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Lula defende reforma do Conselho de Segurança da ONU durante discurso: 'é preciso falar da paz' — Foto: Ricardo Stuckert
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domingo 21 de maio de 2023 às 07:54h

Diante de Zelensky, Lula condena invasão territorial da Ucrânia e uso da força

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Diante do presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva condenou neste domingo (21) a violação da integração territorial ucraniana e repudiou o “uso da força como meio de resolver disputas”.

Os dois ficaram frente a frente pela primeira vez durante uma sessão de trabalho do G7 e países convidados da cúpula, no Japão, para discutir a paz.

Na mesa, Lula ficou entre o presidente americano Joe Biden e o premiê canadense Justin Trudeau. Bem em frente a ele estava o ucraniano, ladeado pelo indiano Narenda Modi e o sul-coreado Yoon Suk-yeol. Ao centro, estava o anfitrião do encontro, o japonês Fumio Kishida. (Veja na foto acima.)

Em seu discurso, Lula afirmou que está em linha com a Carta das Nações Unidas e que o Brasil “repudia veementemente o uso da força como meio de resolver disputas. Condenamos a violação da integridade territorial da Ucrânia”.
No encontro com o tema “Rumo a um Mundo Pacífico, Estável e Próspero”, Lula disse que “é preciso falar da paz. Nenhuma solução será duradoura se não for baseada no diálogo. Precisamos trabalhar para criar o espaço para negociações”.

Reunião bilateral

Zelensky pediu uma reunião com Lula apenas entre os dois, mas ainda não é certeza de que ocorrerá.

O brasileiro se mostrou, inicialmente, resistente e avaliava a conveniência de ter esse encontro pois o Brasil quer manter um posicionamento de neutralidade em relação à invasão da Ucrânia pela Rússia.

Assessores presidenciais sinalizaram que seria oferecido um horário para Zelensky na noite de domingo, mas ainda não entrou nada oficialmente na agenda de Lula.

O g1 procurou o Itamaraty, mas até a última atualização desta reportagem não havia obtido retorno.

Reforma do Conselho de Segurança da ONU

Lula declarou que é preciso uma reforma do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), que “se encontra mais paralisado do que nunca”.

Segundo o presidente, membros permanentes continuam travando guerras não autorizadas pelo órgão, “seja em busca de expansão territorial, seja em busca de mudança de regime”.

Ele lembrou dos conflitos entre israelenses e palestinos, armênios e azéris, kosovares e sérvios, defendendo que estes também devem receber o mesmo grau de mobilização internacional.

E alertou ainda sobre o risco de uma guerra nuclear. “Enquanto existirem armas nucleares, sempre haverá a possibilidade de seu uso”, declarou.

“Foi por essa razão que o Brasil se engajou ativamente nas negociações do Tratado para a Proibição de Armas Nucleares, que esperamos poder ratificar em breve”, completou.

Confira o discurso de Lula na íntegra:

“Hiroshima é o cenário propício para uma reflexão sobre as catastróficas consequências de todos os tipos de conflito. Essa reflexão é urgente e necessária. Hoje, o risco de uma guerra nuclear está no nível mais alto desde o auge da Guerra Fria.

Em 1945, a ONU foi fundada para evitar uma nova Guerra Mundial. Mas os mecanismos multilaterais de prevenção e resolução de conflitos já não funcionam.

O mundo já não é o mesmo. Guerras nos moldes tradicionais continuam eclodindo, e vemos retrocessos preocupantes no regime de não-proliferação nuclear, que necessariamente terá que incluir a dimensão do desarmamento.

As armas nucleares não são fonte de segurança, mas instrumento de extermínio em massa que nega nossa humanidade e ameaça a continuidade da vida na Terra.

Enquanto existirem armas nucleares, sempre haverá a possibilidade de seu uso.

Foi por essa razão que o Brasil se engajou ativamente nas negociações do Tratado para a Proibição de Armas Nucleares, que esperamos poder ratificar em breve.

Em linha com a Carta das Nações Unidas, repudiamos veementemente o uso da força como meio de resolver disputas. Condenamos a violação da integridade territorial da Ucrânia.

Ao mesmo tempo, a cada dia em que os combates prosseguem, aumentam o sofrimento humano, a perda de vidas e a destruição de lares.

Tenho repetido quase à exaustão que é preciso falar da paz. Nenhuma solução será duradoura se não for baseada no diálogo. Precisamos trabalhar para criar o espaço para negociações.

Também não podemos perder de vista que os desafios à paz e à segurança que atualmente afligem o mundo vão muito além da Europa.

Israelenses e palestinos, armênios e azéris, cossovares e sérvios precisam de paz. Yemenitas, sírios, líbios e sudaneses, todos merecem viver em paz. Esses conflitos deveriam receber o mesmo grau de mobilização internacional.

No Haiti, precisamos agir com rapidez para aliviar o sofrimento de uma população dilacerada pela tragédia. O flagelo a que está submetido o povo haitiano é consequência de décadas de indiferença quanto às reais necessidades do país. Há anos o Brasil vem dizendo que o problema do Haiti não é só de segurança, mas, sobretudo, de desenvolvimento.

O hiato entre esses desafios e a governança global que temos continua crescendo. A falta de reforma do Conselho de Segurança é o componente incontornável do problema.

O Conselho encontra-se mais paralisado do que nunca. Membros permanentes continuam a longa tradição de travar guerras não autorizadas pelo órgão, seja em busca de expansão territorial, seja em busca de mudança de regime.

Mesmo sem conseguir prevenir ou resolver conflitos através do órgão, alguns países insistem em ampliar a agenda do Conselho cada vez mais, trazendo novos temas que deveriam ser tratados em outros espaços do sistema ONU.

O resultado é que hoje temos um Conselho que não dá conta nem dos problemas antigos, nem dos atuais, muito menos dos futuros.

O Brasil vive em paz com seus vizinhos há mais de 150 anos. Fizemos da América Latina uma região sem armas nucleares. Também nos orgulhamos de ter construído, junto com vizinhos africanos, uma zona de paz e não proliferação nuclear no Atlântico Sul.

Testemunhamos a emergência de uma ordem multipolar que, se for bem recebida e cultivada, pode beneficiar a todos.

A multipolaridade que o Brasil almeja é baseada na primazia do direito internacional e na promoção do multilateralismo.

Reeditar a Guerra Fria seria uma insensatez.

Dividir o mundo entre Leste e Oeste ou Norte e Sul seria tão anacrônico quanto inócuo.

É preciso romper com a lógica de alianças excludentes e de falsos conflitos entre civilizações.

É inadiável reforçar a ideia de que a cooperação, que respeite as diferenças, é o caminho correto a seguir.

Muito obrigado.”

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