classificados como objetos ou dispositivos contectados à Internet das Coisas aqueles que:
- recebem dados digitais de sensores e/ou vão para atuadores;
- estejam conectados a uma rede fora do objeto;
- consigam processar dados sem intervenção humana.
A principal característica dos dispositivos IoT é a comunicação entre diferentes sistemas por meio de um conexão sem fio. Carros autônomos, drones e aparelhos que reconhecem comandos de voz são alguns dos exemplos de IoT.
Assim, dispositivos IoT são considerados serviços com valor agregado em razão da capacidade de comunicação, coleta, armazenamento ou processamento de dados que desempenham.
Ao Poder360, o professor de sistemas eletrônicos da USP (Universidade de São Paulo) Marcelo Zuffo explicou que dispositivos conectados à Internet das Coisas têm as seguintes características:
- baixo custo de energia;
- se comunicam em longas distâncias;
- enviam mensagens curtas.
Zuffo afirmou que há uma possível “subnotificação” sobre a quantidade de aparelhos conectados à Internet das Coisas mundialmente. “É assustador o número de dispositivos conectados porque nós estamos conectando tudo na internet agora. A gente imagina trilhões de [aparelhos] conectados”, disse.
Zuffo disse que o menor crescimento de conexões ao IoT em 2021 foi causado pela queda da produção global de semicondutores de 2020 a 2021 por conta da pandemia de covid-19.
“É um problema estrutural e sistêmico para toda indústria a falta de chips. Agora, se pretende retomar a [produção] de 2019”, disse Zuffo.
Já Edson Tavares de Carvalho, professor de computação na UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná) disse ao Poder360 que “saímos de um cenário de pandemia para entrar em incertezas”.
Para ele, a guerra na Ucrânia e o cenário de alta inflação nos países são alguns dos fatores que dificultam a retomada do setor de semicondutores.
A produção de dispositivos conectados à Internet das Coisas deve ser afetada pelo impacto da alta dos preços nas cadeias de suprimento de semicondutores, componente essencial para a fabricação de aparelhos conectados.
A IoT Analytics prevê que a inflação mundial e a guerra na Ucrânia, somadas à busca por mão de obra qualificada, serão os maiores obstáculos para o crescimento da Internet das Coisas nos próximos anos.
Porém, segundo Zuffo, a aposta para o futuro da Internet das Coisas é a incorporação da tecnologia de inteligência artificial usada na “nuvem”. “[Isso] é o que a gente chama de computação de borda”, explicou o professor da USP.
“Não podemos falar em 2030 porque o setor está com pesquisas [aceleradas]. A grande aposta é em ‘IoT inteligente’. Isso significa que vai ter de projetar chips diferentes”, disse Zuffo.
IOT no Brasil
Em relação à produção de dispositivos no país, Carvalho afirmou que “o Brasil tem se desenvolvido, seja na academia ou em indústrias. Os produtos nacionais são produzidos em startups e empresas que apostam em tecnologia”.
Marcelo Zuffo disse haver “grande demanda [de dispositivos IoT], principalmente no agronegócio e na saúde”.
Segundo o professor da USP, o Brasil “não vai ser um país de jovens” nos próximos anos. Zuffo afirmou que a Internet das Coisas é uma ferramenta que pode “prolongar a perspectiva da vida humana” por ter tecnologias capazes de melhorar a qualidade de vida. Disse haver na USP projetos para aprimorar a mobilidade e segurança.
Para a indústria, projetam-se fábricas automatizadas e operadas com dispositivos IoT. O professor da USP afirmou que a expansão do setor no país vai ser impulsionada com a chegada do 5G.
Esta reportagem foi produzida pelas estagiárias em jornalismo Aline Marcolino e Júlia Mano sob a supervisão do editor-assistente Lorenzo Santiago.