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terça-feira 20 de setembro de 2022 às 16:15h

Diretor-executivo negro aponta os desafios para ascender no Brasil

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Conheça Gustavo Narciso: “a minha negritude só faz sentido se o coletivo se beneficiar das minhas conquistas”

Representatividade, potencialidade e mudança social, esses podem ser os principais sinônimo da trajetória profissional e acadêmica do atual diretor do Instituto C&A (IC&A). Nascido em Sorocaba, cidade do interior de São Paulo, filho mais novo de uma linhagem de três irmãos, Gustavo Narciso, aos 34 anos, lidera o IC&A, pilar social de uma das maiores redes de lojas de departamento do país.

Engenheiro Bioquímico, formado pela Universidade de São Paulo (USP), Gustavo Narciso começou sua carreira como consultor de negócios de varejo, após diversas negativas para vagas de trainee em sua área após a formação. Fato que gerou uma reportagem sobre inclusão e diversidade no mundo dos negócios na editoria Carreiras do Valor Econômico – jornal de economia, finanças e negócios brasileiro dos grupos Folha e Globo.

Primeiro de sua família a se graduar em uma instituição pública de ensino, Gustavo Narciso adquiriu experiências em pesquisa científica e em indústria química, mas sonhava em trabalhar com Pesquisa & Desenvolvimento na Natura. Participou de um intercâmbio na África do Sul, no qual aprimorou seu inglês e também se reconectou com sua ancestralidade.

“Tentei diversas vezes, 20 vezes para ser exato, uma posição de trainee na minha área, mas nunca fui selecionado. Então decidi ir para a África do Sul estudar inglês por três meses na Cidade do Cabo – essa experiência, além da minha primeira internacional, foi importante para a minha construção de identidade de homem negro”, relembra.

O primeiro contato com a C&A foi em 2013 quando trabalhava em projetos no varejo e moda, através da Cosin Consulting. Após dois anos atuando na iniciativa, a C&A alocou Gustavo Narciso como Consultor de Projetos em Processos. Apesar de um caminho de sucesso, reconhecimento e ascensão, o racismo não esteve longe da trajetória do engenheiro bioquímico e gestor.

“Não foi incomum ouvir comentários racistas e homofóbicos no começo da minha carreira. E meu silêncio diante dessas situações adveio de um medo de perder o meu emprego ou sofrer maiores retaliações. À medida que eu fui crescendo esse preconceito ficou mais velado, mas não desapareceu. Nós vivemos em um país cheios de preconceitos e discriminação e assumir que o mundo corporativo é isento disso é utopia”, comenta.

Após 4 anos atuando na C&A e em projetos paralelos, a exemplo da startup Incluser – plataforma para ampliar a diversidade no mercado de trabalho, Gustavo Narciso propôs para a C&A a criação do comitê de Diversidade, Equidade e Inclusão. A partir daí atuou como líder em iniciativas nacionais, como a primeira coleção em celebração ao orgulho LGBT do varejo de moda e a parceria com a Transempregos em 2018.

Como resultado dessa atuação, Gustavo passou a integrar o Instituto C&A em 2019, como Gerente de Fortalecimento de Comunidades, e no ano seguinte, assumiu a gerência executiva do IC&A. Pouco mais de um ano à frente das atividades legais do pilar social da empresa, consagrou-se diretor executivo, atuando como ativista corporativo, pensando e executando ações para empoderamento, valorização e reconhecimento de pessoas pretas, indígenas e LGBTQIA+.

“Sempre foi um sonho crescer na C&A e no IC&A, hoje tenho um legado de 31 anos de atuação social para honrar e atualizar as necessidades que estamos tentando amenizar com nosso trabalho. Meu sonho hoje é trazer uma provocação maior ao setor corporativo, quebrando mais paradigmas e causando impacto com inovação e com públicos ainda invisibilizados pelo social e pelo poder público”, pontua.

Ainda em 2021, Gustavo Narciso se dedicou a um projeto paralelo, o canal The Veru Black Talk Show, no YouTube. Um programa de entrevistas “muitíssimo preto” para debater, com responsabilidade e diversidade, as questões relativas à sociedade, sobretudo, àquelas diretamente relacionadas à população preta. Por lá já passara grandes notáveis como Adriana Barbosa, Ellen Oléria, Rita Von Hunty, Rodrigo França, Alberto Pereira Junior e Enzo Celulari.

Uma rápida retrospectiva na trajetória do Gustavo exemplifica todos os resultados que o IC&A gerou para diversas comunidades. Um exemplo disso foi o trabalho desenvolvido em 2019, através de ações voluntárias para mulheres trans e travestis em parceria com o Coletivo Trans Sol. Outro destaque foi a plataforma Nosso Encontro, lançada em 2021, em parceria com a Feira Preta, com objetivo de conectar clientes da C&A a marcas de pessoas negras através do marketplace da empresa.

“Eu tenho um orgulho enorme de ter nesse mesmo ano (2021) apoiado em profundidade 70 marcas brasileiras de pequenos empreendedores de moda e 80% deles serem de pessoas negras. A temática do empoderamento está em minhas decisões e no meu jeito de fazer e trazer a C&A para amplificar esse propósito e servir de inspiração para o mercado é minha meta pessoal”, completa.

Mesmo com todas as conquistas alcançadas até aqui, Gustavo Narciso destaca que existe uma urgência para que todas as empresas adotem uma postura inclusiva, diversa e combativa em relação aos problemas sócio-estruturais. Para o diretor do IC&A o boom da agenda ESG despertou reais reivindicações da sociedade e do mercado consumidor nessa direção.

Dentro das agendas atuais de compromissos por ampliar a diversidade e inclusão, Gustavo conta que a C&A assumiu o compromisso de aumentar a liderança negra e indígena dentro da instituição até 2030. À frente da direção do Instituto C&A, o compromisso firmado é trabalhar o tema empregabilidade na moda, trazendo sobretudo esses dois recortes étnicos-raciais.

“A minha trajetória foi e é pautada em uma sequencia de transformações e inquietudes, parte pela minha natureza e interesse em conhecer coisas novas, mas também para que eu pudesse me sentir confortável nos lugares que ocupei e isso vem do fato de eu ser negro e gay, sem dúvida. A minha negritude só faz sentido se o coletivo se beneficiar das minhas conquistas, caso contrário eu prefiro não me envolver”, finaliza.

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