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segunda-feira 4 de novembro de 2024 às 08:05h

Desvio do pedágio da Estrada do Coco é temida por assaltos com bandidos que agem até com fuzil

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São 4 km de pura tensão, diz Bruno Wendel em reportagem do jornal Correio da Bahia. Quem opta por trafegar pelas vias que fazem o desvio do pedágio da Estrada do Coco, de qualquer forma, pode pagar o preço por acessar a região da Cascalheira, em Camaçari, região metropolitana de Salvador. Cientes que os veículos precisam transitar em baixa velocidade, por causa das vias estreitas, repletas de curvas e com quebra-molas, criminosos, em alguns casos com fuzis, rendem motoristas e até pedestres. Em 16 dias, pelo menos três episódios foram registrados no mês de outubro, entre eles a tentativa de assalto contra um policial militar, que teve o veículo crivado de balas.

“A situação aqui está complicada. Toda hora a gente fica sabendo que alguém foi cercado por eles (ladrões). Chegam sempre de carro ou moto e param quem quer que seja e levam tudo, veículo, celular. Sabem que o fluxo é grande aqui porque as pessoas não querem pagar o pedágio. É um problema antigo”, conta um morador da região. “No passado, chegam de revólver. Agora? É pistola, submetralhadora, fuzil, o que tiver”, diz ele.

A Estrada da Cascalheira é a BA-531, que possui 12,7 km de extensão e é a principal ligação entre a sede e a orla do município. Em suas extremidades estão os trechos de assaltos frequentes: as ruas Vagem Grande e Nossa Senhora Aparecida, que fazem também parte da região conhecida como Cascalheira – nome dado a área do entorno da rodovia. Por dia, em finais de semana com feriado, como este último, mais de 30 mil veículos circulam pela Estrada do Coco.

O que acontece? Os motoristas que não querem passar pela praça de pedágio, localizada no km 14,5, sentido Estrada do Coco/Lauro de Freitas, acessam a Rua Vagem Grande, que tem 2 km de extensão e que fica logo após um último retorno, seguem uns 300 metros sentido a sede de Camaçari e depois entram à esquerda na Rua Nossa Senhora Aparecida, por mais 2 km para saírem depois da praça de pedágio da Estrada do Coco.

E foi realizando esse trajeto que um tenente da Companhia Independente de Policiamento Especializado – Polo Industrial (Cipe-Polo) da Polícia Militar foi vítima de uma tentativa de assalto no dia 24 de outubro. “Era o dia de folga dele. Na hora, a mãe estava com ele no carro”, conta um policial, colega do tenente. Segundo ele, o tenente foi surpreendido por três homens que fizeram o ataque quando ele reduziu para passar por um quebra-molas já no final da Rua Nossa Senhora Aparecida, também chamada de Rua das Palmeiras.

“Quando percebeu a aproximação, ele sacou a arma e os caras atiraram na direção dele. Na troca de tiros, ele conseguiu se livrar dos disparos, mas o carro dele foi atingindo quatro vezes no pará-brisa. A mãe dele estava no banco de trás e não se feriu”, relata a fonte. Após a tentativa frustrada, os assaltantes fugiram.

Estrada da Cascalheiras: trecho perigo tem várias curvas e é cercado por mata
Estrada da Cascalheira: trecho perigoso tem várias curvas e é cercado por mata – Foto: Marina Silva/Correio

Na manhã do dia 9 do mesmo mês, câmeras fixadas em um carro flagraram o momento exato em que um outro veículo foi assaltado também na Rua Nossa Senhora Aparecida. Na imagem impactante, que viralizou nas redes sociais, três homens com os rostos cobertos e armados descem de uma picape e interceptam uma Fiat Toro. Eles chegam a apontar as armas para o motorista que fazia a registro logo atrás, mas o motorista escapa de ré e em seguida avisa aos outros condutores.

“Aqui é uma região de muitos sítios e as poucas casas que têm ficam distantes uma da outra. Ou seja, se alguém procurar ajuda, não vai encontrar. Quando ainda estava aqui, a Ford (que encerrou suas atividades em 2021) teve que contratar uma empresa de segurança privada para escoltar os ônibus, que eram assaltados quase sempre, quando pegavam ou traziam os funcionários que moravam aqui”, afirma um morador.

Já no dia 8, criminosos foram flagrados assaltando uma mulher de manhã na Rua Vagem Grande. Na imagem, é possível ver toda a ocorrência. A vítima caminha segurando a bolsa e uma sacola, quando dois motoqueiros passam por ela – momento em que eles fazem o contato visual, para certificar que ela está sozinha. Em seguida os criminosos retornam e a cercam. Um deles anuncia o assalto e a mulher entrega algo, que parece ser um celular. A dupla vai embora logo depois.

“Não tem dois meses que dois motoqueiros entraram aqui e levaram o celular de todo mundo, inclusive o meu. Foi o quinto aparelho que me tomaram em um ano. Outro dia, um homem parou a Pampa para comprar um coco. Foi só ele descer e os caras chegaram nele e levaram o celular e o carro. Há uns 20 dias, uma picape com uns três homens fechou um outro carro, se não estou engando foi um HB20. Mandou todo mundo sair e os três fugiram com os dois carros”, conta o dono de um boteco na beira da estrada.

Segundo ele, um outro fator contribui para as ocorrências. “A gente está cercado de mata. Às vezes, alguns assaltos são praticados por bandidos que estão escondidos, aguardando uma oportunidade”, relata o comerciante. Um outro morador da região conta que antes do acesso pela Rua Nossa Aparecida, o desvio era para Rua Jacana, que fica defronte à saída da Rua Vagem Grande. “Fecharam e todo mundo passou a usar a outra (Rua Nossa Aparecida). Apesar disso, os assaltos continuam nela, porque carro não avança, mas tem uma abertura que dá para passar as motos e o trecho todo é cercado de moto. A gente só vê os motoqueiros voltando a pé”, relata.

Medo

A reportagem conversou com alguns motoristas sobre os casos de assalto à mão armada. “O perigo existe, mas ando bem ligado. Não paro por nada. Sou autônomo, trabalho indo e voltando. Às vezes, subo e desço em um único dia. Se for para pagar pedágio, vai meu dinheiro todo”, argumenta o corretor de imóveis, André Sacramento, que mora em Salvador, mas trabalha na região do Litoral Norte.

A funcionária pública Lívia Almeida, que reside em Barra de Jacuípe, sabe também dos riscos. “Quem não ficou assustado com o caso do policial que escapou recentemente dos tiros? É o reflexo da insegurança, mas não podemos deixar de viver, de fazer as nossas atividades. Eu vou a Salvador constantemente levar minha mãe para tratamento médico e o custo é alto. Quando a situação aperta, vou e volto pelo desvio. Mas nunca à noite”, explica ela.

Só no último final de semana, entre sexta (1º) e ontem (3), que incluiu o feriado de Finados, a Concessionária Litoral Norte estimou a circulação de mais de 90 mil veículos, pelo pedágio, com maior fluxo justamente no sábado (2), entre 9h às 12h. Em dias úteis, automóveis e caminhonetes pagam R$ 9 nas praças de pedágio e, nos finais de semana e feriados, o valor sobe para R$ 13,50.

O CORREIO manteve contato com a 18º Delegacia (Camaçari). “A área da Cascalheira não é nossa. É da 26ª Delegacia (Vila de Abrantes), mas sempre que precisam, a gente dá apoio”, declara a delegada Danielle Monteiro, a titular da unidade.  Já a delegada titular da 26ª DP, Elaine Laranjeira atendeu à ligação do CORREIO, mas informou que estava de férias.  Sua substituta Amanda Carine foi procurada duas vezes, quinta (31/10) e sexta (01/11), mas o cartório e plantão informaram que ela não poderia atender.

Também na sexta, a reportagem procurou a Polícia Civil, via e-mail e contato por telefone, para saber sobre as providências adotadas em relação à insegurança e quantos assaltos foram registrados neste ano na região. No entanto, a PC respondeu com outras perguntas: “As vítimas registraram boletim de ocorrência? Os dados solicitados levam no mínimo 7 dias úteis para ficarem prontos, tem interesse?”. A Polícia Militar foi igualmente procurada, mas não respondeu.

 Morte delegado

A Estrada da Cascalheira foi cenário também de uma tragédia para a polícia baiana. No dia 26 de maio de 2010, o delegado Clayton Leão Chagas, 35 anos, foi baleado duas vezes na cabeça enquanto concedia entrevista à emissora de Camaçari. Por meio da rádio, foi possível ouvir os disparos dos tiros e o desespero da mulher do delegado, que estava com ele no carro.

Delegado Clayton Leão Chaves foi morto enquanto dava entrevista à rádio Líder FM, na Estrada das Cascalheiras
Delegado Clayton Leão Chaves foi morto enquanto dava entrevista à rádio Líder FM, na Estrada das Cascalheiras Crédito: Foto: Almiro Lopes/Arquivo Correio

Momentos antes do crime, Clayton, que era titular da 18º Delegacia (Camaçari), parou o veículo em um trecho da Estrada da Cascalheiras, para conceder a entrevista, já que não conseguiria ir ao estúdio da emissora. Ele falava sobre segurança na cidade e dizia que já sentia confiança em residir no município.

A notícia do assassinato fez dezenas de policiais e delegados irem para o local do crime para ajudar nas investigações. Em pouco tempo, dois acusados foram localizados com o carro que teria sido usado no crime. Já o terceiro suspeito foi preso no dia 27 de maio do ano corrente.

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