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sábado 17 de junho de 2023 às 08:06h

Desfile dos Fortes: Tradições peculiares marcam São João da cidade baiana de Barra

NOTÍCIAS, OESTE BAIANO, SÃO JOÃO


Algumas cidades da Bahia cultivam formas muito próprias e particulares de vivenciar o São João, que vão do resgate de momentos históricos, como a Guerra do Paraguai, a folguedos dentro de um trem em movimento, e até uma fuga das indumentárias quadradas (e quadriculadas), resultado em marmanjos com trajes femininos.

A cidade de Barra, distante 674 km de Salvador, no oeste dao estado, apresenta uma tradição singular durante as comemorações de São João. Conforme reportagem de Millena Marques, do Correio, existe na cidade há mais de 100 anos, os clubes Curuzu, Humaitá e Riachuelo atravessam as ruas do município com o Desfile dos Fortes, manifestação cultural que faz referência à Guerra do Paraguai.

De acordo com relatos dos moradores, cem barrenses foram enviados ao maior confronto bélico da América Latina, que aconteceu entre 1864 e 1870, e voltaram a salvo. Ao retornarem à cidade natal, os soldados trouxeram em suas bagagens uma quantidade de munição utilizada na guerra e começaram a celebrar a noite de São João com fogueiras e fogos de artifício.

Após a criação dos clubes juninos Curuzu e Humaitá em 1892 e 1896, respectivamente, uma rivalidade foi instaurada durante a exposição dos fogos. As agremiações barrenses, que levam nomes de fortes da Guerra do Paraguai, disputam a melhor performance a cada 23 de junho, com mais de 200 pessoas cada uma, na rua Dom João Muniz, em um trajeto que vai da igreja matriz até o Palácio Episcopal. Criado em 1905, o caçula Riachuelo representa o confronto naval.

“O desfile é o ponto crucial, a cereja do bolo de um São João que é muito bom, muito bem organizado. É uma cultura enraizada aqui na nossa comunidade. A gente se dedica, a gente não ganha nada com isso, pelo contrário, temos despesas, gastamos, doamos o nosso tempo em função deste desfile, para que ele saia bonito, para que a gente tenha aquele orgulho no final do desfile, de saber que a gente fez uma boa apresentação, que a gente honrou as pessoas que saíram de Barra para batalhar em uma terra estrangeira”, afirmou o engenheiro agrônomo Joaquim José Dantas, atual presidente do Curuzu ao jornal.

Clube Curuzu no Desfile dos Fortes de 2022
Clube Curuzu no Desfile dos Fortes de 2022. Crédito: Acervo do Clube Curuzu

O Desfile dos Fortes é marcado por carros alegóricos, fanfarras, cavalarias e o famoso buscapé — espécie de tubo de papelão, conhecido popularmente como tubete, utilizado para soltar os fogos. Aproximadamente um mês antes da celebração, os próprios soldados começam a confeccionar o objeto, que possui peculiaridades dos barrenses, como a utilização da própria pólvora.

A pólvora feita pelos fogueteiros barrenses é composta de carvão vegetal, originado de uma madeira extremamente leve, nitrato de potássio e enxofre. Para dar um brilho específico à comemoração do município, os soldados ainda acrescentam a limalha, pó feito da chapa de zinco.

Para produzir os buscapés, os clubes recebem o patrocínio da prefeitura de Barra, que destina um valor para a compra do material. No entanto, conforme Joaquim José, os soldados precisam colaborar com uma taxa de inscrição – valor de R$ 120 no Curuzu – para custear outros gastos do desfile.

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