Deputados do PT ligados ao MST cobraram uma atuação mais firme do governo na CPI instalada na Câmara para investigar supostas irregularidades no movimento. O recado foi passado segundo Sérgio Roxo e Gabriel Sabóia, do O Globo, em reunião com o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, na manhã desta terça-feira.
Os parlamentares presentes alegaram que embora os fatos levantados pela oposição na comissão sejam antigos eles podem desgastar a imagem do governo federal. A avaliação entre os deputados é que a gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva está fazendo “corpo mole” em relação à CPI e pedem a abertura de diálogo com líderes partidários para não deixar o MST “exposto”. Aliados do governo nos embates com bolsonaristas, no âmbito do colegiado, parlamentares do PSOL também se queixam de ainda não terem sido convidados para uma reunião de alinhamento estratégico com o alto escalão do governo.
Tanto o presidente, o deputado tenente-coronel Zucco (Republicanos-RS), quanto o relator, Ricardo Salles (PL-SP), estão alinhados com o bolsonarismo. De acordo com um deputado que esteve na reunião com Padilha, a comissão deve criar narrativas para atacar o PT e criminalizar o movimento.
Apesar de manter uma relação histórica com o PT e com o presidente Lula, o MST foi alvo de críticas de integrantes do governo no mês passado por ter promovido uma série de invasões pelo país. Até uma área da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) em Pernambuco chegou a ser ocupada. O movimento, por sua vez, se queixava da gestão federal pela demora tanto para promover trocas nos postos de comando do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) nos estados como para a apresentação de um plano de reforma agrária.
Em relação à CPI, o entendimento do MST é que o governo poderia ter agido para que a comissão fosse comandada por parlamentares não tão vinculados ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Os deputados querem agora que a gestão Lula mobilize os partidos da base para tentar conter os danos.
– O governo vai atuar e teremos uma estratégia na CPI – disse o deputado Valmir Assunção (PT-BA).
Além de Assunção, também participaram da reunião com Padilha, entre outros, os deputados petistas João Daniel (SE), Nilto Tatto (SP), Dionilso Marcon (RS) e Camila Jara (MS).
Na última semana, já com a CPI em curso, membros do PT e PSOL se reuniram pela primeira vez com lideranças do MST e com interlocutores do governo. Apesar disto, os deputados presentes reclamaram do fato de não ter havido a presença de membros do primeiro escalão do governo e o reconhecimento à postura combativa que os psolistas vêm adotando desde o início dos trabalhos da comissão.
PSOL na linha de frente
Pressionado pelas primeiras derrotas sofridas na CPI do MST, colegiado dominado pela oposição, o governo montou uma estratégia que divide os seus representantes na comissão em diferentes núcleos de atuação: enfrentamento direto com a direita, elaboração de requerimentos e construção de um canal de diálogo com o relator, o deputado Ricardo Salles, integrante da bancada ruralista e ex-ministro de Jair Bolsonaro.
A necessidade de um plano ficou evidente quando foram aprovados convites para que dois ministros de Lula, Carlos Fávaro (Agricultura) e Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário), prestem esclarecimentos à CPI. A oposição também derrotou pedidos apresentados por governistas, que pretendiam colher informações sobre recursos públicos destinados ao agronegócio e sobre anistias a infrações e multas ambientais. A ausência de estratégia já provocou contratempos ao Planalto em outra comissão: integrantes da base já desistiram de participar da CPI dos Ataques Golpistas em função da falta de coordenação.