Embora estejam inseridas em contextos sociais e econômicos diferentes e distantes entre si, o que têm em comum, em termos eleitorais, Uberlândia, Uberaba, Poços de Caldas, Pouso Alegre, Divinópolis, Ipatinga, Juiz de Fora, Governador Valadares, Teófilo Otoni e Montes Claros?
Conforme Bernardo Estillac e Guilherme Peixoto, do Estado de Minas, há quatro anos, o presidente Jair Bolsonaro (PL) venceu o primeiro e o segundo turnos da eleição nacional nas 10 cidades.
Em 2002, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que agora tenta chegar pela terceira vez ao Palácio do Planalto, também triunfou em todos os municípios listados nos dois turnos. Levantamento feito pelo Estado de Minas mostra que essa dezena de localidades ajuda a entender a máxima a respeito do papel de Minas Gerais como “pêndulo” das disputas presidenciais. A reboque da estatística que aponta Getúlio Vargas, eleito em 1950, como o último presidenciável a chegar ao comando do Poder Executivo sem ganhar em solo mineiro, as 10 cidades, espalhadas por regiões como Triângulo, Sul, Vale do Aço e Zona da Mata, podem ajudar a definir os rumos do país nesta eleição.
Não foi à toa que Lula e Bolsonaro incluíram municípios da relação na lista de destinos de suas campanhas presidenciais. Na sexta-feira (23/9), o petista esteve em Ipatinga, no Vale do Aço; no mesmo dia, a cerca de 340 quilômetros dali, em Divinópolis, no Centro-Oeste, houve uma agenda do postulante à reeleição. Na semana retrasada, o roteiro do PT fincou bandeira em Montes Claros, no Norte, tradicional reduto do partido. Do outro lado, entre julho e agosto, Bolsonaro visitou Juiz de Fora, na Zona da Mata, por duas vezes, além de somar uma ida a Uberlândia. A cidade do Triângulo também recebeu comício de Lula, mas durante o período pré-eleitoral, quando as candidaturas ainda não estavam oficializadas.
Sob reservas, um interlocutor do PT apontou ao Estado de Minas projeção que trata da hipótese da vitória de Lula no primeiro turno por uma margem de 500 mil votos. Somadas, essas 10 cidades mineiras têm colégio eleitoral pouco superior a 2,3 milhões de pessoas. As sucessivas derrotas de 2018, contudo, não preocupam o entorno lulista no estado. Para o deputado estadual Cristiano Silveira, presidente do diretório petista em Minas, locais como Uberlândia, Pouso Alegre e Ipatinga são fortemente influenciados pela conjuntura nacional.
“Esses municípios foram impactados de maneira mais forte pelo antipetismo e pela questão da prisão de Lula. Bolsonaro ficou mais forte e a internet e as fake news parecem ter tido maior influência nos grandes centros”, diz, ao explicar as vitórias de Bolsonaro. “Em um cenário onde o antipetismo está arrefecido a patamares normais, Lula está inocente, liderando as pesquisas, e Bolsonaro enfrenta muitas contradições. Com o desastre que foi a gestão dele, isso é o que vai nos dar melhor desempenho”, emenda, acreditando num desempenho positivo do PT neste ano.
Em Divinópolis, onde esteve na quinta-feira, Bolsonaro venceu Fernando Haddad (PT) por 65,17% a 34,83%. A terra é o berço do deputado estadual Cleitinho Azevedo (PSC), que concorre ao Senado com o apoio do presidente e foi alçado ao posto por causa da necessidade do grupo bolsonarista de ampliar o leque de alianças no estado. O movimento sepultou a candidatura a senador do deputado federal Marcelo Álvaro Antônio (PL).
“A gente espera que ele (Bolsonaro) tenha um resultado tão bom quanto em 2018. A nossa ideia é manter os bons números, inclusive em Divinópolis”, projeta o deputado estadual Bruno Engler (PL), componente do grupo Direita Minas, responsável por parte das recentes agendas de Bolsonaro no estado. “É um local com boa produção do agro, público que apoia o presidente”, explica.
A tendência é que os “10 a 0” a favor de Bolsonaro e de Lula, vistos em 2018 e 2002, respectivamente, não se repitam neste ano. “Esta eleição é completamente diferente da de 2018. Lula deve ganhar, mas não deve ganhar levando tudo. Bolsonaro tem uma chance de apertar o jogo levando regiões que historicamente não votam no PT, em especial o Sul do estado”, afirma Carlos Ranulfo, professor titular do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e membro do Observatório das Eleições.
Alckmin
O PT trabalha para construir uma espécie de “frente ampla” em torno de Lula. Um dos movimentos para dar forma a essa percepção aconteceu na segunda-feira (19), quando oito ex-candidatos ao Planalto participaram de ato em prol da candidatura petista. O arco de apoios vai de Guilherme Boulos (Psol) a Henrique Meirelles (União Brasil), mas passa por Geraldo Alckmin (PSDB), que concorre a vice na chapa de Lula.
O ex-tucano é uma das apostas da coalizão para buscar apoio de setores refratários ao PT. Na semana retrasada, Alckmin passou pelo Sul de Minas e pelo Triângulo em uma incursão que teve, como um dos compromissos, encontro com representantes da agroindústria em Uberlândia.
“A agricultura familiar não é conflitante com o agronegócio e com a agroindústria. Devemos ter mais a agroindústria no agronegócio e na agricultura familiar. O PT tem de fazer um freio de arrumação nesse discurso sobre o agronegócio. Às vezes, ele não é bem compreendido”, disse ao podcast “EM Entrevista” o deputado federal petista Reginaldo Lopes, coordenador da campanha de Lula em Minas.
De 1998 pra cá, Poços de Caldas, outro foco de Alckmin durante o périplo por Minas, só deu vitória a Lula em 2002. Quatro anos antes, ele perdeu na cidade para Fernando Henrique Cardoso (PSDB); depois, sofreu revés para Alckmin. Dilma Rousseff, correligionária de Lula, emendou derrotas para os também tucanos Aécio Neves e José Serra.
Para este ano, contudo, a ideia é diminuir os riscos de fracasso por lá – e Alckmin tem boa interlocução com a região, vizinha a São Paulo, estado que ele governou por quatro vezes entre 2001 e 2018. “Você acaba duplicando as agendas quando vêm Lula e Alckmin. A gente consegue conversar com todas as regiões. Nossa ideia é deixar uma mensagem em cada macrorregião de Minas”, opinou Reginaldo.