Uma vida parece pouca para a quantidade de livros que merecem leitura. Dos clássicos aos fenômenos de vendas que furam as bolhas da internet, uma boa indicação pode ser a porta de entrada para um universo gigantesco, seja no mundo da ficção ou da realidade. Neste espírito, quinzenalmente, a equipe do Aliás indica lançamentos recentes, na coluna ‘Estante’, filtragem que elenca títulos em têm sintonia com o momento, pois o mercado editorial acompanha os movimentos da sociedade, política, arte, filosofia, e demais áreas.
No último sábado (23), Dia Mundial do Livro, o Estadão convidou profissionais ligados à literatura para partilhar livros essenciais de suas vidas. Atemporais, as obras vão de clássicos, com autores como James Joyce, Oscar Wilde e William Faulkner, a contemporâneos como Reinhart Koselleck e Ayelet Gundar-Goshen.
‘Finnegans Wake’, de James Joyce.
Destacar um livro que tenha marcado a minha trajetória como leitora é difícil. Houve livros que me marcaram em diferentes épocas e por diferentes razões. Mas não poderia não citar Finnegans Wake (1939), de James Joyce, pois graças a ele passei a me interessar também por tradução e mudei o meu conceito de leitura. Ler o Wake é como atravessar uma wastobe land (terra desolada), para usar uma expressão do livro. Seu leitor é uma espécie de andarilho que vaga por paisagens novas e inusitadas. Todos os livros propiciam muitas experiências de leitura, muitas travessias, mas desconheço outro que tenha tantas possibilidades quanto Finnegans Wake. (Dirce Waltrick do Amarante)
Finnegans Rivolta
Editora Iluminuras
Tradução coletiva do grupo de estudos Finnegans
720 páginas
R$ 198,00
‘O Som e a Fúria’, de William Faulkner
O tom trágico marca O Som e a Fúria, a mais emblemática obra de William Faulkner. Fragmentário, o romance narra a queda de uma família tradicional sulista, derrocada pela modernidade. As inovações técnicas incorporadas por Faulkner, influenciado pelo Ulisses de James Joyce, tornam o livro um dos grandes momentos da literatura norte-americana. (Giovana Proença)
‘O Som e a Fúria’
Companhia das Letras
Tradução de Paulo Henriques Britto
376 páginas
R$ 69,90 / R$ 39,90 (E-book)
‘O Retrato de Dorian Gray’, de Oscar Wilde
O Retrato de Dorian Gray é a cereja do bolo da apetitosa obra de Wilde. Autor de peças antológicas, como Salomé, o romance discute a idealização da beleza com uma verve diabólica. Para estes bicudos tempos em que vale tudo para uma boa foto, a trama desenrolada entre o lorde Henry e o jovem Dorian mostra como a representação de papéis sociais nada mudou em essência, embora os ambientes migraram dos salões ingleses às redes sociais. Este é um tratado sobre as aparências, a perfídia e a miséria humana. (Matheus Lopes Quirino)
‘O Retrato de Dorian Gray’
Penguin Classics/ Companhia das Letras
Tradução: Paulo Schiller
264 páginas
R$ 42,90 / R$ 22,90 (E-book)
‘Reinhart Koselleck: uma latente filosofia do tempo’
Neste volume organizado por Thamara Rodrigues e H. U. Gumbrecht, com tradução de Luiz Costa Lima, chegam ao leitor brasileiro quatro ensaios do historiador Reinhart Koselleck, incluindo uma sutil reflexão sobre as relações ficção e realidade histórica, indo além de autores que, como Hayden White, defendem que a historiografia seria uma representação da realidade cuja eficiência explicativa estaria mais ligada a procedimentos “literários” do que propriamente “científicos”. Com Koselleck, que desloca a discussão da narrativa histórica para o hiato entre experiência e linguagem, as coisas mudam de figura e ganham em complexidade. (André Jobim Martins)
Reinhart Koselleck: uma latente filosofia do tempo
Editora Unesp
Tradução de Luiz Costa Lima
165 páginas
R$ 48,00
‘Popol Vuh’
Popol Vuh, o poema épico do povo maia-quiché. O tema é a origem do homem americano, mas o texto também fala, na última parte, que é histórica, sobre a chegada dos colonizadores espanhóis. O poema é todo narrado na voz passiva, e o personagem principal, a meu ver, é a Terra. Os deuses não são sujeitos “soberanos”, mas sofrem a ação da Terra, assim como todos os habitantes deste planeta. A estadia dos heróis gêmeos Sol e Lua no inframundo é particularmente tocante, pois eles ensinam o pai a morrer. A noção de sexo interespécies, tão importante para a mitologia amerídia, é apresentada no inframundo, conhecido como Xibalda. (Sérgio Medeiros)
‘Popol Vuh’
Editora Iluminuras
Tradução de Sérgio Medeiros
R$ 89,25
‘As Ondas’, de Virginia Woolf
Em uma de suas cartas, Virginia Woolf manifestou o desejo de escrever quatro linhas ao mesmo tempo para exprimir o mesmo sentimento – como faria um músico. O romance As Ondas concretiza essa vontade, sobrepondo seis vozes que, como em uma fuga musical, resultam em uma amálgama de perspectivas. Por meio deste caleidoscópio, a obra captura uma miríade de impressões e representa um momento histórico turbulento – no qual o passado é angustiante, o presente é insuficiente e o futuro é incerto. (Laura Pilan)
‘As Ondas’
Editora Autêntica
Tradução de Tomaz Tadeu
256 páginas
R$ 69,80 / R$ 48,90
O Coração das Trevas, de Joseph Conrad.
Fantasia feérica, mas também retrato do mal metafísico e histórico (o genocídio promovido no Congo pelo rei belga Leopoldo II). Conrad aprendeu inglês já adulto, pois nasceu em Berdychiv, na atual Ucrânia. E esse coração trevoso é também o coração peludo de Vladimir Putin. (Paulo Nogueira)
‘O Coração das Trevas’
Antofágica
Tradução de José Rubens Siqueira
288 páginas
R$ 69,90
‘Pílulas azuis’, de Frederik Peeters
A graphic novel do já consagrado Frederik Peeters trata de um casal que tem de conviver com o fato de um deles ser soropositivo. O tema da AIDS, aparentemente superado na contemporaneidade, impõe dificuldades na vida cotidiana até então ignoradas pelo público comum. Na história, a superação é possível em nome de uma vida a dois e da parceria estabelecida. Merecem ainda destaque os belíssimos traços do autor e sua capacidade de sustentar diálogos extremamente complexos em um gênero literário ainda bastante subestimado no Brasil. Um verdadeiro deleite. (Faustino Rodrigues)
‘Pílulas Azuis ‘
Nemo
Tradução de Fernando Scheibe
208 páginas
R$ 59,90 / R$ 41,90
‘Uma noite, Markovitch’, de Ayelet Gundar-Goshen
A jovem escritora israelense surge como grande prodígio na literatura mundial. Em Uma noite, Markovitch explora o imponderável através da insegurança de seu protagonista. O livro, repleto de pausas sem perder um dinamismo narrativo, é uma ótima oportunidade para se ver como ideias e estilos literários circulam em um mundo globalizado, conferindo infinitas possibilidades de construção de uma trama. (F.R)
Uma noite, Markovitch
Todavia
Tradução de Paulo Geiger
400 páginas
R$ 89,90 / R$ 62,90
‘Hiroshima, Meu Amor’ – Marguerite Duras
A editora Relicário relança obra clássica da escritora francesa de origem vietnamita, que foi filmada por Alain Resnais em 1959, e que trata de uma relação conturbada entre uma atriz francesa e um arquiteto japonês em Hiroshima. Duras analisa tanto a questão do preconceito como a distência cultural entre os amantes. (Antonio Gonçalves Filho)
Hiroshima meu amor
Editora Relicário
Tradução de Adriana Lisboa
196 páginas
R$ 57,90