Filiados a oito partidos, os dez políticos mais ricos de São Paulo detêm, juntos, uma fortuna de mais de R$ 485 milhões, segundo valores informados pelos próprios candidatos ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Levantamento do Estadão considerou os registros deferidos pela Justiça Eleitoral nas eleições de 2020 e 2022 para vereador, prefeito, vice-prefeito, deputado estadual, deputado federal, senador, governador e vice-governador. Também foi incluído um candidato eleito em eleição suplementar em 2021, por ter referência ao pleito no ano anterior.
Veja detalhes sobre os mais ricos
10º – Antonio Manoel da Silva Júnior (MDB): R$ 31.763.109,53
9º – Diogo Ribeiro da Luz (Novo): R$ 33.025.466
8º – Flávio Aparecido Peres (MDB): R$ 33.587.928
7º – Luciano Santos Tavares de Almeida (DEM): R$ 34.097.486
6º – Paulo César de Oliveira Lima (PSD): R$ 36.625.405
5º – Laercio Sandes de Oliveira (União): R$ 39.255.320
4º – Arthur Mario Pinheiro Machado (Republicanos): R$ 49.821.282
3º – Marcelo Di Fiori Ribeiro Costa (PP): R$ 61.073.670
2º – Bayard Freitas Umbuzeiro Filho (PTB) : R$ 76.778.134
1º – Antonio Eduardo Tonielo (PP): R$ 90.867.394
Entre os dez políticos mais ricos de São Paulo, oito são empresários, um é advogado e um é piloto de avião. Somente três da lista foram eleitos aos cargos, quatro ficaram como suplentes e três não conseguiram um mandato. Nenhum deles tentava a reeleição. A lista é composta por nove homens brancos e um pardo. Oito têm ensino superior completo, um incompleto e o detentor da maior fortuna cursou até o ensino fundamental.
No topo, com uma fortuna de R$ 90,8 milhões, está Antônio Eduardo Tonielo (PP), que compôs como vice a chapa pela prefeitura de Sertãozinho nas eleições de 2020. O empresário do setor bioenergético não saiu vitorioso no pleito no município de 127 mil habitantes, localizado na Região Metropolitana de Ribeirão Preto.
Outros oito nomes figuravam nas primeiras posições da lista, com fortunas milionárias na casa dos três dígitos. Uma consulta à relação de bens declarados pelos políticos, no entanto, deixou evidente de que se tratou de erro de digitação dos postulantes, uma vez que apartamentos em prédios padrão ou carros populares, por exemplo, foram declarados como valendo mais de R$ 100 milhões.
Antonio Manoel da Silva Júnior, Junão, como é conhecido, foi eleito pelo MDB para comandar a cidade de Guaíra, no norte do Estado, em uma eleição suplementar em 2021 – ocasião em que estreou na vida pública. Ele conquistou o cargo após o prefeito eleito em 2020 ter o mandato cassado pela Justiça Eleitoral.
Antonio Manoel é empresário e declarou 26 terrenos, lotes e glebas, referente à maior parte do patrimônio declarado de mais de R$ 31 milhões. O emedebista é pré-candidato à reeleição no município.
Procurado pelo Estadão, o prefeito disse que seu patrimônio é “fruto de mais de 40 anos de trabalho árduo como empresário no ramo agropecuário e de empreendimentos imobiliários”.
Vereador suplente do Novo na capital paulista, Diogo Ribeiro da Luz tem a maior parte da sua fortuna fora do País. São R$ 29,6 milhões em moeda estrangeira, depositados em conta corrente no exterior, conforme a declaração de bens de 2020 à Justiça Eleitoral.
Ele disputou o cargo de vereador de São Paulo pela primeira vez em 2016, também ficando como suplente, e tentou ser senador em 2018, mas não conseguiu votos suficientes. Ao Estadão, o ex-empresário da indústria de cafés de qualidade disse que o valor é decorrente da venda de empresas do setor e foi remetido ao exterior porque ele tinha planos de sair do Brasil.
Com a profissão declarada ao TSE como “piloto de avião”, Luz conta que trabalhou na aviação privada e executiva por mais de três décadas. Na lista de bens, também há quotas empresariais do setor de cafés de qualidade, R$ 316 mil em conta corrente no Brasil e um quinto de um apartamento em São Paulo. Luz afirma que não vai concorrer ao pleito deste ano, mas não descarta uma eventual candidatura em 2026.
Flávio Peres (MDB) é vice-prefeito em Garça, a 400 quilômetros da capital paulista. Participou da sua primeira eleição em 2020, quando a chapa formada com João Carlos dos Santos (DEM) saiu vitoriosa e recebeu 11.022 votos.
O emedebista declarou ter R$ 10,8 milhões em dinheiro emprestado, além de R$ 1,6 milhão em uma conta na Flórida, nos Estados Unidos, um sítio, dois motociclos, uma moto, salas comerciais, entre outros bens.
Luciano Santos Tavares de Almeida (DEM). Foto: Divulgação/Prefeitura de Piracicaba
Luciano Almeida (DEM) foi eleito prefeito de Piracicaba em 2020, com 85.081 votos (54,2% dos votos válidos). O empresário já concorreu antes. Em 2016, pelo PSD, tentou ser prefeito, mas não conquistou o cargo. Em 2018, pelo PROS, desistiu de disputar o mandato de deputado federal.
A maioria dos bens declarados pelo prefeito consta como “créditos a receber” de empresas e empréstimos, que corresponde a R$ 33,1 milhões dos mais de R$ 34 milhões. O prefeito foi procurado pelo Estadão, mas não retornou o contato.
Paulo Lima tentou entrar na vida pública em 2006, quando concorreu ao cargo de deputado federal pelo PMDB de São Paulo e não foi eleito. O empresário também concorreu em 2010 e em 2014 ao mesmo cargo, ficando como suplente nas duas ocasiões. Em 2012, pelo PMDB, compôs a chapa como vice para comandar a prefeitura de Presidente Prudente. Em 2020, já pelo PSD, tentou ser prefeito do município, mas não obteve sucesso.
Paulo declarou 65 itens, como apartamentos, investimentos, ações, veículos e terrenos, no total de R$ 36,6 milhões. Há 18 anos, em sua primeira eleição, o total declarado foi de R$ 15,1 milhões. O empresário é dono da TV Fronteira Paulista, emissora local filiada à TV Globo. A reportagem não conseguiu contato com o empresário.
Dr. Laercio Santos já concorreu quatro vezes ao cargo de vereador de Guarulhos, onde exerce o mandato na Câmara Municipal. Em 2008, no primeiro pleito, ficou como suplente. Naquela eleição, o advogado declarou ter bens no valor de R$ 3.044.861,95.
No último pleito que concorreu, em 2022, quando chegou a ser eleito deputado estadual suplente pelo União Brasil, sua fortuna era composta, segundo a declaração de bens, por quatro terrenos (R$ 7,8 milhões), três apartamentos (R$ 3,9 milhões), fundos, ações e créditos decorrentes de empréstimos (mais de R$ 23 milhões).
Deputado estadual suplente pelo Republicanos em São Paulo, Arthur Machado declarou ser dono de uma fortuna de R$ 49,8 milhões em 2022. Só entre ações e quotas em empresas, são mais de R$ 40 milhões. Machado também declarou uma casa, um carro e uma conta bancária na França, em euros, com o equivalente a quase R$ 6,2 milhões. “Talvez eu seja o único honesto, porque eu declarei. Tive esses bens como empresário, e só então entrei na política”, afirmou ao Estadão.
Dois anos antes de tentar a vida política, o empresário chegou a ser preso em um desdobramento da Operação Lava Jato, acusado de pagar propina a fundos de pensão em troca de investimentos. Em novembro do ano passado a ação penal foi trancada por falta de provas, pelo entendimento de que o processo não podia se basear apenas no depoimento do delator.
“Fui preso numa medida preventiva ilegal, nunca fui condenado em nenhuma instância”, disse o empresário. No X (antigo Twitter), o empresário se autodeclara “cristão, engenheiro e mestrando em teologia”.
Di Fiori é suplente de deputado estadual pelo Progressistas. Antes, também foi suplente de deputado federal pelo Podemos, em 2018, e em 2020 foi suplente de vereador, já pelo PP, quando declarou uma fortuna de R$ 49 milhões – R$ 12 milhões a menos que no último pleito, dois anos depois.
“Não ocupo cargo político e não tenho atividade com setor público, sou incorporador imobiliário, além de vender imóveis que eu mesmo construo”, disse ao Estadão.
Metade de sua fortuna vem de quotas de uma empresa familiar do setor imobiliário. O empresário também tem vários bens de produção utilizados no setor agrícola, como maquinário pesado, silos, tratores, além de pastagens, galpões e uma lancha.
Em outubro, Di Fiori disse que pretende ser candidato a vereador por Itapetininga, cidade onde vive há cerca de 25 anos, pelo Republicanos, partido ao qual se filiou recentemente.
Concorrendo à prefeitura de Santos, litoral paulista, em 2020, Bayard Umbuzeiro formou chapa com o vice Valmir Nunes, também do PTB, mas a dupla não foi eleita. O empresário do setor portuário e alfandegário participava de sua primeira eleição.
Bayard declarou ter cinco embarcações. Entre lanchas e veleiros, a soma chega a quase R$ 4,9 milhões em barcos. Já em apartamentos, que são 15, ele informou possuir mais de R$ 11,4 milhões. No total, o empresário declarou 78 itens, que juntos valem mais de R$ 76 milhões. O empresário foi procurado pelo Estadão, mas não retornou o contato.
Com a alcunha de Toninho Tonielo, o empresário formou chapa como vice do então candidato a prefeito Niltinho (Cidadania), em Sertãozinho, a 340 quilômetros da capital. A eleição municipal de 2020 foi a única que o empresário participou; ele não conseguiu ser eleito.
Dono de empresas de transformação de cana-de-açúcar em energia, açúcar e outros subprodutos, Tonielo também possui uma cooperativa de crédito e uma revendedora de automóveis.
A maior parte de sua fortuna está em quotas ou quinhões de capital, totalizando R$ 77 milhões. Toninho também declarou investimentos de R$ 15 milhões, seis apartamentos, somando R$ 1,8 milhão, e 43 casas, que juntas valem R$ 1,02 milhão, entre outros bens. Procurado pelo Estadão, o empresário não se manifestou.