O apoio a Aécio Neves (PSDB)no segundo turno das eleições presidenciais de 2014, posicionamentos considerados comedidos e até acusações de abuso de poder são alguns dos motivos pelos quais a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, foi hostilizada no 5º Congresso Nacional da Rede Sustentabilidade. No domingo (16), o encontro do partido resultou conforme Luísa Marzullo, do jornal O Globo, na derrota do grupo de Marina, fundadora da sigla, contra a chapa da ex-senadora e sua aliada de longa data Heloísa Helena, que foi reeleita porta-voz — como são chamados os dirigentes da legenda.
A Rede foi lançada por Marina em 2013. Na ocasião, a legenda não se apresentou como governo nem oposição e lançou Marina como sua candidata a presidente da República no ano seguinte. Com dificuldade de reunir as assinaturas necessárias, no entanto, a Rede só obteve seu registro no Tribunal Superior Eleitoral em 2015. Foi quando Heloísa Helena migrou do PSOL.
A ascensão de Heloísa no partido em 2021, quando foi eleita pela primeira vez como porta-voz, começou a fortalecer a ala mais à esquerda. Entre os temas que separam as duas está a política ambiental, base teórica da Rede. Heloísa e seu grupo defendem o ecossocialismo, que associa a preservação do meio ambiente à mudança do sistema econômico. Já Marina se define como “sustentabilista progressista” — ou seja, não considera necessário o rompimento com o capitalismo.
Essas divergências inflamaram o congresso partidário, que ocorreu entre sexta-feira e domingo em Brasília. Militantes da chapa de Heloísa, “Rede Vive Pela Base”, puxaram o coro “A Rede que eu quero não votou no Aécio”. Em 2014, Marina disputou a Presidência pelo PSB, mas não foi para o segundo turno. Rompida com Lula, de quem já tinha sido ministra do Meio Ambiente, e alvo da campanha à reeleição da então presidente Dilma Rousseff (PT), ela optou pelo tucano no segundo turno.
No encontro da Rede, a oposição à ministra chegou a afirmar que ela teria oferecido cargos em troca de apoio político para a sua chapa “Rede Vive”, encabeçada por Joenia Wapichana e Giovanni Mockus. Outra acusação foi a de que ela seria “amiga de banqueiros”, em alusão a Neca Setúbal, que foi coordenadora de seu programa de governo na campanha de 2014.
Neste cenário, mesmo em viagem à China, a ministra compareceu virtualmente e se defendeu das críticas por quase dez minutos:
— Pergunto a cada um e a cada uma: alguma vez eu liguei para qualquer pessoa para insinuar sobre a honra de quem quer que seja aqui? Se disser que é verdade, é mentiroso. Já fui chamada de homofóbica, fundamentalista. Não é com rótulo, com conversinhas por trás, e palavras doces pela frente, que vamos ser diferentes.
Sobre a ala mais radical da Rede, a ministra afirmou que o partido “tem lugar para quem não é de esquerda”. O deputado Túlio Gadelha (PE) saiu em sua defesa e afirmou que a insinuação de que ela teria oferecido cargos seria uma “leviandade”.
A chapa de Heloísa Helena e Wesley Diógenes ganhou por 234 votos a 165. O grupo adversário defendia que não haveria Rede sem a figura de Marina Silva. Sobre o resultado, a ministra afirmou que saiu de lá “sangrando”. A ministra usou a imagem de um “bisão”, um bovino de grande porte, sendo atacado por leões por todos os lados para falar de como se sentia:
— Ele é muito forte, muito grande, mas ele morreu. Neste momento, saio daqui sangrando.