Em seu primeiro pronunciamento, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) adotou um tom de união nacional, prometendo governar para todos os brasileiros, defendeu a democracia, e colocou o combate à fome como prioridade. Confira abaixo os principais trechos do discurso.
RECONCIALIAÇÃO
“A partir de 1º de janeiro de 2023, vou governar para 215 milhões de brasileiros, e não apenas para aqueles que votaram em mim. Não existem dois Brasis. Somos um único país, um único povo, uma grande nação. Não interessa a ninguém viver numa família onde reina a discórdia. É hora de reunir de novo as famílias, refazer os laços de amizade rompidos pela propagação criminosa do ódio. A ninguém interessa viver num país dividido, em permanente estado de guerra”.
“Esta não é uma vitória minha, nem do PT, nem dos partidos que me apoiaram nessa campanha. É a vitória de um imenso movimento democrático que se formou, acima dos partidos políticos, dos interesses pessoais, das ideologias, para que a democracia saísse vencedora”.
COMENTÁRIO
Lula busca unificar o país, após a disputa presidencial deste ano marcar o placar mais apertado desde a redemocratização. O resultado também reforçou divisões geográficas na preferência dos eleitores.
COMBATE À FOME
“Nosso compromisso mais urgente é acabar outra vez com a fome. Não podemos aceitar como normal que milhões de homens, mulheres e crianças neste país não tenham o que comer, ou que consumam menos calorias e proteínas do que o necessário.
Se somos o terceiro maior produtor mundial de alimentos e o primeiro de proteína animal, se temos tecnologia e uma imensidão de terras agricultáveis, se somos capazes de exportar para o mundo inteiro, temos o dever de garantir que todo brasileiro possa tomar café da manhã, almoçar e jantar todos os dias. Este será, novamente, o compromisso número um do nosso governo”.
COMENTÁRIO
Lula elenca o combate à fome como prioridade. Indicadores mostraram recuo na área nos últimos anos. O Brasil voltou, por exemplo, ao Mapa da Fome das Organização das Nações Unidas (ONU).
POLÍTICAS SOCIAIS
“Vamos retomar o Minha Casa Minha Vida, com prioridade para as famílias de baixa renda, e trazer de volta os programas de inclusão que tiraram 36 milhões de brasileiros da extrema pobreza. O Brasil não pode mais conviver com esse imenso fosso sem fundo, esse muro de concreto e desigualdade que separa o Brasil em partes desiguais que não se reconhecem. Este país precisa se reconhecer. Precisa se reencontrar consigo mesmo.”
“A roda da economia vai voltar a girar com os pobres fazendo parte do orçamento. Com apoio aos pequenos e médios produtores rurais, responsáveis por 70% dos alimentos que chegam às nossas mesas. Com todos os incentivos possíveis aos micros e pequenos empreendedores, para que eles possam colocar seu extraordinário potencial criativo a serviço do desenvolvimento do país.
É preciso ir além. Fortalecer as políticas de combate à violência contra as mulheres, e garantir que elas ganhem o mesmo salários que os homens no exercício de igual função. Enfrentar sem tréguas o racismo, o preconceito e a discriminação, para que brancos, negros e indígenas tenham os mesmos direitos e oportunidades. Só assim seremos capazes de construir um país de todos. Um Brasil igualitário, cuja prioridade sejam as pessoas que mais precisam. Um Brasil com paz, democracia e oportunidades”.
COMENTÁRIO
O novo presidente também destacou o combate à desigualdade e disse que retomará o programa habitacional das gestões petistas. O atual, Casa Verde Amarela, teve corte no orçamento para 2023.
DEFESA DA DEMOCRACIA
“O povo brasileiro quer ter de volta a esperança. É assim que eu entendo a democracia. Não apenas como uma palavra bonita inscrita na lei, mas como algo palpável, que sentimos na pele, e que podemos construir no dia a dia.
Foi essa democracia, no sentido mais amplo do termo, que o povo brasileiro escolheu hoje nas urnas. Foi com essa democracia — real, concreta —que nós assumimos o compromisso ao longo de toda a nossa campanha. E é essa democracia que nós vamos buscar construir a cada dia do nosso governo. Com crescimento econômico repartido entre toda a população, porque é assim que a economia deve funcionar – como instrumento para melhorar a vida de todos, e não para perpetuar desigualdades”.
COMENTÁRIO
Após sucessivos ataques do presidente Jair Bolsonaro às instituições e ao sistema eleitoral, Lula enfatizou o respeito à democracia como bandeira de sua candidatura e de seu próximo governo.
HARMONIA ENTRE PODERES
“É preciso retomar o diálogo com o Legislativo e Judiciário. Sem tentativas de exorbitar, intervir, controlar, cooptar, mas buscando reconstruir a convivência harmoniosa e republicana entre os três poderes. A normalidade democrática está consagrada na Constituição. É ela que estabelece os direitos e obrigações de cada poder, de cada instituição, das Forças Armadas e de cada um de nós. A Constituição rege a nossa existência coletiva, e ninguém, absolutamente ninguém, está acima dela, ninguém tem o direito de ignorá-la ou de afrontá-la”.
COMENTÁRIO
O presidente eleito busca se contrapor ao governo Bolsonaro, marcado por ataques do atual titular do Palácio do Planalto e de seus aliados ao Judiciário, principalmente aos ministros do Supremo Tribunal Federal.
POLÍTICAS PARTICIPATIVAS
“Também é mais do que urgente retomar o diálogo entre o povo e o governo. Por isso vamos trazer de volta as conferências nacionais. Para que os interessados elejam suas prioridades, e apresentem ao governo sugestões de políticas públicas para cada área: educação, saúde, segurança, direitos da mulher, igualdade racial, juventude, habitação e tantas outras.
COMENTÁRIO
Lula indica a retomada de conselhos e conferências setoriais, medidas de participação da sociedade civil adotadas em gestões petistas. Também acena a prefeitos e governadores em busca de governabilidade.
POLÍTICA EXTERNA
“O Brasil que apoiou o desenvolvimento dos países africanos, por meio de cooperação, investimento e transferência de tecnologia. Que trabalhou pela integração da América do Sul, da América Latina e do Caribe, que fortaleceu o Mercosul, e ajudou a criar o G-20, a UnaSul, a Celac e os BRICS. Hoje nós estamos dizendo ao mundo que o Brasil está de volta. Que o Brasil é grande demais para ser relegado a esse triste papel de pária do mundo”.
“Queremos um comércio internacional mais justo. Retomar nossas parcerias com os Estados Unidos e a União Europeia em novas bases. Não nos interessam acordos comerciais que condenem nosso país ao eterno papel de exportador de commodities e matéria prima”.
COMENTÁRIO
O petista sinaliza que retomará uma política externa com especial atenção para a América Latina e África. E promete reverter o isolamento internacional do Brasil no mundo, na comparação com a gestão Bolsonaro.
POLÍTICA AMBIENTAL
“O Brasil está pronto para retomar o seu protagonismo na luta contra a crise climática, protegendo todos os nossos biomas, sobretudo a Floresta Amazônica. Em nosso governo, fomos capazes de reduzir em 80% o desmatamento na Amazônia, diminuindo de forma considerável a emissão de gases que provocam o aquecimento global. Agora, vamos lutar pelo desmatamento zero da Amazônia”.
COMENTÁRIO
A promessa de zerar o desmatamento tem como pano de fundo o crescimento do indicador na gestão de Bolsonaro. A alta do desmatamento nos três primeiros anos do atual governo chega a 73%.
ACENO RELIGIOSO
“Na última quarta-feira, o Papa Francisco enviou uma importante mensagem ao Brasil, orando para que o povo brasileiro fique livre do ódio, da intolerância e da violência. Quero dizer que desejamos o mesmo, e vamos trabalhar sem descanso por um Brasil onde o amor prevaleça sobre o ódio, a verdade vença a mentira, e a esperança seja maior que o medo”.
“Todos os dias da minha vida eu me lembro do maior ensinamento de Jesus Cristo, que é o amor ao próximo. Por isso, acredito que a mais importante virtude de um bom governante será sempre o amor – pelo seu país e pelo seu povo”.
COMENTÁRIO
Uma das principais diferenças no padrão de votação, segundo as pesquisas, está na religião dos eleitores. Lula acena a evangélicos, segmento em que Bolsonaro tem mais força, e aos católicos, em que o petista tem maior apoio.
ALIANÇAS POLÍTICAS
“Quero cumprimentar cada companheiro e cada companheira que está aqui atrás e tiveram um papel importante nessa campanha, sobretudo, as pessoas que vieram no segundo turno, como a companheira Simone, que foi candidata”.
COMENTÁRIO
O primeiro agradecimento foi para Simone Tebet (MDB), que o apoiou no segundo turno. O petista também agradeceu a outros nomes de fora do PT, como Marina Silva (Rede) e seu vice, Geraldo Alckmin (PSB).