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sábado 12 de novembro de 2022 às 10:31h

Dilma viaja para Colômbia e dá primeiro passo representando o Brasil; ex-presidente pode ser nomeada Embaixadora

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Centenas de líderes de esquerda, incluindo alguns ex-presidentes, se reuniram em Santa Marta, na Colômbia, entre a quinta e a sexta-feira (11), para discutir o futuro da América Latina.

Estimuladas pelo avanço das lideranças desse espectro ideológico na região, as pautas se concentraram na construção de uma nova agenda de integração local.

Representado pela ex-presidente Dilma Rousseff no 8º Encontro do Grupo de Puebla, o Brasil deixou seu recado de um dos principais nortes da política externa de Brasília a partir de 1º de janeiro de 2023, quando o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tomará posse.

O desafio posto por ela, segundo relatou o jornal espanhol El País, é a integração regional da América Latina, com a reconstrução de instâncias como a Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac) e a União de Nações Sul-Americanas (Unasul).

“Para nós, a questão da América Latina é central”, sublinhou durante sua fala de ontem (10) a ex-presidente, que esteve presente ao lado de Lula em diversos momentos da campanha presidencial e no dia da vitória do 2º turno, em 30 de outubro.

Rafael Rezende, doutor em sociologia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), vê o Grupo de Puebla como um pontapé internacional do Brasil no restabelecimento das relações com os países vizinhos.

“Com certeza, o encontro do Grupo de Puebla é um dos primeiros e muitos passos que o Brasil vai ter que dar para romper o isolamento internacional adquirido durante os quatro anos do governo Bolsonaro — que deixaram o Brasil não só isolado de seus vizinhos, como de antigos parceiros. Então, nesse sentido, o novo governo Lula vai ter que trabalhar muito para retomar essas alianças. Mas o Lula sabe o caminho das pedras”, sugere.

Embora ainda não dê para se ter um balanço completo do que vai sair de efetivo desse encontro, há algumas pistas, diz Rezende.

Na avaliação do especialista, uma delas é a questão do meio ambiente, que passa a ter uma importância muito grande na América Latina e entre a esquerda latino-americana, não apenas devido aos desafios enfrentados pela questão climática. Também pela eleição de Gustavo Petro na Colômbia, de Gabriel Boric no Chile e pela recente eleição de Lula no Brasil. “São três candidatos que bateram muito na tecla do tema ambiental durante suas campanhas”, lembra o pesquisador.

“Eu não sei se podemos falar em uma onda de esquerda ou se podemos falar de um ciclo natural de mudanças de governo da democracia. Mas, com certeza, o fato das cinco maiores economias latino-americanas estarem sob governos de esquerda e de centro-esquerda facilita muito. Primeiro porque, historicamente, a esquerda latino-americana é quem tem esse olhar mais forte e mais destacado da unidade e da integração regional. Historicamente, as direitas latino-americanas têm um olhar muito mais para o norte geopolítico do que para a construção de um processo de integração regional. E também porque são governos que têm algum grau de afinidade nas suas formas de fazer política.”

Bruno Lima Rocha, cientista político e professor de relações internacionais, envereda pelo mesmo viés ao analisar o Grupo de Puebla.

Ele lembra que o Brasil é um pivô continental, e que isso está na literatura geopolítica.

Segundo o pesquisador, se o Itamaraty retomar com muita ênfase o Mercado Comum do Sul (Mercosul), a Unasul e a Celac — exatamente como a ex-presidente Dilma propôs —, o Brasil terá um papel central na América Latina.

“Se o Brasil puxar o freio de mão em relação a essa integração latino-americana, teremos problemas. Mas, precisamos do Banco do Sul (devido a depósitos volumosos, capital de empréstimo e uma ligação direta com o Brics). Sem isso, não conseguimos nos recuperar como um pivô regional e uma liderança nas relações Sul-Sul. Então, a política internacional do BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Social], não por acaso, muito atacada pela Lava Jato e pela extrema-direita, vai ser fundamental nesse momento. A política de coordenação de ações integradas, investimentos conjuntos, do complexo energético (óleo e gás) também. Tudo o que é chave no crescimento e desenvolvimento latino-americano, as oligarquias e a extrema-direita fazem ataques”, analisa.

Para ele, a reaproximação do Brasil com a América Latina pelo Grupo de Puebla ocorre ao menos no campo simbólico.

“O Grupo de Puebla segurou o olho do furacão quando estava operando o chamado Grupo de Lima, que era a projeção da política externa de John Bolton e Donald Trump para a América Latina. É preciso lembrar que o Grupo de Lima encabeçou a tentativa de invasão da Venezuela, que não ocorreu por pouco. Então, uma participação, ainda que mais simbólica do Brasil nesse agrupamento de líderes políticos [de esquerda] tem uma relevância”, avalia.

O analista notou, ainda, que havia a presença de delegação do Partido Comunista da China no Grupo de Puebla.

De acordo com ele, a presença do Brasil entra em um jogo geopolítico duplo: uma demonstração do Brasil para com os vizinhos da América Latina e para com a China também no compasso do sistema internacional, estabelecendo, desse modo, a liderança da região latino-americana.

Como balanço do encontro, a ausência das maiores lideranças latinas (Lula, Petro e Boric não marcaram presença) sinaliza que a agenda internacional está mais apertada do que a agenda continental com a Conferência do Clima (COP-27) no Egito, aponta o especialista.

Mas também há um segundo aspecto desse balanço.

“Está se fazendo política em dois níveis, pois tem relevância dos governos subnacionais, e é muito interessante isso. A esquerda reformista latino-americana começou ganhando municípios, depois regiões e voltou a ter mais presença no Poder Executivo nacional do que na política em nível local e estadual. Entender que é um jogo de dois níveis, até pelo fato de ser realizado em Santa Marta, porque o distrito de Magdalena é um governo progressista, o que é muito difícil na Colômbia, ainda mais nessa região coalhada de guerrilhas, paramilitarismo e de operações contra o narcotráfico. Chama a atenção e é o que descrevemos na literatura como paradiplomacia ou diplomacia entre governos subnacionais”, indica.

Rocha avaliou que tudo o que vai ao encontro de uma política integrada latino-americana também vai ao encontro das posições mais à esquerda na América Latina.

“A superação do realismo regional é fundamental, a essa sandice de projetar o conflito intralatino-americano na Amazônia, por exemplo. É preciso entender os interesses estratégicos [locais] em jogo em escala continental e planetária.”

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