O Banco Central do Brasil é um dos melhores exemplos em reconhecer o perigo de uma inflação e de aumentar as taxas de juros para reduzi-la mais rapidamente. Segundo Kristalina Georgieva, diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), o país teve uma “ação decisiva” contra a inflação, o que “ajudou o Brasil a estar à frente da curva, ao ver a inflação cair mais rapidamente”.
“Como resultado, é um dos países onde as taxas de juros estão caindo. Claro, com cautela. Porque a luta contra a inflação ainda não está totalmente vencida”, disse em entrevista exclusiva ao Mais, da GloboNews.
Em 31 de janeiro, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu reduzir a taxa Selic em 0,5 ponto percentual, de 11,75% ao ano para 11,25% ao ano —permanecendo no menor nível desde março de 2022.
Foi o quinto corte seguido na taxa básica de juros, que tem recuado desde agosto de 2023. A decisão foi unânime.
A diretora-geral afirma que, no passado, quando países viam a inflação cair, logo cortavam os juros. Assim, a inflação voltava e era mais difícil reduzi-la.
“Portanto, essa abordagem cautelosa, combinada com uma ação antecipada, uma ação decisiva, e uma redução das taxas de juros para estimular a economia, coloca o Brasil numa posição muito favorável.”
Para Kristalina, um risco para o Brasil, assim como para outras economias que estiveram à frente da curva no combate à inflação, é que o investidor pode se encontrar em um ambiente em que outros ainda não estão reduzindo as taxas. “Em particular os Estados Unidos e, como resultado, [esses países] estão mais atraentes para o capital e pode haver fuga de capital”.
As reformas feitas pelo governo brasileiro, como a reforma tributária, colocam o Brasil na direção certa, na opinião da diretora-geral. “O Brasil tem um nível relativamente elevado de arrecadação de receitas, mas ainda há oportunidades para melhorar essa base, eliminando lacunas, fazendo ajustes do tipo que a reforma tributária fez.”
Em 15 de dezembro de 2023, o Congresso aprovou a reforma tributária, que foi discutida durante 30 anos por sucessivos governos e dentro do governo, sem nunca ter saído do papel.
A reforma simplifica tributos federais, estaduais e municipais. E estabelece a possibilidade de tratamentos diferenciados, e setores com alíquotas reduzidas como, por exemplo, serviços de educação, medicamentos, transporte coletivo de passageiros e produtos agropecuários.
“A reforma tributária é histórica. E o impacto nos próximos anos, e no longo prazo, será potencialmente significativo. Aumentará o crescimento potencial da economia no Brasil, significando melhores padrões de vida e oportunidades para as pessoas.”
Para 2024, o governo busca um déficit zero, ou seja, um equilíbrio nas contas públicas, sem resultado negativo nem positivo. No ano passado, no entanto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) levantou dúvidas sobre o tema ao dizer que “dificilmente” a meta zero seria atingida.
“Uma revisão das despesas, que já está em curso, pode melhorar a eficiência de quanto dinheiro é aplicado. Vejo também um bom resultado sobre como controlar os gastos. Em vez de estabelecer um teto rígido, forneça uma faixa e, e seguida, estabeleça uma meta clara e fixa para o déficit — chegar a zero no balanço fiscal”, disse a diretora-geral.