Para o Dia do Médico, celebrado nesta segunda-feira (18) o jornal Extra perguntou a seis especialistas de áreas diferentes, com larga experiência na profissão, o que tinham aprendido com a pandemia. A resposta mais frequente foi terem se tornado médicos mais sensíveis, solidários, ouvintes. E que o papel no exercício da profissão vai muito além da prescrição de um bom tratamento. A medicina moderna, repleta de recursos tecnológicos, nunca foi tão humanizada como agora.
Marcus Lacerda, infectologista da Fiocruz Amazônia: No auge da pandemia, que aconteceu no comecinho deste ano, cheguei a atender 50 doentes por dia. Vi inúmeras pessoas aflitas, pagando consultas para ouvir que estavam bem, que não precisavam se preocupar, já que não desenvolveram a versão grave da Covid. Isso fazia muita diferença para elas. Ficou claro que o papel do médico vai muito além de prescrever um tratamento. É conversar com o paciente, olhar para ele, ouvir a sua história”.
Ludhmila Hajjar, cardiologista da Rede D’Or e do Hospital das Clínicas: “A pandemia mudou a minha vida e a minha maneira de pensar, de compreender o ser humano e o mundo. Fortaleci ainda mais meu compromisso com a ciência e com a prática da medicina baseada em evidências. Aprendi que ser médico vai além de uma prescrição de medicamentos, envolve um papel ativo fundamental para a transformação não só do doente, mas de todos ao seu redor. Redobrei minha fé, me tornei mais solidária e humana”.
Roberto Kalil, cardiologista do InCor e do Hospital Sírio-Libanês: “Uma das grandes lições deste período é ter visto a fragilidade do sistema de saúde do mundo todo, independentemente do poder econômico do país. Outra coisa importante: ela nos mostrou a imensa capacidade de trabalho dos profissionais de saúde. Na tentativa de salvar vidas, ultrapassamos qualquer limite que poderíamos imaginar, tanto física quanto psicologicamente. Certamente saí mais forte dessa pandemia”.
David Uip, infectologista do Hospital Sírio-Libanês: “Em 23 de março de 2020, eu fui diagnosticado com Covid-19. Passadas duas semanas de quarentena, voltei ao trabalho. Dois meses depois, tive um esgotamento físico e emocional brutal, tive que parar. Eu me recuperei e hoje está tudo absolutamente normal. Mas no lugar do paciente, senti de fato que essa é uma doença imprevisível. Não há dúvidas de que eu sou hoje um médico mais afetivo, compreensivo e mais ouvinte”.
José Luiz Setúbal, pediatra do Hospital Sabará, em São Paulo: “As milhares de mortes que poderiam ter sido evitadas me abalaram demais. Penso constantemente nas crianças que perderam um ou ambos os pais e nas famílias ceifadas pelos óbitos prematuros de seus entes queridos. Saio desse período com o olhar ainda mais amplo para os problemas de saúde no país. A pandemia escancarou a tremenda desigualdade social no Brasil, atingindo em sua maioria as crianças negras e indígenas”.
Fernando Maluf, oncologista do Albert Einstein e da Beneficência Portuguesa: “Esse ano e meio de pandemia solidificou para sempre minha impressão de que, a despeito dos avanços tecnológicos e nas táticas de cirurgias e tratamentos, o afeto e o sorriso são tão importantes quanto os cuidados com o paciente. Muitos médicos estavam indo no caminho contrário, se distanciando de seus doentes. O velho ditado nunca foi tão atual, de que o médico tem que cuidar do doente, não só da doença”.