sábado 21 de dezembro de 2024
Pesquisadores franceses procuravam metano, mas encontraram uma enorme reserva de hidrogênio - Foto: CNRS
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terça-feira 12 de dezembro de 2023 às 14:03h

Descoberta de hidrogênio subterrâneo poderá criar nova ‘corrida do ouro’ no mundo

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No início deste ano, o professor Jacques Pironon estava à procura de metano na Bacia de Lorraine, no nordeste de França, quando sua equipe fez uma descoberta inesperada.

A cerca de 3.000 metros de profundidade, eles encontraram um grande depósito de hidrogênio.

“É o que chamamos de sorte”, diz Pironon, diretor de pesquisa do Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS) da França, na Universidade de Lorraine.

Não muito tempo atrás, tal descoberta teria apenas despertado interesse acadêmico. Hoje em dia, ela gera um frenesi.

Isso porque muitos pensam que o hidrogênio será um combustível essencial nos próximos anos. Argumenta-se que esta poderá ser a chave para levar a economia global a zerar suas emissões de gases poluentes, uma vez que o hidrogênio não produz CO2 quando utilizado como combustível ou em processos industriais.

Menos de 1% da produção global de hidrogênio é isenta de emissões

Menos de 1% da produção global de hidrogênio é isenta de emissões – Foto: Air Liquide

Mas a grande desvantagem do hidrogênio é que, neste momento, a maioria das formas de produção não são nada verdes.

De acordo com o Carbon Trust, menos de 1% da atual produção global de hidrogênio é livre de emissões.

Existe o hidrogênio cinza — produzido pela divisão do metano em dióxido de carbono e hidrogênio (H2). O hidrogênio azul é produzido da mesma forma, mas o CO2 produzido é capturado e armazenado.

O hidrogênio negro é produzido pela queima parcial do carvão.

O hidrogênio verde — este raro 1% — é criado através da eletrólise da água em oxigênio e hidrogênio.

Mas o hidrogênio verde é relativamente caro e escasso, então qualquer outro tipo de fornecimento do gás sem emissões seria bem-vindo.

Conhecidos como hidrogênio natural, hidrogênio dourado ou hidrogênio branco, os depósitos naturais podem ser uma fonte importante.

Eles são produzidos de várias maneiras, mas o processo principal envolve a interação da água subterrânea com minerais ricos em ferro, como a olivina. Isso faz com que a água seja dividida em oxigênio, que se liga ao ferro, e ao hidrogênio.

A descoberta francesa não representa a primeira vez em que hidrogênio natural foi encontrado — já existe um pequeno poço em Bourakébougou, no oeste do Mali, e acredita-se também que existam grandes depósitos nos EUA, Austrália, Rússia e vários países europeus.

Descoberta francesa

Acredita-se, no entanto, que a descoberta na França represente o maior depósito natural do gás já encontrado. O professor Pironon estima que poderão existir 250 milhões de toneladas de hidrogênio, o suficiente para cobrir a atual procura global por mais de dois anos.

Deve haver muitos outros depósitos de hidrogênio a serem descobertos em todo o mundo — o Serviço Geológico dos EUA (USGS) estima milhares ou talvez bilhões de megatoneladas.

Nem tudo isto será facilmente explorável, adverte o geólogo pesquisador do USGS, Geoffrey Ellis, que modelou a quantidade de hidrogênio geológico.

“Este é o modelo global, e a grande maioria será inacessível — profundo demais ou longe demais do litoral, ou em acumulações que são muito pequenas para que o seu acesso se torne algum dia economicamente viável”, ele diz.

Mas o USGS estima que existam provavelmente cerca de 100.000 megatoneladas de hidrogênio acessível – e isso poderá representar centenas de anos de fornecimento.

As técnicas para extraí-lo, diz Ellis, “deveriam ser semelhantes às do gás natural. A tecnologia já existe”.

Embora a unidade de Bourakébougou, no Mali, seja atualmente a única instalação que produz comercialmente hidrogênio branco – ela só recolhe cerca de cinco toneladas por ano – há movimentos para explorar as reservas de forma mais ampla.

No início deste ano, a empresa de investimento Breakthrough Energy Ventures de Bill Gates investiu US$ 91 milhões (R$ 450 milhões) na start-up norte-americana Koloma, que pretende explorar reservas de hidrogênio branco nos EUA.

Já a empresa de prospecção Getech está à procura de potenciais depósitos em Marrocos, Moçambique, África do Sul e Togo.

Uma área importante é o sul da Austrália, que em 2021 adicionou o hidrogênio à lista de substâncias regulamentadas permitidas para exploração sob a Lei do Petróleo e Geotérmica de 2000, abrindo caminho para a exploração.

“Desde fevereiro de 2021, seis empresas diferentes solicitaram e obtiveram 18 licenças de exploração de hidrogênio dourado”, diz Suren Thurairajah, sócio de clima e sustentabilidade da Deloitte Austrália.

“A área licenciada é de 570.000 quilômetros quadrados, o que representa 32% do sul da Austrália.”

Mais recentemente, uma empresa chamada Gold Hydrogen anunciou a descoberta de um grande campo de hidrogênio natural na região, que espera colocar em produção no próximo ano ou no ano seguinte.

Até agora, os principais investidores no setor da energia permanecem contidos.

“Acho que as grandes empresas de petróleo estão muito interessadas, mas atualmente estão observando lateralmente, assumindo uma postura de esperar para ver. Estão deixando as start-ups assumirem o risco – pelo menos neste ponto, este é um empreendimento altamente arriscado”, diz Ellis.

“Assim que tivermos mais dados de produção de alguns destes poços, certamente veremos as principais empresas de petróleo e gás se movendo nesta direção.”

Um problema, diz ele, é que atualmente há falta de mercado para o hidrogênio nos EUA, reduzindo o incentivo à exploração.

De acordo com o grupo industrial Hydrogen Council, a Europa é líder global em propostas de projetos de hidrogênio, representando 35% dos investimentos globais, com a América Latina e a América do Norte representando cada uma cerca de 15% dos investimentos.

“Portanto, há uma espécie de problema do ovo e da galinha: os mercados não se desenvolvem realmente até verem a oferta, e a oferta não será realmente desenvolvida até que se veja o mercado”, diz Ellis.

Mas ele acrescenta: “Acho que tem a ver com o quanto esforço colocamos. Se realmente decidirmos que isso é algo que precisamos resolver rapidamente, acho que poderia acontecer”.

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