Em poucos dias, os estudantes soteropolitanos viram as suas rotinas de estudo mudar por conta da pandemia do novo coronavírus. A sala de aula foi substituída pelos cômodos da casa, e o professor passou a ser visto pela tela do computador, do celular ou da televisão. Alguns passaram a responder exercícios e entregar uma vez por semana nas escolas. Vale tudo para continuar aprendendo. O importante é não interromper o processo contínuo do aprendizado.
É nesse cenário que crianças, adolescentes e adultos vão comemorar o Dia do Estudante, nesta terça-feira (11). No Brasil, a data foi sugerida em 1927, em homenagem aos cem anos de fundação dos dois primeiros cursos de ciência jurídica no país por Dom Pedro I.
Para Graziane do Nascimento, de 14 anos, a nova rotina tem sido um desafio que ela está encarando e superando a cada dia. Ela conta que acorda diariamente às 9h, se alimenta e se organiza para assistir as aulas da Escola Mais, disponibilizadas pela Secretaria Municipal de Educação (Smed) nos canais de TV 4.2 e 4.3. Além disso, sempre que pode ela confere os livros que estão disponíveis na plataforma Árvore de Livros, outra ação da Smed.
“As aulas são diferentes porque a gente tem que acompanhar o ritmo do professor. Às vezes, eu fico com alguma dúvida. Aí, guardo para perguntar depois. As aulas que eu mais gostei até o momento foram as de matemática, sobre equação do segundo grau e raiz quadrada”, conta.
Graziane cursa o 9º ano na Escola Municipal Dona Arlete Magalhães, no bairro de Castelo Branco. A adolescente resume a educação em uma palavra: tudo. “Para mim, a educação é tudo, porque para qualquer lugar que a gente queira chegar, a gente precisa dela. Eu tenho saudade da minha escola. Estou ansiosa para o recomeço”.
Oportunidade
No TAP III da Educação de Jovens e Adultos, o auxiliar de serviços gerais José Airton dos Santos, de 50 anos, define o estudante como alguém que busca por conhecimento e boas oportunidades. “Para mim, a escola representa a recuperação do que eu perdi no passado”.
Ele conta que teve que parar de estudar na 3ª série, quando ainda era criança, para trabalhar na roça no estado do Ceará, onde nasceu. “Eu tive oportunidade, acesso a escolas boas e joguei fora. Hoje, estou abraçando a escola com vontade. No mercado de trabalho tudo hoje é informatizado e você precisa ter conhecimento para manusear essas tecnologias”, opina.
Morando há mais de 20 anos em Salvador, José Airton está resolvendo as atividades semanalmente e levando para a escola respondidas. “Os assuntos são interessantes. Houve um texto e exercício sobre a pandemia, houve outro sobre o feminicídio. São informações que eu não tinha e passei a ter. É uma troca, porque, às vezes, eu ajudo com informações novas e em outras vezes sou eu que aprendo. Nós temos um grupo no Whatsapp e sempre que temos dúvidas, perguntamos e debatemos”, revela.
O titular da Smed, Bruno Barral, aconselha todos os estudantes da capital que persistam e continuem buscando conhecer mais e mais. “Eu aconselho não desistir e entender que a chance de permear coisas boas na vida tem que vir por meio da educação. Por mais que os caminhos sejam tortuosos, por mais que a pandemia tenha distanciado os alunos da escola, nesse momento o ideal é manter a esperança e a chama da aprendizagem, da curiosidade e do conhecimento acesa.
Primeira no país
Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD-2019), divulgados recentemente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que Salvador está em primeiro lugar, entre as capitais do país, no acesso à pré-escola. De acordo com o estudo, a taxa de escolarização de crianças em Salvador nesta etapa, que atende a faixa etária de 4 a 5 anos, aumentou de 96,2%, em 2016, para 98,8%, em 2019.
“Isso mostra mais uma vez a que a educação se faz com vontade política e gestão de qualidade. Há pouco mais de três anos à frente da pasta, a gente começa a revelar Salvador para o cenário nacional em termos de qualidade e referência. A educação em nossa cidade é uma das que mais avançam no Brasil em qualidade e em infraestrutura e os números começam a comprovar isso”, diz Barral.
O secretário lembra que, nesse momento de pandemia, a capital mostrou a capacidade que tem de se reinventar. “Desde o começo do isolamento social, estamos fazendo a distribuição de cestas básicas, criamos um canal no Youtube para fazer a interação com as crianças da Educação Infantil, trabalhamos com as atividades impressas, estabelecemos a parceria com a plataforma digital Escola Mais, referência no país, e criamos a plataforma Árvore de Livros com mais de 30 mil exemplares disponíveis, incentivando a leitura a distância”.
Além dessas iniciativas, a Prefeitura se preocupou em incluir os alunos que não têm acesso à internet, com a distribuição de chips com dados, e em divulgar as aulas nos canais de TV aberta 4.2 e 4.3 para aqueles alunos que não têm celular, tablet ou computador.